De observar o contínuo esvaziamento do São Francisco, o cantor e compositor Geraldo Azevedo trocou a preocupação que mantinha há anos pela saúde do Velho Chico pela ação. Tirou do bolso série de canções (grande parte de sua autoria mesmo) que contempla o maior rio brasileiro - nascido e findado em território nacional - e lançou "Salve São Francisco" (Biscoito Fino, R$ 34,90 o CD e R$ 44,90, o DVD).

Fonte de inspiração que passeia pela metáfora como se fosse ao largo do seu caudaloso leito, o Rio São Francisco é resgatado no trabalho através de seus principais clássicos musicais, entre eles 'Barcarola do São Francisco' (Geraldo Azevedo e Carlos Fernando), 'Francisco Francisco' (Roberto Mendes e Capinan), 'Riacho do Navio' (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) e 'O Ciúme' (Caetano Veloso).

Alceu Valença, Djavan, Dominguinhos, Fernanda Takai, Geraldo Amaral, Ivete Sangalo, Márcia Porto, Maria Bethânia, Moraes Moreira, Roberto Mendes e Vavá Cunha emprestam a voz ao projeto e dão, cada um, um tom diferente e especial às composições. Robertinho do Recife, responsável por parte dos arranjos, confere à obra um belo acabamento estético.

"Já diante da minha casa em Petrolina, no passado, o rio era grande. Lembro de três enchentes fantásticas, que chegaram a cobrir as árvores e a gente tendo de atravessar a barco, com meu pai não deixando que nós puséssemos as mãos nos troncos, por causa das cobras entocadas", relembra Azevedo do tempo de abundância do Velho Chico.

"‘O Rio São Francisco vai bater no meio do mar' (da canção 'Riacho do Navio') já não é mais realidade. Antes, o Velho Chico entrava 30 quilômetros dentro do mar, hoje, é o mar que invade o rio", compara o artista com a paisagem presente, citando que o assoreamento, a devastação da mata ciliar, a construção de barragens e a poluição que desagua no rio são responsáveis por sua ruína.

COMPÊNDIO
Entremeado por imagens diversas do Rio São Francisco, que resgatam muito da importância que tem para os povos que vivem à sua beira, principalmente no Nordeste, o DVD traz os encontros em estúdios, todos realizados em diferentes paragens e ocasiões.

Fernanda Takai, em 'Opara (Salve São Francisco)', traz ao suave samba um delicioso toque de bossa nova. Ivete não engrena na fluidez de 'O Ciúme'.

Djavan, na opulenta releitura de 'Barcarola do São Francisco', se destaca ao lado de Alceu Valença, que retoma o vigor de 'Riacho de Navio' na adaptação mais modesta do forró de Gonzagão e Zé Dantas.

Maria Bethânia, única que só aparece em voz no vídeo - trazendo com sua interpretação os inconfundíveis arranjos do violão do seu maestro particular Jaime Alem -, empresta lirismo à 'Carranca que Chora'.

Há até um momento 'We Are The World', em que mosaico dos intérpretes que participaram do projeto preenche a tela e a música 'São Franciso Help'; e na hora em que coro de crianças participa de 'São Francisco São', ao lado de Azevedo e da cantora Márcia Porto. Mas esse momento kitsch é o de menos. É tudo por uma boa causa.