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Uma casa no meio do caminho
Do Diário do Grande ABC
29/10/2004 | 10:07
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A propriedade privada como insígnia da identidade - é o que tem a oferecer Casa de Areia e Névoa, primeiro filme do diretor russo Vadim Perelman, realizado nos Estados Unidos e lançado nesta sexta em São Paulo. Se o leitor é daqueles vorazes, que costuma decodificar de cabo a rabo as listas dos concorrentes ao Oscar, lembra deste longa-metragem que teve indicados o ator Ben Kingsley, a atriz Shohreh Aghdashloo e a trilha sonora. Não ganhou nenhum, embora não cairia mal uma estatueta na estante da casa da iraniana Shohreh, incorrigível no papel de dona de casa, secundário mas pulsante, mesmo nas fragilidades.

Os protagonistas competem a Kingsley e a Jennifer Connelly. Ele, um ex-militar iraniano de alta patente chamado Behrani, em asilo nos Estados Unidos com a mulher (Shohreh) e o filho adolescente (Jonathan Ahdout), refugiados do Irã. Compra uma casa em leilão público por um quarto de seu valor venal. Pensa no imóvel como um negócio, que pode render-lhe quatro vezes a quantia que desembolsou. Por sua vez, a residência foi tomada de Kathy (Jennifer), faxineira que sonegou impostos correspondentes à construção. A inadimplência custou-lhe o lar que herdou do pai, morto recentemente.

Perelman instala-se nessa diferença de acepções dos sujeitos sobre o mesmo objeto. Para Behrani, a casa é um investimento que representa o começo do itinerário rumo à vida ostensiva que gozava no Irã. Para Kathy, é o assentamento de reminiscências que legitimam sua existência, paredes que guardam o que ela foi e não é mais (pois perdeu pai e marido desde então). Agora sobra-lhe o envolvimento com um policial truculento e casado (Ron Eldard).

O duelo instala-se entre a afeição e o capitalismo, entre a identificação familiar e a especulação monetária em torno dela. A ambiência de Perelman é vaga, calculista, estável demais no fogo cruzado entre o torpor da desesperada Kathy e a autoconfiança do convicto Behrani. Em boa parte de Casa de Areia e Névoa, falta o elã da tragédia que arremata a obra.




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