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‘Skaf vai abrir seu palanque para Dilma’, garante Michel Temer

Vice-presidente da República aguarda por sinalização do peemedebista e afirma que candidato a governador perde PMDB se não cumprir decisão

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
17/08/2014 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB) sentencia: Paulo Skaf, candidato peemedebista ao governo do Estado, abrirá palanque para candidatura à reeleição de Dilma Rousseff (PT), projeto político em que Temer segue como número dois da chapa. Skaf reluta em associar sua imagem à da petista, com receio de que a rejeição do PT em São Paulo contamine sua campanha ao Palácio dos Bandeirantes.

Temer revela que, no dia 30, o PMDB organizará grande ato na cidade de Jales, no interior de São Paulo, atividade a qual Dilma já confirmou participação. “O Skaf vai a essa reunião. Se ele não for, vai perder o PMDB”, alerta o cacique nacional da sigla, em entrevista exclusiva ao Diário. “Mas isso não vai acontecer, ele vai à reunião”, ameniza, na sequência.

Segundo Temer, a atitude de Skaf foi para marcar território entre as candidaturas estaduais colocadas, principalmente depois que adversários cogitaram que o projeto peemedebista servia como apêndice à empreitada de Alexandre Padilha, nome escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para encerrar hegemonia de 20 anos de governos tucanos no Estado. “Essa preocupação de deixar claro que não era conluio (com o PT) levou a isso (distanciamento com Dilma). Alguns jornais publicaram que ele era espécie de auxiliar do PT. Aí não dava.”

O vice-presidente do Brasil lamenta morte do presidenciável do PSB, Eduardo Campos, em acidente aéreo na quarta-feira, e evita fazer prognósticos na corrida nacional. O peemedebista não coloca a ex-senadora Marina Silva como candidata natural do PSB ao Palácio do Planalto, dizendo que compete ao PSB definir o futuro do partido, entretanto adianta que a campanha de Dilma e ele está preparada para enfrentar a ex-ministra do Meio Ambiente nas urnas. “Quando houver essa candidatura poderemos analisar se haverá segundo turno.”


Como o sr. recebeu a notícia da morte do presidenciável do PSB, Eduardo Campos?
Foi choque de natureza pessoal. Convivi muito com Eduardo Campos na Câmara e ele como ministro (de Ciência e Tecnologia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva). Fui várias vezes a Recife quando ele era governador e ele sempre me recebeu com carinho. Tínhamos relação de amizade pessoal. Perdemos muito no plano pessoal e no plano político o País perdeu muito.

Qual projeção é possível fazer a partir de agora?
Não se sabe o que vai acontecer. Será questão interna do PSB, se terá candidato ou não. Não há dúvida que há mudança no cenário eleitoral. É preciso maturar isso por uns dias para verificar que rumo as campanhas tomarão.

A ex-senadora Marina Silva é candidata natural?
Não sei dizer por que ingressaria numa área que é do PSB, não minha.

A campanha do PT e PMDB se prepara para enfrentar Marina nas urnas?
O PMDB-PT se prepara para campanha presidencial, seja quem for o candidato. Era assim com Eduardo Campos, que tinha todo nosso respeito, será da mesmo modo com o candidato ou candidata do PSB.

O fator emocional tende a pesar no pleito?
O fator emocional atinge todos. Nós todos, de todos os partidos, estamos atingidos. Como tem essa generalidade, não vai influenciar no voto do eleitor propriamente dito. O que restará na figura do Eduardo Campos é saudade e respeito pelo que fez pelo País.

O sr. concorda com a análise de garantia de segundo turno se Marina se transformar em presidenciável?
Essa análise existe nos dias atuais. Há pesquisa que indica que pode haver segundo turno. Não saberia indicar agora a reação do eleitorado. Não sei qual postura do PSB, se haverá candidatura. Quando houver essa candidatura poderemos avaliar se haverá segundo turno. Neste momento vejo que há muita conjectura de que pode não haver segundo turno.

O PMDB mostrou ainda mais conflito interno quando, na convenção nacional, número menor de Estados aprovou a aliança com o PT. O PMDB vai unido para a eleição de outubro?
No geral vai unido. Porque mesmo em Estados onde o candidato majoritário não pôde acompanhar a candidatura nacional – em face das realidades locais, com brigas com PT que são históricas e que não há condição de aliança –, PMDB está unido em torno da candidatura. Há dissidências do PMDB, mas o candidato nos apoia, a maioria dos prefeitos também. Em todos os locais há sentimento do PMDB de unidade nacional.

Por que houve aumento da dissidência?
São os conflitos locais. Os Estados que votaram contra fizeram ‘sem graça’ em relação a mim por conta da minha boa relação com o PMDB. Os que votaram a favor disseram que votaram em mim. Os que foram contra, a dissidência no Estado é tão grande que não tinha como apoiar a coligação feita no plano nacional. Fala-se muito na história da Dilma, que trata mal. Isso não é verdade. A presidente tem competência administrativa extraordinária e política. Ela faz reuniões com lideranças, recebe lideranças no Congresso. Não há essa coisa de dizer que é a presidente que afasta (aliados). É o contrário. Ela tem capacidade gerencial extraordinária e é muito agregadora.

Não seria oportuno o PMDB lançar candidato a presidente já neste ano? Por que isso não se efetivou?
Porque neste ano não preparamos candidato. Sem preparar candidatura você vai para aventura. Trabalhamos na direção de candidatura própria em 2018. O PMDB foi fiador da governabilidade (nos governos Lula e Dilma), o PMDB tem peso político. Há mais de um ano dizemos que continuaremos com aliança vitoriosa para o povo brasileiro, mas iremos preparar candidatura para 2018 com unidade eleitoral que o PMDB não teve no passado.
Se a presidente Dilma for reeleita, haverá, em 2018, disputas entre PT e PMDB pela Presidência...
Vamos preparar candidatura. Numa brincadeira, quem sabe o PT nos apoie (risos). Se houver divergência, paciência. Não dá mais para o PMDB esperar sem ter candidatura ao governo federal.

O sr. é nome natural do PMDB à Presidência em 2018?
Não sou nome. Quero ser o nome capaz de construir essa candidatura. É isso que quero. Encerraria com chave de ouro minha participação na política.

Sobre o cenário nacional, preocupa o atual momento da economia, com juros altos e inflação sempre próxima à meta estipulada pelo governo federal?
Não preocupa. No ano passado, em agosto, eu mesmo, vice-presidente da República, achei que a inflação iria explodir. A impressão que se tinha era que a inflação estaria em 15%, 16% em dezembro. Vejo que esse fenômeno se repete. E por mais que se fale, a inflação ainda está dentro da meta. Ultrapassou 0,02% num mês (em julho), depois voltou para meta e vai ficar na meta. O governo tem adotado providências pelo emprego. No Brasil temos quase pleno emprego, com 4,9% de desemprego. O mundo é globalizado. A economia internacional repercute no Brasil. Enquanto tivermos pleno emprego, com cidadão empregado, indo ao supermercado fazer suas compras, não teremos problemas na economia do País. Pode gerar angústia. Pode haver pregação eleitoreira de tal maneria que o sujeito fique com medo. Não há problemas graves na economia.

Qual avaliação o sr. faz da campanha de Paulo Skaf ao governo do Estado? Por que o candidato do PMDB não decola nas pesquisas?
Acho que esse cenário vai ser delineado, como todos os outros, depois do início do programa eleitoral. Precisamos esperar pelo menos 20 dias do horário eleitoral para avaliar de fato. Estamos fazendo crescer o PMDB no Estado. Em São Paulo, quando lançamos o (Gabriel) Chalita (à prefeitura, em 2012), fizemos quatro vereadores, antes não tínhamos nenhum. Administramos São Caetano (com Paulo Pinheiro) e Ribeirão Pires (com Saulo Benevides). São dois municípios importantes no Grande ABC.

O sr. acredita no segundo turno na corrida paulista?
Claro que sim. Acho que vai acontecer. Obviamente que no panorama atual esse cenário não está colocado, mas com tempo de TV o Skaf vai crescer muito.

Como o sr. enxergou o fato de Skaf se recusar a abrir palanque para a candidatura de Dilma que tem o sr. como vice?
Nós teremos o palanque do Skaf. O Skaf vai apoiar nossa candidatura. Ele já disse que acompanhará o partido. Só que em São Paulo, ele diz que o PT e o PSDB são adversários. É verdade, ele tem de ganhar dos dois em São Paulo. No dia 30 teremos reunião em Jales (interior de São Paulo), está sendo organizado. O Skaf vai a essa reunião. Se ele não for, vai perder o PMDB. Mas isso não vai acontecer, ele vai à reunião. E estará ao lado da presidente Dilma.


Por que houve tanta demora em ele se posicionar favoravelmente à candidatura de Dilma?
A campanha começou agora, não começou antes. Será campanha de 40 dias. O PMDB de São Paulo está comigo e com a Dilma.

O sr. crê que se o Skaf não for a essa reunião em Jales perderá todo apoio do partido à sua candidatura?
Nem cogito essa hipótese (de Skaf não ir). Ele estará na reunião, conosco. Nem penso nessa possibilidade.

Foi erro do Skaf não deixar claro que a disputa é só em âmbito estadual? Ele publicou até vídeo se colocando como adversário do PT, sem distinguir esferas.
Ele deixou claro. Ficou algo ambíguo, por pouco tempo, ele logo definiu-se. Ele se expressava que o PT era adversário. Não poderia falar que o PT era amigo. Se espalhou que havia conluio entre PT e PMDB, mas é separação. Num segundo turno pode haver. Essa preocupação de deixar claro que não era conluio levou a isso. Alguns jornais publicaram que ele era espécie de auxiliar do PT. Aí não dava. Foi isso que o preocupou, simplesmente isso. Não houve titubeio. Quando precisou declarar que estava conosco, ele fez.




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