Política Titulo Entrevista
Saúde não é prioridade
de Dilma, afirma Alckmin

Em entrevista exclusiva, o governador de SP faz
balanço de mandato e defende mudança do SUS

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
29/07/2014 | 07:00
Compartilhar notícia
Ricardo Trida/DGABC


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cobrou a fixação de percentual médio de 10% ao governo federal de investimento na área de Saúde, assim como já existe aos Estados (12% da receita bruta) e municípios (15%). Segundo o tucano, a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde) está defasada e há subfinanciamento da União ao analisar que o setor não teve a devida atenção nos últimos 12 anos. “Evidentemente que deixou de ser prioritária. Prioridade sem Orçamento é discurso”, disse ele, em relação ao período de gestões petistas à frente do Palácio do Planalto.

As declarações foram feitas por Alckmin no início da noite de ontem, em visita à sede do Diário, depois de vistoriar a construção da Fábrica de Cultura, em Diadema. O tucano concedeu entrevista exclusiva ao lado do secretário paulista de Esporte, Lazer e Juventude, José Auricchio Júnior (PTB), e dos deputados estaduais Alex Manente (PPS) e Orlando Morando (PSDB). Para o governador, a baixa ajuda da União tem provocado crise na Saúde, como no recente caso da Santa Casa de São Paulo. “Governar é escolher. Dinheiro nunca vai dar para tudo. O governo federal reduziu participação em 14 pontos percentuais, de Lula (2003) para cá.”

Alckmin defendeu também legado deixado pela Copa do Mundo no Brasil, principalmente na Mobilidade Urbana na Zona Leste da Capital. Segundo o chefe do Palácio dos Bandeirantes, mais de 90% dos torcedores utilizaram transporte público e elogiaram o sistema. “Tudo isso sem colocar um centavo no estádio (Arena Corinthians, em Itaquera).” O governador destacou ainda que as obras da Linha 18 do Metrô, que ligará a região à Estação Tamanduateí, vão iniciar em meados de dezembro. “Deveremos assinar o contrato até o fim de agosto”, alegou, acrescentando que há estudo avançado para que Diadema entre na rota da Linha 17, de Jabaquara ao Morumbi.

Diante da entrega do Trecho Leste do Rodoanel Mário Covas, qual é o resultado que o sr. tem desse início de funcionamento?
Entregamos 32 quilômetros do Leste, desde Mauá, com a Avenida Papa João XXIII, até a Rodovia Ayrton Senna. Estão entregues três quartos dele e até setembro vamos inaugurar o último trecho, chegando até a Dutra. E no Rodoanel Norte estamos com seis frentes de trabalho simultâneas. Com isso, fecharemos todos os 176 quilômetros do Rodoanel metropolitano, interligando o maior aeroporto do País, que é Cumbica, ao porto de Santos. O Norte está contratado para chegar dentro do aeroporto. As pessoas vão poder ir ao aeroporto sem entrar em nenhuma via pública. As obras são em três anos. Já passou quase um ano. Mais dois anos, portanto, deverão ser concluídas.

Aproveitando o tema mobilidade, quais os desdobramentos da licitação da Linha 18 do Metrô, que liga a Estação Tamanduateí com o Grande ABC?
A Linha 18 é PPP (Parceira Público-Privada). Obras de R$ 4,2 bilhões, sendo R$ 1,9 bilhão do governo do Estado, R$ 1,9 bilhão do setor privado e R$ 400 milhões do governo federal. O vencedor é o Consórcio ABC. Deveremos assinar o contrato até o fim de agosto. A partir da assinatura começam as desapropriações, que ficarão sob responsabilidade da iniciativa privada. São 15,7 quilômetros em 13 estações, com 26 trens. Capacidade para 314 mil passageiros ao dia. Depois de assinarmos, estamos calculando 90 dias para iniciarmos a obra, ou seja, em meados de dezembro. Tudo foi superado e a obra deve durar três anos.

O modal adotado na Linha 18, de monotrilho, é pouco conhecido ao paulistano. Já houve teste para verificar a adaptação deste tipo de transporte?
Ele tem três benefícios importantes. Primeiro: ótima capacidade. Cada trem do monotrilho tira 15 ônibus ao dia. Segundo: qualidade, pois é silencioso, elétrico e zero poluição. A terceira é por ter menor desapropriação. Em agosto começa a funcionar o primeiro monotrilho do País e o maior do mundo: na Vila Prudente até Oratório. Temos de ter vários modais integrados. O Metrô sairá de São Paulo pela primeira vez. Existe estudo da Vila Sônia até Taboão da Serra, mas não há licitação.

Há também levantamento protocolado do Estado para inclusão de estações em Diadema na Linha 17, que liga Jabaquara-Morumbi. Como estão esses estudos?
Estamos fazendo esse levantamento. Diadema integrando com Jabaquara, como prolongamento. Na realidade, são três estudos bem adiantados. A Linha 4 indo até Taboão da Serra, essa Linha 17 (mencionada), com Diadema na previsão, e a Linha 5, com Jardim Ângela – hoje ela pára em Capão Redondo.

Com relação às intervenções na Linha 10-Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), qual o cronograma montado pelo governo?
Serão 11 estações quase refeitas. Seis delas estão com projeto pronto para ser licitado: Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Guapituba, Prefeito Saladino, Utinga e Ipiranga. Deve sair nas próximas semanas, com investimento de R$ 310 milhões. Como tem recurso federal, liberado no fim de junho, estamos aguardando apenas a assinatura. E cinco estamos terminando o projeto: Mauá, Capuava, Santo André, São Caetano e Mooca.

Houve clamor da população por legado da Copa do Mundo no Brasil. Com o término do evento esportivo, qual é o balanço do Executivo em relação ao que fica em São Paulo?
É positivo. Sistema de trens e Metrô foi bem elogiado. Mais de 90% dos torcedores utilizaram esses transportes. A Segurança também foi elogiada. Foram dois aspectos importantes. Tudo isso sem colocar um centavo no estádio (Arena Corinthians, em Itaquera). Mas todas as obras foram entregues rigorosamente dentro do prazo. O complexo viário de Itaquera, na Zona Leste da cidade, com viadutos, alças, duplicação de avenidas, túneis com seis faixas de rolamento, passarela. (Por outro lado) O viaduto que caiu em Belo Horizonte (executado pela prefeitura) era para a Copa. Quer dizer, nada ficou pronto. Aqui tudo ficou pronto antes do prazo. Um excelente legado, além de investimento no sistema de transporte, Etec (Escola Técnica Estadual) e Fatec (Faculdade de Tecnologia) naquela região. Caminhou bem.

O que há de investimento para a Saúde na região?
Além dos dois grandes hospitais (Mário Covas, em Santo André, e Serraria, em Diadema), ajudamos com R$ 40 milhões o Hospital de Clínicas de São Bernardo, R$ 18,5 milhões no Hospital de Mauá (Municipal Dr. Radamés Nardini). Vamos investir R$ 5,6 milhões no CHM (Centro Hospitalar Municipal) de Santo André. Temos os dois AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades, em Mauá e Santo André) e importante convênio com o hospital psiquiátrico Lacan (em São Bernardo) para atender dependentes químicos. Há a Rede Lucy Montoro (de reabilitação): a unidade de Santo André começa o projeto de construção em 15 dias e em Diadema já está iniciando obras.

Dando continuidade a este tema, nos últimos dias a polêmica está sobre o problema da Santa Casa de São Paulo, que teve o pronto-socorro fechado por 30 horas. O maior entrave, na sua visão, é o repasse do SUS (Sistema Único de Saúde)?
O problema é custeio, manter. Por falta de custeio o Brasil perdeu 13 mil leitos. Muitos hospitais filantrópicos não funcionam com 100% da capacidade. Há duas questões importantes: gestão que precisa melhorar e de subfinanciamento. O País investe 8,12% do PIB (Produto Interno Bruto). Metade privado (4,3%) e a outra metade público (3,9%), aos quase 80% da população. Pela lei, nenhum município pode investir menos de 15% da receita bruta. Nenhum Estado pode ser menos de 12%. Se estabeleceu piso. E o governo federal não tem um percentual: fala-se em variação do PIB. Se não cresce não tem dinheiro a mais.

O sr. acredita que essa fórmula necessita ser revisada?
É claro que tem. Como não tem o piso, o governo federal foi saindo do financiamento. Caiu 14 pontos percentuais em 12 anos. Todo mundo que atende o SUS está em crise, porque a tabela ficou defasada. Um exame de eletroencefalograma custa R$ 65 e o SUS paga R$ 27. Um parto custa R$ 1.000 o pacote e o SUS paga R$ 443. Imagina-se que as Santas Casas do Brasil e outros hospitais beneficentes tenham dívida de R$ 16 bilhões. Os governos complementam. No nosso caso, estouramos o teto, perto de R$ 900 milhões por ano. Por esse acréscimo não recebemos contrapartida. Há necessidade de financiamento (federal). Nós atendemos a alta complexidade do País. O impasse é tão grave que criamos programa para investir R$ 630 milhões só para as Santas Casas não fecharem as portas.

O que deveria mudar na sua concepção para equilibrar o sistema? Qual piso teria de ser fixado ao governo federal?
Governar é escolher. Dinheiro nunca vai dar para tudo. É óbvio. A conta não fecha, pode vir gênio de gestão. Não tem jeito. Foi estabelecido percentual mínimo a Estados e municípios. É preciso colocar também (índice). É questão humanitária. Existe estudo de estabelecer mínimo nacional de 10%. Esse seria o correto da receita bruta. Hoje está em 6%. O governo reduziu participação em 14% do governo Lula para cá. De 60% foi para 46%. Isso é fato real.

O sr. quer dizer que Saúde não é prioridade para a União?
Evidentemente que deixou de ser prioritária. Prioridade sem Orçamento é discurso.

Para encerrar, sobre Educação, há novidades propostas para o Grande ABC?
Criamos a quarta universidade paulista (USP, Unicamp e Unesp): a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). Há estudo que mostra que em dez anos mais da metade dos estudantes universitários estudará por ensino a distância, pela internet. Começou neste ano com quatro licenciaturas (Física, Química, Biologia e Matemática, de quatro anos) e duas engenharias (computação e produção, de cinco anos). Precisa ter polo e o Grande ABC tem: são 54 vagas em Diadema, 54 em São Caetano e 108 em Santo André. Geralmente funciona nas Fatecs. São 206 vagas na região. Isso vai se multiplicar, porque é a primeira turma.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;