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Tradição faz Jurubatuba ponto forte
Andrea Catão
Do Diário do Grande ABC
15/08/2005 | 07:17
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Mesmo depois do advento – e da consolidação – de shoppings centers especializados na venda de móveis e carros, manter comércio desses ramos na rua Jurubatuba, no Centro de São Bernardo, ainda é considerado bom negócio. Em meados da década de 60 até o início dos anos 80, a rua era referência em móveis, principalmente porque a maioria dos estabelecimentos não só comercializava os produtos, mas também os fabricava. Hoje, são poucos os que mantêm fabricação própria, pois nos últimos anos o Sul do país tem alimentado o mercado interno brasileiro com a produção de móveis em larga escala. A reportagem sobre a rua Jurubatuba abre a série que o Diário publica a partir desta segunda-feira sobre os principais corredores do Grande ABC.

"Antigamente, referência em móveis era a rua Jurubatuba e a Teodoro Sampaio, em São Paulo. Tinha variedade e a maioria era loja de fábrica. Mas foram criadas muitas indústrias no Sul, bem maiores do que as que tínhamos em São Bernardo. Com isso, foram abertas lojas em várias regiões do Estado, sem contar a construção de shoppings especializados", diz Regina Zanon, gerente da loja A Especialista.

Hoje, a Jurubatuba não é mais um pólo de atração de consumidores como no passado. A clientela é basicamente regional. Para sobreviver no ramo, as lojas criaram filiais em outras cidades da Grande São Paulo. "A maioria dos estabelecimentos mantém lojas menores em shoppings (Lar Center, Shopping Lar, entre outros), mas concentra a maior parte dos artigos em exposição na Jurubatuba, pois o ponto comercial é bom", acrescenta Regina, que há 22 anos trabalha no setor.

Embora as lojas não tenham mais fabricação própria, não deixam de vender produtos exclusivos. As empresas do Sul, como as localizadas nas cidades de Gramado e Canela, fabricam móveis restritos para cada estabelecimento. Portanto, é raro encontrar um móvel idêntico em mais de uma loja da Jurubatuba.

No entanto, ainda é possível encomendar móveis sob medida na rua comercial. Um exemplo é a Santa Emília Móveis, especializada na venda de dormitórios. "Temos muitos artigos em exposição para compra imediata, mas nosso forte ainda é a venda de dormitórios planejados. Também distribuímos móveis em outras lojas", diz o vendedor João Campiotto. Ele acrescenta que até meados dos anos 80 manter uma loja no corredor comercial era muito mais rentável. "Mas a Jurubatuba continua a atrair gente de outras cidades. O ponto comercial ainda vale muito."

É o que também diz a gerente da Quarto & Quartinho, Maria Cristina de Oliveira. "É claro que no passado vinham consumidores até de outros Estados, mas continuamos a atender pessoas da Baixada Santista e da Grande São Paulo. É difícil ver uma loja baixar as portas. Há quem não quer mais trabalhar no ramo e passa o ponto, mas quem compra não fica no prejuízo."

Em toda a extensão da Jurubatuba, cujo início é na praça Samuel Sabatini, apenas uma loja vende móveis em vime e bambu. Há 38 anos fabricando e vendendo artigos do gênero, o proprietário da Bel Vime Decoração, Marco Antonio Castro Correia, diz que montou lojas em outras cidades do Estado, mas não abandona o ponto em São Bernardo. "Mesmo que São Bernardo não seja mais um pólo moveleiro, a fama perdura."

Usados – Nos primeiros quarteirões da rua se concentram lojas de móveis e de artigos para dormitórios de bebês, mas a partir do centro da Jurubatuba, até a confluência com a avenida Faria Lima, o que se vê são lojas que comercializam carros usados. "O comércio de carros não anda muito bom, mas é por causa da crise política que o país atravessa. O mensalão tem atrapalhado os negócios. Como vendemos carros usados, a maioria financiado, os clientes têm receio de fazer dívidas porque têm medo de que os juros vão aumentar. Vendo uma média de 20 carros por mês, mas até o fim de agosto não devo vender mais do que dez", diz Aroldo Lopes, da Superauto Multimarcas.

  

Fazenda – No século XVI, a Fazenda Jurubatuba, que deu nome à rua, pertencia aos monges beneditinos. A área foi desapropriada em 1877 pelo governo do império para a criação de núcleos coloniais que receberiam os italianos. Na época, também existia a Fazenda Tijucussu, hoje São Caetano, e da Borda do Campo, atualmente São Bernardo.

Na época, as colônias foram divididas em várias linhas, dentre elas a Linha Jurubatuba, que ia desde a rua Tenente Sales, no Centro, até o bairro Assunção. Com o desenvolvimento da cidade, a linha foi perdendo o seu traçado original, só restando a rua Jurubatuba. No início do século passado, as primeiras indústrias moveleiras começaram a se instalar no corredor. O comércio, porém, se consolidou bem mais tarde, em meados da década de 60. Na época, a maioria dos comerciantes eram provenientes de famílias italianas e espanholas. Na década de 80, porém, muitos venderam o comércio, hoje predominantemente tocado por libaneses.




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