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Acervo no bairro Valparaíso traz lembranças da vida no Interior

Na casa de João de Deus, objetos levam à infância em Araraquara, onde viveu 20 anos

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
29/07/2014 | 07:00
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Diz o refrão de um antigo samba de Chico da Silva: “Que tempo bom, que não volta nunca mais”. Pode até não voltar, mas está bem vivo no acervo mantido por João de Deus Martinez, 73 anos, morador do bairro Valparaíso, em Santo André. Os itens remetem à trajetória da Usina Tamoio, de Araraquara, tida entre os anos de 1940 e 1950 como a maior produtora de açúcar e álcool do continente.

João de Deus foi um dos 10 mil moradores da fazenda Tamoio, que era dividida em colônias de agricultura e industrialização para abrigar os trabalhadores e seus familiares.

Lá ele residiu por 20 anos e tudo o que fez parte de sua infância e adolescência está presente na casa onde hoje mora. As lembranças já começam a aparecer na entrada, com réplicas de roda d’água, moinho e monjolo que ele mesmo construiu usando material reciclável, como garrafas PET. Seu João também fez a cópia, em isopor, do fogão a lenha que sua mãe, Maria Martinez, utilizava.

De objetos originais, ele guarda o pesado ferro de passar roupas, datado de 1919, e o moedor de café, de 1924, ambos de sua progenitora. Do pai, José Martinez, mantém o rádio de 1937, que era o entretenimento de muitas famílias da época. “Foi um dos primeiros rádios que tivemos por lá, vinha gente até de fora para ouvir”, conta.

Os brinquedos de madeira, produzidos na carpintaria da fazenda e que fizeram sua alegria quando criança, estão expostos na prateleira, em perfeito estado de conversação. Dos itens que fizeram parte de seu dia a dia há ainda a caderneta do armazém de secos e molhados (1959), as cartilhas do primário (de 1949 a 1952) e uma máquina de aparar cabelo (1947). “Essa máquina cortava o nosso topetinho”, diz ele, que ainda é detentor de uma coleção com cerca de 350 caixinhas de fósforo, cédulas, moedas e bilhetes de loteria nacionais.

Quando a fazenda começou a ser desativada, na década de 1980, seu João de Deus voltou ao local para pegar um tijolo de cada colônia desmanchada. Todos estão expostos na parede do quintal.

As lembranças tornam o passado não tão distante. “Aqui é nosso reino encantado”, frisa.

Com as pessoas que conviveu, faz questão de se comunicar, anualmente, por meio de correspondências. Em pauta, as lembranças dos velhos e bons tempos, claro. “Todo ano, mando 270 cartas para as pessoas que moravam na usina, recordando as histórias da fazenda, que nunca acabam.

Bazar oferece 5.000 objetos para decoração de residências

Precisa vender móveis, eletroeletrônicos ou objetos que já não são mais úteis? Na Rua dos Morrados, 405, no bairro Valparaíso, em Santo André, há um espaço especial para isso. Deseja comprar algo para renovar o ambiente da sua casa ou escritório? Pode ir lá também. O endereço abriga, há seis anos, a Família Vende Tudo Brasil.

Uma das principais propostas é expandir o conceito de consumo inteligente e sustentável por meio da reutilização e reaproveitamento de mobiliários e peças usadas e, claro, em ótimo estado de conservação.

Em 300 metros quadrados, 5.000 itens estão organizadas em ambientes específicos, como sala, quarto e cozinha. O preço varia de R$ 1, como um copo, até R$ 8.500, caso de um quadro do acervo pessoal do artista plástico Gustavo Rosa, morto no ano passado. “Em residências fazemos o chamado Open House (casa aberta), no qual por 15 dias montamos evento no próprio local para realizar as vendas. Já em apartamentos, fazemos a remoção e trazemos para o bazar”, explica a designer de interiores e jornalista Tânia Corrêa, 47 anos, proprietária da loja.

No fim do ano passado, a marca Família Vende Tudo foi patenteada, possibilitando a expansão por meio de franquias. Por enquanto, nenhuma outra unidade foi aberta.

A empresária ressalta que o trabalho vai muito além da venda de objetos. “Costumo dizer que a Família Vende Tudo é mais que vender móveis: vendemos sonhos e histórias. O sonho de quem deseja ter determinada coisa e a história de quem a teve. Isso é o mais bacana.”

Padaria artesanal produz delícias para os moradores

O cheirinho que sai de dentro da padaria artesanal Asuncion, na Rua dos Morrados, 395, desperta a fome instantaneamente. As delícias produzidas por lá se tornam ainda mais especiais por serem preparadas com ingredientes naturais.

“A massa não é feita de pré-mistura industrializada. O pão de mandioca, por exemplo, é produzido do próprio tubérculo. Descascamos, cozinhamos, tem todo um processo trabalhoso. Cozinhar é sempre prazeroso e melhor ainda quando há o reconhecimento das pessoas”, destaca o proprietário e padeiro Filadelfo Martens Fontes, 44 anos.

A entrada no ramo se deu em 2003 quando, desempregado havia quase um ano, ele decidiu fazer um curso gratuito de panificação, oferecido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo.

Após a conclusão, em três meses, ele abriu padaria com um colega na cidade, vendeu sua parte e foi em busca do próprio espaço no bairro Valparaíso.

“Inicialmente, produzia e vendia os pães em um cômodo bem pequeno. Fiquei muito tempo trabalhando sozinho, até que chamei um amigo para fazer sociedade e expandir o espaço”, conta ele, referindo-se ao sócio Eduardo Garre, 39.

O ofício aprendido transformou sua vida. Hoje os ensinamentos são transmitidos aos jovens que trabalham no local com o mesmo objetivo. “Passando o meu conhecimento, posso dar oportunidade a outras pessoas, algo que é muito gratificante.”

Afro Escola propaga cultura negra com diversas atividades

Na Avenida Atlântica, o espaço Afro Escola Laboratório Urbano tem como objetivo propagar a cultura negra, que tanto contribuiu para a formação dos costumes brasileiros. Essa difusão é feita por meio de oficinas como capoeira e artes, sob coordenação do educador Carlos Rogério Amorim, conhecido como Odé Amorim, 41 anos.

Os recursos empregados para desenvolver as ações, voltadas a pessoas de todas as idades, vêm do próprio grupo envolvido na realização das atividades. A busca por algumas parcerias também contribui para o orçamento, como projeto recém-aprovado pela Fundação Cultural Palmares, entidade vinculada ao Ministério da Cultura. “Receberemos verba para, em setembro, ministrar cinco cursos, com duração de um semestre. Vamos oferecer aulas em Moda, Construção de Instrumentos e Brinquedos, Educomunicação, Meio Ambiente e Culinária a jovens de regiões periféricas de Santo André”, conta.

Projeto que ele pretende tornar realidade em 2016 é a criação de uma Afro Escola de formação infantil. “Hoje chamamos nosso espaço de Afro Escola Laboratório porque estamos fazendo experiências com essas atividades, que pretendemos transformar em uma instituição de ensino. Venho desenvolvendo algumas práticas metodológicas para, daqui a dois anos, formalizar isso. Pensei em uma escola infantil, pois a formação do caráter começa justamente nessa fase.”

Informações sobre o trabalho e a programação da Afro Escola Laboratório Urbano podem ser obtidas pelo telefone 4425-4458. 




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