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S.Bernardo cresce desordenadamente
Andrea Catão
Do Diário do Grande ABC
16/01/2005 | 17:51
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São Bernardo, ao contrário de outras cidades do Grande ABC, ainda tem imensa área territorial para se expandir. A população quase dobrou nas duas últimas décadas e promete aumentar na mesma proporção nos próximos 20 anos. A avaliação é do geógrafo e demógrafo Odeibler Santo Guidugli, da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) de Rio Claro, com base nos dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 1980, 1990 e 2000. Esses números indicam que o sistema habitacional da cidade pode entrar em colapso caso o município não cresça com planejamento e crie mecanismos capazes de conter a ocupação irregular.

"A tendência é de que a cidade cresça ainda mais, visto que nos censos anteriores o crescimento foi lento e gradativo. O boom ocorreu a partir dos anos 80." Segundo ele, a cidade tem território desocupado e é desenvolvida do ponto de vista econômico, o que estimula a ocupação.

Em 1980, São Bernardo tinha 425.780 habitantes e passou para 701.289 no censo realizado em 2000. Como comparação, Santo André tinha 552.797 há duas décadas e, no último levantamento de dados, 648.443. "Santo André cresceu, mas em menor proporção. O adensamento é maior e não há muitas áreas livres, ao contrário de São Bernardo", diz.

O crescimento populacional de São Bernardo fez com que a cidade passasse da quarta para a terceira posição em tamanho de população no Estado de São Paulo. Em 1980, Santo André tinha a terceira colocação, atrás da própria capital e de Guarulhos. Duas décadas depois, São Bernardo passa a frente e não deve recuar de posição, segundo Guidugli.

A densidade demográfica indica essa tendência, de acordo com o geógrafo. Enquanto Santo André tem população menor, o adensamento, conforme dados do Censo 2000, é de 3.708 habitantes/km². E São Bernardo, embora apresente índice considerado de alta densidade, tem 1.726 habitantes/km².

"A tendência (de crescimento da população e ocupação das áreas não-urbanizadas) tem sido confirmada. É preciso planejar a cidade para os próximos anos. Caso contrário, desastres como os que vimos nesta semana (nove pessoas morreram soterradas) se repetirão com mais freqüência no futuro", diz Guidugli. Ele afirma que há urgência em impedir novas ocupações. "Numa cidade do tamanho de São Bernardo a fiscalização é complicada, mas desde que seja feito um trabalho com a população que vive nessas áreas de risco e também nos mananciais, ela passa a ser aliada. Como o município não tem condições de sozinho conter as invasões, caso faça trabalho de conscientização, a comunidade passaria a denunciar", afirma.

De acordo com dados da Secretaria de Habitação de São Bernardo, a cidade tem 17 áreas de risco e 1,2 mil famílias residentes nesses locais. No entanto, técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) dizem que esse número está subdimensionado. Só na área do Montanhão, que engloba o Jardim Silvina, vivem mais de 100 mil pessoas. O Parque São Bernardo, onde a Prefeitura deu início ao processo de urbanização, tem mais de duas mil famílias.

"As áreas de ocupação irregular de São Bernardo são extensas e com alta densidade. Até para promover intervenções nesses terrenos fica difícil. Embora a Prefeitura tenha feito obras de urbanização em algumas favelas, as áreas são bem maiores e envolvem número muito maior de famílias", afirma o geólogo Eduardo Macedo, do IPT.

Com as tragédias da semana passada em São Bernardo, a Prefeitura acelera as negociações com o governo do Estado para a construção de moradias. Emergencialmente, 142 famílias do Jardim Silvina que tiveram os barracos interditados nesta semana vão ocupar alojamento provisório enquanto o programa não é aprovado.




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