Mesmo no centro de uma possível perseguição dentro do Partido Verde, a deputada estadual Vanessa Damo tem fôlego para discutir a política regional. Em entrevista ao Diário, Vanessa deixou de lado as discussões sobre sua permanência no PV e fez críticas ácidas aos primeiros meses de gestão do prefeito Oswaldo Dias (PT) frente à Prefeitura. " A gestão do prefeito Oswaldo Dias é incompetente e inoperante. Existe muita reclamação e pouca ação para resolver os problemas", critica.

Em parte, as manifestações da verde buscam proteger seu pai, o ex-prefeito Leonel Damo, do furacão de denúncias feitas pela nova administração ao antigo chefe do Executivo. Entretanto, a parlamentar não esconde a intenção de futuramente ocupar a cadeira de prefeita. "Se ele (Oswaldo) deixar o banquinho para mim, eu encaro."

A deputada revela que não teme que a má avaliação do governo de seu pai possa atrapalha- lá. Para evitar críticas, Vanessa também não poupa Diniz Lopes, superintendente do Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) - que governou o município interinamente por 11 meses em 2005 - pela situação de calamidade da cidade.

DIÁRIO - Como você avalia esses primeiros meses de governo Oswaldo Dias?
VANESSA - É um grande absurdo. Vemos que o prefeito tenta colocar a culpa pela situação da cidade, principalmente em relação à Saúde, nas costas do governo do Estado ou do ex-prefeito Leonel Damo. Oswaldo precisa ser pró-ativo. Ele pegou uma Prefeitura com dificuldades, que passou por um momento traumático, que foi um ano de administração do prefeito Diniz Lopes. Ele gastou dinheiro sem nenhum tipo de consequência, responsabilidade, sem nenhuma preocupação com Lei de Responsabilidade Fiscal. Então, essas questões acabam atingindo diretamente a Prefeitura, mas têm solução. O prefeito só precisa parar de reclamar. Mas o que presenciamos é o fim de programas importantes, como a distribuição de material e uniforme escolar, o próprio contrato da merenda, a contratação de dois escritórios jurídicos sem licitação, com pouco tempo de intervalo, bem como o fim do Pacas (Programa de Amparo às Crianças e Adolescentes). Além disso há o fim da ginástica para a terceira idade e postos de saúde quase fechando por falta de funcionários. A cidade está um caos, porque existe alguém frente à Prefeitura que não se preocupa em atuar, em ir para cima para resolver as situações, que só lamenta. Então, nós lamentamos o que a cidade passa hoje. Acho isso preocupante.

DIÁRIO - Durante a campanha, Oswaldo bateu diretamente na gestão do seu pai. Você acha que corre o risco de pegar uma maré negativa, por conta das críticas do prefeito em relação ao mandato de Leonel Damo?
VANESSA - Na verdade, o prefeito Leonel Damo pegou uma herança de outras administrações. A Prefeitura passa sim por um momento difícil. Já passava antes, quando o poder estava na mão do meu pai e acho que o bom homem público é pró-ativo, vai procurar soluções, não vai lamentar. Inclusive, vários sequestros que a Prefeitura sofreu, por conta de quebra de ordem cronológica de pagamento, são reflexos da administração de oito anos do PT. Então, hoje, a gestão do prefeito Oswaldo Dias é incompetente e inoperante. Existe muita reclamação e pouca ação para resolver os problemas. E já que ele coloca claramente que não cumprirá o plano de governo, o que desrespeita o eleitorado, se hoje ele lamenta tanto, que pegue seu banquinho e saia de mansinho. Ele deveria fazer um trabalho propositivo. Se ele deixar o banquinho para mim, eu encaro, porque ele, só chora.

DIÁRIO - Mas o governo do seu pai foi muito mal avaliado na cidade. Você acha que isso pode prejudicá-la?
VANESSA - Acho que conseguimos diferenciar competência municipal e estadual. Avaliando meu mandato, como deputada, em dois anos, trouxe mais do que o dobro de coisas que outros deputados conseguiram em um mandato completo. Essa avaliação eu consigo. Quando se fala de trecho Sul do Rodoanel, que traz desenvolvimento para Mauá, é uma vitória que participei, que estive junto. O programa Acessa SP, que traz internet gratuita para o Jardim Zaíra, eu consegui no meu mandato. Mesmo que o Poupatempo, que por falta de diálogo e de vontade da Prefeitura de Mauá fique em Santo André, resguardei que ficasse no Grande ABC. Além disso serão duas Ames (Ambulatórios Médicos de Especialidades) na região. Temos que lembrar de que no Estado todo, de 645 municípios, por volta de 40 Ames serão instaladas e teremos unidades no Grande ABC.

DIÁRIO - Por que esses programas do Estado migram para Santo André?
VANESSA - A reclamação do governo é que a Prefeitura não dá retorno, mesmo com obras já em andamento, que foram paradas, como nos casos do Jardim Ipê, Chácara São Braz, da Avenida Castelo Branco, que é o maior bairro da cidade. Encaminhamos recursos, foi licitado e devem ser retomadas, precisam ser. Dentro da avaliação do meu mandato, só tenho de agradecer ao governo pelo empenho e as obras direcionadas pelo governador. Mesmo para a Saúde, mandei verba para instalação de sete salas de cirurgia no Nardini, além das recebidas pelas Santas Casas da região.

DIÁRIO - O prefeito alega que os problemas para trazer programas do Estado ocorrem por má vontade do governo em relação à Mauá. Como você analisa isso?
VANESSA - Ele está querendo aproveitar-se de um problema de incompetência para jogar tudo no colo do governador e do ex-prefeito Leonel Damo, como se tudo fosse culpa deles. Acho que é um trabalho complicado, mas existe competência do governo do Estado e agora ele tem de cobrar também do governo federal, que é do mesmo partido dele.

DIÁRIO - O que falta ao governo de Oswaldo?
VANESSA - Abrir diálogo. A falta dele fez com que ocorresse a quebradeira do MTST na Prefeitura. Política é, acima de tudo, abrir o diálogo com diversas frentes.

DIÁRIO - Como você vê o futuro da cidade nas mãos do PT?
VANESSA - Sem otimismo. Vejo a cidade em uma situação muito complicada, instaurou-se o caos na Saúde, e em diversos setores. Isso impacta na população. Esperava um pouco mais de empenho do prefeito, o que não está acontecendo. Enxergo uma grande incompetência no trabalho.