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Gonçalo M. Tavares vence Portugal Telecom
18/10/2007 | 07:03
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Antes de ser anunciado anteontem vencedor do 5º Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, Gonçalo M. Tavares, 37 anos, preferia silenciar sobre o favoritismo. “A literatura serve para iluminar a maldade, um assunto ainda por entender”, era o que falava sobre sua obra Jerusalém.

Depois de premiado, indicou o que toda sociedade teria a dizer a si mesma: “Estar atento e não te esqueças.” Para ele, as coisas mais estúpidas se repetem se não se der a devida atenção à história. “Ninguém está afastado de ser o portador do mal.”

Logo depois, durante o discurso sobre as mudanças na premiação, que pela primeira vez permite literatos estrangeiros de língua portuguesa, o presidente do Grupo Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, anunciou, sem revelar o nome, sua preferência por “um” dos três autores vindos de fora do Brasil – o moçambicano Mia Couto e o angolano Ondjaki também concorriam –, mas essa meia inconfidência não estragou a surpresa.

ACORDAR NA DITADURA

O júri final do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, um dos mais importantes do País ao lado do Jabuti, privilegiou uma temática comum, apesar dos estilos diversos dos três premiados. Jerusalém (Companhia das Letras), Macho não Ganha Flor (Record), de Dalton Trevisan, e História Natural da Ditadura (Iluminuras), de Teixeira Coelho, falam de um universo no qual se apresentam a brutalidade, a violência e o horror.

Trevisan levou R$ 35 mil pela coletânea de 22 contos nos quais desfila uma legião de monstros morais. Sua ausência foi justificada em um texto escrito, no qual afirmou que não há “nada a dizer fora dos livros”, “o conto é maior do que o contista” e “quem me dera o estilo do suicida no último bilhete”.

Em História Natural da Ditadura, pelo qual recebeu R$ 15 mil, Teixeira Coelho luta contra a desmemória do brasileiro a respeito da ditadura militar e a ligeireza em dizer que o autoritarismo está extinto. “Podemos dormir com a democracia e acordar na ditadura.”

PORTADOR DO MAL

O objetivo de Teixeira Coelho é “tentar evitar que algo aconteça”, intenção parecida com a de Gonçalo M. Tavares, que ganhou R$ 100 mil. “Daqui a quatro meses, não sei em que condições estarei, eu posso ser um portador do mal”, diz o português.

Jerusalém compõe a tetralogia Reino – Um Homem: Klaus Klump, A Máquina de Joseph Walser e o inédito Aprender a Rezar na Era da Técnica. Ele trata o corpo como morada da dor. Os impulsos de seus personagens são orientados pela razão, pela tortura e pelo afeto, enquanto lidam com os limites da sanidade.

Gonçalo sente que algo está “borbulhando” em escala mundial. Crises sociais e econômicas, ele lembra, estão na origem de grandes guerras e de regimes totalitários. O fosso entre ricos e pobres é como um elástico esticado – cada vez mais distantes, as pontas não se tocam –, e ele pode estourar a qualquer momento, pois a tensão está no limite.



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