Economia Titulo Crise
Indústria fecha
48 vagas por dia

Por semana, são 336 demissões nas fábricas
do Grande ABC; 17 mil empregos foram cortados

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
18/07/2014 | 07:11
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Celso Luiz/DGABC


A indústria do Grande ABC intensificou o ritmo de cortes de empregos e já soma, nos últimos 12 meses, 17.150 postos de trabalho fechados, o que corresponde a aproximadamente 48 vagas eliminadas por dia no período, ou 336 por semana. É o que aponta pesquisa do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), que toma como base informações passadas pelas empresas associadas à entidade na região.

O levantamento mostra também que, em junho, o saldo de emprego (ou seja, a diferença entre contratações e demissões) ficou negativo em 2.900 postos. Isso significou queda de 1,33% em relação ao contingente de funcionários do setor em maio, pior variação para o mês desde 2006 (início da série histórica). Também foi a 12ª retração seguida no índice mensal do emprego.

A pesquisa aponta ainda que, entre os setores mais afetados pelos cortes na região, estão atividades ligadas ao segmento automotivo. No mês passado, por exemplo, as principais influências vieram de demissões nas indústrias de produtos de borracha e material plástico (-2,87%), veículos automotores e autopeças (-2%) e máquinas e equipamentos (-1,34%).

Para os representantes do setor industrial, os números retratam cenário da economia que já se agravava desde o início do ano. Segundo o diretor da regional do Ciesp de São Bernardo, Hitoshi Hyodo, a Copa do Mundo pode ter ajudado a reduzir mais a atividade econômica, mas o evento não é o culpado dessa situação. “Contribuiu, mas as condições já eram ruins”, afirma.

A demanda retraída das vendas de veículos ao longo dos últimos meses levou as montadoras a fazerem paradas na produção, por meio de medidas como licenças remuneradas, lay offs (suspensões temporárias de contratos) e férias coletivas. “Isso atingiu o setor de autopeças, o que se agravou pelo encerramento de produção da Kombi, do Fiat Uno Mille e do Gol G4. Muitas indústrias da região forneciam para essas linhas”, destaca o presidente licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Cícero Firmino, o Martinha. Além disso, as grandes fabricantes também abriram PDVs (Programas de Demissão Voluntária).

TENDÊNCIA - Hyodo não vê boas perspectivas para os próximos meses. Para ele, a tendência é de continuidade do ritmo de redução dos postos de trabalho, em cenário em que a inflação elevada não favorece a redução dos juros, o que poderia ajudar a impulsionar a economia. E acrescenta: “Após as eleições, medidas impopulares terão de ser tomadas, como o reajuste da gasolina e do óleo diesel”.

O diretor da regional do Ciesp de Santo André, Emanuel Teixeira, também não vê bons horizontes. “Enquanto não houver uma reforma tributária que nos dê condições de competir em pé de igualdade com os produtos de outros países, ficará difícil”, avalia.

Teixeira cita ainda que, apesar de haver montadoras se instalando no País, várias delas estão trazendo os veículos prontos desmontados. “Nossa indústria (de autopeças) não consegue competir, por causa da tributação”, diz.


Dados do ministério também mostram cenário turbulento

Outro levantamento divulgado ontem, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, também mostra o cenário crítico do nível de emprego no Grande ABC neste ano. Nesse cadastro constam informações passadas, obrigatoriamente, todo os meses, de contratações e demissões, pelas empresas formalmente constituídas no País. Esses dados consideram apenas os postos com carteira assinada, enquanto a pesquisa do Ciesp inclui também trabalhadores informais e autônomos.

Pelo Caged, a indústria da região fechou, nos últimos 12 meses, 12.444 vagas registradas e, no primeiro semestre do ano, eliminou 7.845 postos. Os números do ministério mostram que o comércio dos sete municípios também foi atingido pela atividade econômica fraca e pelos efeitos em cadeia gerados pelas demissões no setor industrial, segundo representantes do empresariado. Nos primeiros seis meses do ano, os estabelecimentos comerciais fecharam 1.291 empregos com carteira.

Construção civil e, principalmente, os ramos de serviços ajudaram a impedir queda ainda maior do nível de trabalho na região. Dessas duas atividades, a primeira abriu 766 vagas e, a segunda, 5.133, de janeiro a junho. Na economia da região, o saldo total foi de 2.927 postos fechados no primeiro semestre, pior resultado desde 2009. No mesmo período em 2013, para se ter ideia, o balanço era de 8.679 vagas abertas.

NO PAÍS - Em todo o Brasil, os serviços também puxaram para cima o saldo de emprego, gerando no ano 386.036 postos. Em segundo lugar, ficou a atividade agrícola, que abriu 110.840 vagas, seguido da construção civil (73.343). Mesmo a indústria de transformação contratou (44.146 empregos), apesar da má fase do setor automotivo. O comércio foi o único segmento que apresentou queda, com perda de 58.096 postos.  




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