Voluntários levam pequenos para passar festas em família;
tanto pequenos quanto adultos comemoram a experiência
Um ato de amor e generosidade mudou a rotina de crianças que vivem em abrigos temporários em Santo André. Acolhidas por famílias solidárias durante as festas de fim de ano, elas passarão os próximos dez dias vivenciando a rotina de se ter um lar.
Os nove abrigos da cidade são mantidos pela Instituição Social Brasil Novo e abrigam 165 crianças. Cinquenta delas, cerca de 30%, terão a chance de conviver com pais, mães, irmãos e tios ‘postiços'. A experiência é comemorada tanto pelos pequenos quanto pelos adultos e é capaz de modificar a vida e os sentimentos dos dois lados.
Para quem perdeu o contato ou pouco se relaciona com a família de origem, tudo é motivo de festa. Em entrevista ao Diário, as crianças contaram o quanto gostam desta época do ano.
A expectativa pelos presentes e pelo encontro com a família acolhedora deixa cada um em contagem regressiva.
"Os tios são sempre muito legais. A gente gosta muito quando eles nos visitam. Mas a melhor parte sempre é passar o Natal fora, porque sempre fazemos passeios e ganhamos presentes e atenção", disse uma delas.
Os interessados cadastrados no projeto passam por entrevista com a psicóloga e com os coordenadores das casas, e normalmente já são voluntários na instituição.
As crianças liberadas para participar do programa chegaram ontem aos lares provisórios e retornam ao abrigo apenas no dia 2.
"É uma iniciativa maravilhosa. Já participo do grupo há dois anos e garanto que é uma experiência de amor sem fim. O difícil é levá-las de volta para o lar", contou a vendedora Claudineia Queiroz, 41.
A experiência é contagiante e o número de pessoas que se dedicam a alegrar o Natal dessas crianças é cada vez maior.
Há cinco anos o administrador de empresas Felipe César Pereira, 28, participou de festa no Dia das Crianças. Depois disso, reuniu amigos e procurou instituição para colaborar. Foi quando encontrou o Lar Em Busca de Sonhos, uma das nove casas mantidas pela Brasil Novo.
"Nosso objetivo é simplesmente fazer o bem. Começamos com uns dez amigos e hoje já temos equipe de quase 50. Nas festas levamos doces, presentes e o mais importante, muito carinho", explicou Pereira.
Durante todo o ano, a instituição promove eventos de aproximação entre crianças e padrinhos (pessoas que contribuem com doações ou simplesmente com visitas), como festas comemorativas e entrega de sacolinhas.
Os bebês também são beneficiados pelo programa, mas saem apenas para as casas dos educadores do instituto.
De acordo com Claudineia, cria-se relação afetiva com a criança e é praticamente impossível buscá-las apenas para as festas.
"Eu me apeguei tanto a uma das crianças que entrei com processo de adoção. Tenho uma filha de 18 anos e ela também queria muito. Mas o garoto já foi adotado. Ao menos terei a oportunidade de me despedir dele neste Natal", destacou Claudineia.
A expectativa pela chegada dos visitantes contagia a família da assistente social Eliane Cristina Monteiro, 48, que já participa do programa há dois anos.
"Aqui em casa todos ficam ansiosos pela chegada da criança. A minha filha tem 4 anos, a mesma idade da menininha que pegamos. Elas já são grandes amigas, meu marido e eu a levamos para passeios e já conseguimos liberação da juíza para que ela possa viajar com nossa família", explicou Eliane.
Para tornar-se uma família solidária, basta procurar o Brasil Novo (www.brasilnovo.org.br) e se cadastrar para participar do projeto.
Situação temporária deve ser bem esclarecida
As crianças que vivem em abrigos temporários estão, em sua maioria, em situação de risco pessoal, que englobam maus-tratos, doenças graves em que a família não tem condições para arcar com os custos do tratamento e diversas situações de violência.
Para que os menores recebam autorização para sair com famílias solidárias, é necessário que tanto a criança quanto os voluntários estejam preparados para encarar a situação provisória.
Se a relação não estiver claramente estabelecida entre os envolvidos, pode resultar em uma experiência negativa para ambos.
Para a neuropsicóloga infantil Fabiana Jacopucci, a iniciativa possibilita às crianças uma maneira diferente de enxergar o mundo, mas é necessário que fique claro para os pequenos que trata-se apenas de um passeio.
"É muito importante que tudo fique claro no início. As famílias devem tratar a criança como se fosse um sobrinho, e não um filho. Isso diminui a possibilidade de frustração e a sensação de abandono", explicou Fabiana.
De acordo com a coordenadora geral do Instituto Social Brasil Novo, Mari Terezinha Cubas, há um intenso trabalho de conscientização das crianças e das famílias, esclarecendo a situação.
"As famílias normalmente já são voluntárias e participam de eventos nas casas. Sabem que não é saudável criar vínculos com as crianças", destacou Mari.
De acordo com a coordenadora do instituto, a iniciativa faz com que os menores fiquem mais felizes.
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