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Líderes religiosos da região se dividem sobre reabertura de templos durante a pandemia

Alguns acreditam que o momento é de preservar a vida e exercer a fé em casa; outros dizem que o contato com os pares religiosos é essencial para atravessar momento difícil

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
09/04/2021 | 15:57
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Um dia após o STF (Superior Tribunal Federal) decidir, por 9 votos a 2, que Estados e municípios têm autonomia para proibir a realização de missas e cultos presenciais durante a pandemia de Covid-19 por meio de decreto, líderes religiosos do Grande ABC divergem sobre a determinação. Para alguns, mais do que frequentar um prédio religioso, é necessário preservar a vida. Já outros acreditam que a religião e o contato com os pares é essencial para atravessar o momento difícil que a sociedade vive.

Cássio Ribeiro, presidente da Federação de Umbanda e cultos Afro-brasileiros de Diadema e dirigente espiritual da Tenda de Umbanda Caboclo Ubirajara e Exu Ventania, diz que a entidade e as demais federações irmãs são totalmente favoráveis ao fechamento de templos nesta fase difícil da pandemia. “Além de ser presidente da federação, também sou pai de santo e tenho meu terreiro. Com muita tristeza a gente está fechado há mais de um ano. É lógico que a gente sabe que todos precisam de amparo espiritual de qualquer religião que seja, mas este amparo pode se dar não só presencialmente, porque o vírus não escolhe cor, raça, religião, partido político, ele ataca democraticamente e mata todos em qualquer faixa da população que você possa imaginar. É um absurdo alguém que tem a função de ser um dirigente espiritual, de amparar as pessoas em um caminho de paz, defender que haja uma reunião de pessoas”, acredita. Para ele, este tipo de conduta não corresponde a fé, mas fanatismo religioso. “Como sacerdote tenho como obrigação defender o dom da vida e somente com a vacina isso vai passar”, acrescentou.

Pastor da Igreja Rebentos de Oliveira, de Santo André, Mauriam Galdino Costa, diz desconfiar do que está por trás da decisão do STF. “Discordo inteiramente (da determinação). Acredito que a motivação não é essa que se diz (disseminação do vírus). É politica. Por trás tem um projeto de derrubar um outro poder, acredito também que quer se fazer o caos para que se crie uma narrativa. A motivação não é bem essa de saúde. Mesmo a contagem do número de mortos... Eles podem fechar os templos, mas não podem fechar a igreja de Jesus. Nós trabalhamos na vida das pessoas, entramos nas casas, oramos pelos enfermos, ajudamos quem precisa e não por projetos pessoais, mas para mostrar para as pessoas que não estão desemparadas. As paredes dos templos estão fechadas, mas não a igreja”, conclui.

Victor Azevedo, pastor da igreja Por Amor, de São Caetano, acha inadmissível que se defenda cultos religiosos neste momento. “Inclusive me entristece muito essa luta evangélica para reabertura dos templos em um momento como este da pandemia. Me soa até como desrespeito à vida das pessoas, das famílias enlutadas e a dignidade humana. O que mais de sagrado temos no mundo não é templo, é a vida humana. A imagem de Deus está no ser humano e não no templo. Fazer o que estão fazendo, ir atrás deste direito constitucional de templos abertos e levando isso tudo como perseguição à religião, à Jesus, perseguindo a igreja isso é muito contraditório. É tratar o evangelho de Jesus com muito desprezo. Porque Jesus supera a religião.” Segundo Azevedo, o momento pede solidariedade, chorar com os que choram, e que a igreja estar viva com o templo fechado.

Já a sinagoga do bairro Casa Branca, em Santo André, liderada pelo rabino Yosef Tawil, abriu por algumas vezes durante a pandemia. O líder religioso disse que, neste período, foram seguidos os protocolos de saúde necessários para evitar a disseminação do vírus. Mas, com a chegada da segunda onda, o templo foi fechado. “Porque existe dentro do judaísmo uma determinação de que temos de cuidar da saúde. É uma obrigação cuidar do nosso corpo, não colocar em risco a vida. Por enquanto a gente está fechado e vamos seguir o que as autoridades e a federação israelita determinarem”, adianta.

Já o sheik e vice-presidente da UNI (União Nacional das Entidades Islâmicas), Jihad Hassan Hammadeh, acredita que os templos religiosos fazem um trabalho que nenhuma outra entidade consegue fazer. “Que é ajudar espiritual, emocional e mentalmente as pessoas, principalmente em situações de necessidades, calamidade, de perda de tristeza e a nossa sociedade necessita muito desse apoio. Porém, este apoio vem também dos templos religiosos, mas isso tem de ser regrado, com as normas estabelecidas pelos órgãos de saúde, governamentais.” Para ele, havendo equilíbrio não tem razão para fechar os prédios religiosos. “Tem de haver um meio termo. Nem fechar tudo, nem abrir de forma descontrolada. Tem de haver protocolos, mas os templos são essenciais à sociedade. As decisões têm de ser nesta direção”, finaliza. 




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