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Renda de pedreiros chega a R$ 8.000
Vinicius Gorczeski
Especial para o Diário
23/04/2011 | 07:17
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A falta de trabalhadores da construção civil no mercado de trabalho trouxe benefícios para quem vive do ramo. O presidente do Sindicato Solidariedade (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil e Mobiliária), Edson Luiz Bernardes, afirmou que há pedreiros, por exemplo, que conseguem atingir renda de até R$ 8.000 em um mês. "Mas tem que ser muito bom", diz Bernardes.

O piso da categoria na região é de R$ 1.000, segundo a diretora adjunta do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil), Rosana Carnevalli. Porém, em São Caetano os valores são R$ 140 maiores, informa o sindicalista.

A justificativa para ganhos até oito vezes mais do que o piso salarial tem vários motivos. Hoje em dia, é muito mais vantajoso para o profissional trabalhar sem vínculos com empreiteiras, que lutam para manter um pedreiro bom contratado, segundo uma empreiteira de Mauá ouvida pelo Diário.

 "É muito desvantajoso, porque quem ganha é o patrão, e não você", reclama o pintor Daniel Faustino dos Santos.

 "O piso é muito baixo e as empreiteiras pagam por tarefa dentro dessa margem. O pedreiro ganhando R$ 1.700 por mês (por fora) não recebe os encargos sociais", explicou Bernardes, ao acrescentar que isso dá uma falsa ideia de que o profissional ganha mais. Assim, as empreiteiras também ganham - na produtividade e nos custos com mão de obra.

Essas despesas, que cresceram até 65,8% no rendimento médio por hora no Estado - por exemplo para mestre de obras (veja arte acima) - oneram ainda mais o cliente.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o custo para erguer uma casa popular, com dois quartos, banheiro, cozinha, com acabamento básico, ficou 7% mais caro desde março de 2010. O que tem proporções muito maiores no fim da obra.

Bernardes diz que um pedreiro autônomo cobra em média R$ 100 por m² construído. Valor que sobe numa média de R$ 400 em uma empreiteira, no Grande ABC.

Isso significa que apenas para erguer as paredes se gasta cerca de R$ 13 mil para uma casa de 80 m² - isso sem acabamentos e sem falar dos gastos com material de construção, que também tiveram inflação elevada nos últimos meses.

O mestre de obras Vicente Veríssimo é um dos que pegaram carona na escassez de trabalhadores e, atuando por conta própria, consegue salário de R$ 6.000 - no caso de atuar em duas obras, com uma equipe de cinco pessoas em cada. Porém, ele revela que muitas vezes encontra dificuldades para encontrar profissionais qualificados para compor a equipe, tendo assim, que dispensar obras. "Acontece, mesmo eu conhecendo a praça há 30 anos", reclama Veríssimo.

Mas é inegável que, nesse ponto, o apagão foi positivo à categoria. "Hoje tem mais obras e com o salário dá para ter um vida melhor", define outro mestre de obras, Moisés Alves Santana.

Entidades investem na formação de profissionais

Com a escassez de trabalhadores, a necessidade de qualificação está na pauta da categoria dos profissionais da construção civil. Rosana, do SindusCon-SP regional, afirmou que há parcerias com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) a fim de qualificar essa mão de obra.

No Grande ABC, ela representa 43 mil trabalhadores - ante os 39 mil computados em 2009. "Porém, a quantidade de pessoas se especializando hoje é muito pequena frente à demanda no mercado. Há muita gente desempregada que não consegue emprego porque não tem formação", destaca Rosana.

O mestre de obras Veríssimo ainda acrescenta que os jovens dificilmente se interessam pelo ramo, restringindo ainda mais o leque de mão de obra. "Infelizmente esse é um trabalho dos antigos". No Brasil, são 2,7 milhões de trabalhadores na construção civil com carteira assinada, segundo o Ministério do Emprego. "Para conseguir sanar esses deficits é necessário essa especialização, pois já existem muita obras com atraso por falta de profissionais", diz Rosana.




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