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Casa da Ford ganha uma planta e um protetor

O professor Dalton Sala tem pressa. Visitamos São Bernardo numa tarde de terça-feira...

Por Ademir Medici
09/03/2015 | 07:00
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O professor Dalton Sala tem pressa. Visitamos São Bernardo numa tarde de terça-feira. O deixamos na Estação de Santo André pouco antes das 18h. Às 20h, tínhamos no computador o relatório completo do passeio, que ele redigiu, ilustrado pelo desenho técnico interno da Casa da Ford, por ele idealizado em questão de minutos.

Combinamos algumas perguntas, enviadas por e-mail. Na manhã seguinte vieram as respostas.

Cambuci, a mais paulista das frutas

1) Citar o universo do seu trabalho, o espaço a ser pesquisado em torno da Capital. A abrangência.

Estou buscando determinar o espaço bandeirante em função do Planalto de Piratininga: é basicamente o espaço desenhado por quatro grandes rios: o Tietê, o Grande e o Guarapiranga – que formam o Pinheiros – e o Tamanduateí.

Neste espaço, as águas, os caminhos, as casas bandeiristas (sedes de fazendas) as igrejas e os mosteiros das ordens religiosas (que também possuíam fazendas) e as povoações estruturavam o que podemos chamar de sociedade colonial paulista.

2) Exemplifique alguns tesouros localizados.

Acho que maior tesouro que localizei durante este trabalho (pois não conhecia) foi a nascente do Rio Tamanduateí, em Mauá: um lugar mágico, misterioso, antigo lugar de culto das populações indígenas que habitavam o Planalto. Meu trabalho é basicamente voltado para esta importância que as águas (hoje tão degradadas) têm na vida do paulista: os monumentos arquitetônicos são as maiores testemunhas dessa importância.

Mas encontrei também casas antigas, algumas involucradas em construções mais recentes, como na Fazenda Concórdia, em Itu; e também busquei determinar a localização de monumentos que já desaparecerem, como a Casa do Querubim, em Araçariguama, ou a Casa do Calu, no Embu. E estou procurando saber onde era a antiga casa da Fazenda do Oratório, em Santo André. 

3) O Grande ABC urbanizado pouco tem nos legado. Como você analisa a região, em termos de preservação de exemplares históricos?

O Grande ABC foi uma região que se industrializou muito rapidamente, e não houve tempo nem interesse para se pensar em história e em preservação do patrimônio cultural. Mas essa história e esse patrimônio estão aí: ocultos pelo asfalto e pelo concreto, é verdade, mas estão aí: é incrível como a memória social resiste...

4) Que lições tirar do encontro inesperado que tivemos com os Breda? – Cecília, João, Flavio, Toninho... Gostou do suco de cambuci?

A lição é essa: a memória está aí, sempre presente, e as pessoas são as guardiãs: elas zelam instintivamente pela preservação de seu passado, guardando lembranças, recordando os mortos e os fatos passados.

Quanto ao cambuci... é disso que estou falando: preservar uma árvore é participar desse processo que garante que a memória e a história sejam patrimônio coletivo e que o passado se transmita aos futuros. E confesso que foi uma dádiva, um presente, um documento, pois nunca (acredite) havia visto um cambuci de verdade, só em fotos. Um cambuci: a mais paulista das frutas!

5) Quem é Dalton Sala?

Dalton Sala é um velhote que se ocupou de estudar a história da arte brasileira; basicamente, é um contador de histórias que guarda histórias que quase todos já esqueceram. E que acredita que essas histórias serão importantes no dia em que o paulista se cansar de fumaça, asfalto e águas mortas e resolver restaurar o magnífico ecossistema do Planalto de Piratininga. Já vivi e viajei muito: anexo um pequeno currículo onde parte dessas aventuras está relacionada.

NOTA – Professor Dalton Sala é muito mais. Um idealista. Seu “pequeno currículo” é pluralista. Pensem numa tarefa sobre preservação histórica: Dalton participou.

Ganhamos dele um livro: Barro Paulista, a tradição bandeirante do imaginário em barro cozido (2014), originário de uma exposição de imagens de santos do Museu de Arte Sacra de São Paulo: quem foi o curador e que elaborou os textos? Ele, o velhote jovial que não deixa a memória paulista fenecer.

Diário há 30 anos

Sábado, 9 de março de 1985 – ano 27, nº 5769</CF>

Manchete – Metalúrgicos e Fiesp preveem negociação difícil

Saúde – Auditoria comprova fraudes em 23 hospitais paulistas.

São Bernardo – Lar da Criança Emmanuel festeja 25 anos com palestras.

Ribeirão Pires – Estado testa novo sistema de tratamento de esgotos: lodo biológico em vez do tradicional método de lodo ativado.

Em 9 de março de...

1500 – Pedro Álvares Cabral parte de Portugal, no comando de uma armada de 13 navios. Oficialmente, o destino é a Índia, porém...

1625 – Bandeirantes de São Paulo atacam as Missões entre o Uruguai e o Paraná.

1915 – Promovido pelas senhoritas Odette Flaquer e Tita Martins, realiza-se no salão Moyeni, em Santo André, uma soirée dançante que só termina na manhã seguinte. Entre os presentes, as senhoras Elisa Flaquer e Elizinha Cordes.

- Sócios da AA Brasil realizam prova de pedestrianismo entre São Paulo, São Bernardo e Alto da Serra.

- A guerra. Do noticiário do Estadão: ‘Progresso dos aliados na Champagne, na Argonne e nos Vosges.’

1925 – Vicente Rodrigues Vieira, o Curandeiro Vicente, falece em São Caetano. Sua ação social e religiosa é lembrada até hoje. Nascido na fazenda Morumbi, em São Paulo, está sepultado no Cemitério São Caetano, no bairro Santa Paula. Costumamos dizer que ele foi o primeiro relações públicas de São Caetano e que é o protetor espiritual desta página Memória.

1970 – Santo André perde para Bauru o direito de sediar os 35º Jogos Abertos do Interior.

- Haroldo Santos Abreu assume a Secretaria de Justiça de Santo André.

- Zalmino Zimmermann assume a Secretaria Jurídica de São Bernardo.

1975 – Edison Motta inicia uma série especial de reportagens no Diário: Caminhos do futuro sem fronteiras. Em pauta:

- Funabem, da utopia ao milagre nacional.

- O repórter no subúrbio do Rio, em Quintino e Ilha do Governador.

Santos do dia

- Santa Catarina (Vegri) de Bolonha (1413-1463). Religiosa italiana com vários dons especiais.

- Francisca Romana

- Cândido

- Gregório de Nissa 




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