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Exemplos de superação e lições de vida
Por Angela Martins
Do Diário do Grande ABC
03/12/2011 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Todos os dias, a operadora de telemarketing Jéssica Garcia Benedicto, 21 anos, se prepara para encarar um dia de trabalho. Ela almoça, penteia os cabelos, se maqueia, atende ligações no celular. Tudo isso com os pés. Vítima de má formação congênita, ela nasceu sem os braços e aprendeu desde cedo a buscar maneiras de fazer suas atividades sem precisar da ajuda de terceiros.

"Faço praticamente tudo sozinha. Nunca fiquei revoltada com essa situação e sempre procurei levar a vida de forma positiva", afirma. Atleta, Jéssica participa da equipe de natação de Santo André e ganhou nos últimos Jogos Abertos do Interior duas medalhas de prata para a cidade, na categoria F6. "O esporte abre muitas portas e dá forças para continuar a lutar pelo que quero."

VIDA DE MODELO

Aos 9 anos, Caroline Paiva viu seu mundo destruído por um acidente de carro. O pai faleceu e a menina ficou paraplégica. "Tive de me adaptar a uma nova vida e reaprender a fazer tudo, como uma criança que está começando a andar, só que usando cadeira de rodas." Apesar das limitações, ela nunca deixou de estudar e levar vida comum. Aos 24 anos foi convidada por uma amiga para participar de um desfile. "Sempre tive o sonho de ser modelo, mas não acreditava que pudesse acontecer, que esse mercado abriria as portas para uma pessoa com deficiência. Depois daquele dia começaram a aparecer os convites."

A estudante do Ensino Médio Cláudia Aparecida da Silva, 21, ainda não sabe qual carreira seguir. Divide seu tempo entre os estudos e as tarefas de casa. "Ela é muito prestativa e carinhosa. É minha grande companheira", revela a mãe, Maria Lurdes da Silva, 54. Ao primeiro mês de gestação, descobriu que havia contraído rubéola. Cláudia nasceu com surdez parcial no ouvido direito e total no esquerdo, além de problemas de visão. Na escola, aprendeu a linguagem de Libras. Com o pouco de audição que lhe resta, gosta de ouvir música, especialmente Luan Santana.

ESCURIDÃO

Aos 35 anos, o contador Carlos Alberto dos Santos, 53, ficou totalmente cego, vítima de catarata com a qual conviveu desde a infância. Foram dez cirurgias, mas nada conseguiu reverter o problema.

Com a deficiência, veio a conscientização sobre os problemas que as pessoas enfrentam no cotidiano. "São muitos os obstáculos na locomoção nas ruas das cidades. Mas não podemos desistir de lutar pelos nossos direitos e cobrar soluções do poder público."

Data celebra luta pelos direitos dos deficientes

Celebrado hoje, o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência é data para reflexão sobre a participação dessa parcela da população na sociedade. Ainda cercados de problemas de acessibilidade e poucas oportunidades de trabalho, os deficientes enfrentam, também, o preconceito velado de muitas pessoas.

De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, são 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência física ou mental. Somente no Estado de São Paulo o número chega a 9,3 milhões de pessoas.

"Tudo que é diferente causa estranhesa nas pessoas. Durante muito tempo, por questão cultural, as famílias escondiam seus filhos deficientes como se fossem doentes. Hoje, com as campanhas de conscientização, estamos revertendo esse quadro e mostrando ao mundo que podemos viver em sociedade", diz o assessor de políticas públicas para pessoas com deficiência da Prefeitura de Santo André, Alexandre Francisco.
Cadeirante, ele mesmo viveu na pele o preconceito. "Felizmente minha família sempre me apoiou, cursei faculdade e hoje sou independente. Mas existem muitas pessoas que ainda sofrem com a falta de oportunidades", destaca.

Em 2000, foi promulgada a lei 10.098, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, retirando barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação.

Mercado de trabalho ainda é limitado

O mercado de trabalho para os profissionais com deficiência física não apresentou evolução nos últimos quatro anos. De acordo com o estudo Números da Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho e Emprego, em 2007, esses trabalhadores ocupavam 348.818 postos em todo o País.

No ano passado, o volume recuou para 306 mil vagas. Mesmo com a Lei de Cotas, que completou 20 anos, as contratações estão caindo, se levado em conta o total de trabalhadores com deficiência empregados com carteira assinada. "Mesmo com todos os avanços, ainda falta muito a ser feito para garantir lugar para os deficientes no mercado, especialmente aqueles com problemas de intelecto", afirma a professora da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e especialista em educação especial e reabilitação profissional Maria Candida Del Masso.

A saída está na conscientização desde os primeiros anos escolares. "Se criarmos cultura de respeito, todos ganharão um futuro mais digno."

ATIVIDADES

A data será celebrada com atividades especiais em Santo André. A ação ocorrerá das 8h às 15h no Complexo Esportivo Pedro Dell'Antonia. A programação inclui desde atividades culturais e esportivas até consultoria e orientação jurídica para os deficientes.

A Prefeitura de Mauá organizou série de eventos, como futsal adaptado, apresentações musicais, exposições e corais de Libras (linguagem utilizada por pessoas que possuem deficiência auditiva).

Alunos de instituições de educação especial de São Caetano participarão da 8ª edição da Passeata Movimento Superação São Paulo. A concentração ocorrerá na Praça Osvaldo Cruz, às 10h, e a chegada por volta das 12h30, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.




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