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Pesquisa acirra ânimos entre PT e PSDB e aliados
Por Do Diário do Grande ABC
04/03/2005 | 14:26
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Pesquisa do Instituto Brasmarket publicada quinta-feira no Diário acirra e antecipa disputa eleitoral à Presidência da República no ano que vem. É o que se conclui a partir das declarações de prefeitos, deputados federais e estaduais do Grande ABC sobre os números: o governador Geraldo Alckmin (PSDB) tem melhor desempenho no Grande ABC em comparação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas perderia para o petista em eventual segundo turno nas eleições para presidente, o que adianta quadro que já era delineado em 2002, quando começou a polarização PT-PSDB na região.

Na avaliação de desempenho, Alckmin consegue diferença de 3,5 pontos percentuais sobre Lula – o tucano tem 60,1% de aprovação contra 56,6% de Lula. Entretanto, em pergunta sobre a intenção de votar num dos dois candidatos em possível segundo turno presidencial, Lula está na dianteira, 1,5 ponto percentual à frente do governador – 35,2% contra 33,7%. A margem de erro é de três pontos percentuais.

O resultado atiçou ânimos dos escudeiros dos palácios do Planalto e dos Bandeirantes. Dos dois lados, adversários políticos são taxados de incompetentes e vitórias são comemoradas.

O prefeito de São Bernardo, William Dib (PSB), declara que o governador Alckmin tem sido grande parceiro para a solução de diversos problemas da cidade. Nesta sexta-feira, os dois inauguram o piscinão da Paulicéia. “Fico muito satisfeito em ter sido escolhido pelo governador o interlocutor da região, pois isso demonstra sua boa intenção para com as questões regionais”, alega Dib, ao citar como exemplo o anúncio do início das obras do trecho Sul do Rodoanel, que beneficiará não só o Grande ABC, mas todo o país. “A popularidade do governador detectada na pesquisa Brasmarket é merecida e fruto de um trabalho sério”, completou Dib, que não comentou a parte eleitoral.

Para o prefeito de Santo André, João Avamileno (PT), o levantamento faz diagnóstico importante e tem de ser respeitado. A boa avaliação dos administradores reflete os investimentos feitos por ambos na região, reflete o petista, com uma ressalva: “Acho que o Alckmin poderia ter investido mais. Durante o período do governo Mário Covas (1998-2001), houve atenção ao Grande ABC”. “Mas reconheço também que o Alckmin tem investido e tem estado presente na região, assim como o governo Lula. A pesquisa demonstra esse reconhecimento”, diz.

Descrédito do PT – “O Lula perde na nossa região porque conhecemos ele, quanto mais se conhece, menos se vota nele”, dispara o prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV). O verde acredita que a pesquisa apresentada pelo Diário reflete fielmente o sentimento do Grande ABC em relação ao governo do PT. “Tanto conhecemos que o PT perdeu na última eleição”, comenta, numa referência à diminuição da legenda nas prefeituras da região. Hoje, apenas Diadema e Santo André estão sob comando de petistas, contra cinco na legislatura anterior (2000/2004).

Para o deputado federal Edinho Montemor (PL) a pesquisa revela o bom governo que Lula e Alckmin estão fazendo. “Existem méritos dos dois”, comenta ao fazer ressalva em relação ao presidente: “Houve frustração do que Lula falava, da expectativa que se gerou e que acabou não acontecendo”. O liberal destaca como principal problema do governo federal a manutenção da política de juros altos e os programas sociais que ainda não decolaram.

Campanha – Os deputados federais Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), e Professor Luizinho (PT) avaliam o bom desempenho do governador como resultado de vitória da estratégia publicitária. “O governo estadual tem feito muitas propagandas, muito mais que o governo federal”, afirma Vicentinho. “A popularidade dele (Alckmin) é fruto do marketing, mas a realidade supera o marketing”, crava Luizinho, que considera injusto o tratamento dado pela imprensa às ações de Lula e Alckmin. Segundo Luizinho, o governador vende o que não faz.

“A assinatura do contrato do Pólo Petroquímico de Capuava foi feita no Rio de Janeiro para evitar que Alckmin fosse visto como o grande autor daquilo, já que a Petrobras do Fernando Henrique Cardoso foi contra”, acusa Luizinho. Segundo o líder do governo em Brasília, Lula faz pelo ABC o que a região historicamente reivindicou e o Estado nunca proporcionou, mas isto passa batido pela imprensa, que favorece o governador com uma exposição injusta. “Por isso, ele acaba tendo três pontinhos acima do Lula. Mas na hora do voto, o que vale é a verdade, e o povo do ABC vota em quem faz por ele”, acredita Luizinho. Vicentinho acrescenta que também pesa em favor de Lula o aumento no nível de emprego durante seu governo. “Reflete no voto.”

O deputado estadual Vanderlei Siraque (PT) não se surpreende com o resultado. “Lula tem praticamente o mesmo desempenho no Estado, mas mais forte nos outros 26 também. Ganhar eleição a meu ver não é novidade, é só comparar mandatos de Lula e FHC e a gente vê superioridade em todos os aspectos”, comenta. Precavido, o deputado estadual Mário Reali (PT) acredita que a pesquisa antecipa demais a discussão eleitoral. “O Lula e o Alckmin estão no meio do mandato”, argumenta. Na avaliação sobre o resultado dos desempenhos de Lula e Alckmin, Reali acredita que a mídia favorece o governador, por falta de exposição e predominância da pauta nacional. “As grandes polêmicas estão em Brasília.”

Reali entende que o governador isenta-se de responsabilidades iminentemente estaduais. “O Alckmin é um bom alquimista, consegue transformar problemas do Estado em demandas nacionais”, alfineta. Como exemplo de fuga do foco da responsabilidade, o parlamentar cita a mobilização de Alckmin para que o governo federal investisse no Rodoanel e a questão da Febem. “Agora, o problema da Febem é porque funcionários estão boicotando ação do Estado.”

Maquiagem X seriedade – A deputada estadual Ana do Carmo (PT-São Bernardo) atribui o desempenho do governador Geraldo Alckmin à habilidade de aparecer do tucano. “Ele sabe maquiar muito bem para se sair nas pesquisas”, afirma. E observa que o governo Lula erra nesse quesito, daí os resultados serem mais desfavoráveis, apesar dos investimentos recebidos na região. “Noventa por cento dos investimentos que o Lula coloca no Grande ABC fica como se fossem conquistas do governador e dos prefeitos. O governo federal erra na divulgação”, resume.

Já para o deputado José Dilson (PDT–Santo André) Alckmin transmite seriedade frente ao governo, e a avaliação reflete principalmente o resultado deste trabalho no Grande ABC. “O governador tem destaque por causa da inauguração do hospital Mário Covas e no combate às enchentes”, enumera o pedetista.

Melhor que FHC – O deputado estadual Donisete Braga (PT-Mauá) acredita que Lula irá crescer ainda mais nas próximas pesquisas porque o PT divulgará comparativo entre o governo petista e o do tucano Fernando Henrique Cardoso, aliado do governador Geraldo Alckmin. “O processo eleitoral se faz com comparação. Em dois anos de governo, Lula já investiu quatro vezes mais que FHC em oito anos de mandato”. Donisete diz ainda que Alckmin aparece ligeiramente na frente porque além de disputar a reeleição em 2002 ainda teve presença forte na bem sucedida na campanha de José Serra (PSDB), que ganhou a Prefeitura de São Paulo.

Por estar há mais tempo no poder, o governador leva ligeria vantagem sobre Lula, afirma o deputado federal Wagner Rubinelli (PT-Mauá). “Em seis anos dá para realizar muito mais do que em dois anos. Alckmin teve mais tempo para executar seus projetos”.

Alavanca – Aliado de Alckmin na Assembléia, Orlando Morando (PL) vê na pesquisa mais uma derrota de Lula em seu berço político. “O governador é muito mais presente e tem efetivado ações importantes na região, como o Rodoanel, a Fatec em São Bernardo, e o hospital Mário Covas, em Santo André”. O parlamentar acrescenta que a representação do presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, William Dib, é fator auxiliador para a aprovação da gestão Alckmin. “Indiscutivelmente, a figura do Dib puxa para cima a imagem governador na região, já que os dois têm uma ótima relação”. Giba Marson (PV) endossa a opinião de Morando.

Em Brasília e em São Paulo, silêncio. A secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência da República requisitou cópia da reportagem e no início da noite informou sinteticamente que é política do Palácio do Planalto não comentar pesquisas de opinião. A assessoria de comunicação do governador não enviou resposta oficial até o fechamento dessa edição.



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