Cultura & Lazer Titulo Em Santo André
Edson Cordeiro em concerto especial

Andreense radicado na Alemanha canta amanhã ao lado da Ossa, em Santo André

Vinícius Castelli
30/06/2014 | 11:34
Compartilhar notícia
Divulgação


Como já dizia um antigo ditado: “O bom filho a casa torna”. Andreense que foi encantar o público de diversas partes do mundo com sua voz, Edson Cordeiro retorna à região para um encontro especial. Ele se apresenta hoje em um palco que para ele é muito caro: o do Teatro Municipal de Santo André, onde cantou pela primeira vez em 1993, ao lado da Orquestra Jovem da cidade.

Agora ele se apresenta ao lado da Ossa (Orquestra Sinfônica de Santo André), que tem regência do maestro Abel Rocha, a partir das 20h. A entrada é gratuita e os ingressos, que foram distribuídos ao longo da semana passada, estão esgotados.

“Faz muito anos que cantei em Santo André. Eu via a cidade que nasci fazendo aniversário e chamando vários artistas amigos meus para apresentações e eu nunca era lembrado. Agora estou aqui e muito feliz”, brinca ele.

De fala tranquila e educação ímpar, o artista que cresceu no bairro de Utinga conta que esse concerto terá um sabor especial. “Minha mãe estará na plateia. Além disso, duas pessoas muito importantes da minha vida musical estarão comigo lá, o maestro Abel Rocha e o arranjador Miguel Briamonte (que assina parte dos arranjos do repertório da noite).”

Edson conta que conheceu os dois quando tinha 17 anos. “Hoje tenho 47. Eles são meus mestres. O Abel me mostrou ópera e me fez entender que tinha lugar na música para minha voz aguda. O Briamonte fez arranjos em três dos meus discos”, afirma. “E agora estão os dois comigo neste show. É muita história da minha vida num mesmo lugar”, emociona-se.

O programa da noite será dividido em duas partes. No início, a Ossa apresenta a Sinfonia 2000, do compositor brasileiro Ronaldo Miranda, criada para as comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil.

Contratenor (voz masculina aguda, com o mesmo alcance do soprano) e de repertório eclético, Edson se junta à Ossa na segunda parte do concerto para cantar composições como Ópera Rinaldo (Ária Lascia ch’io Pianga e Ária Or La Tromba), de G.F.Haendel, Bist du Bei Mir, de G. H. Stölzel, e Ópera Mitridate Rè di Ponto (Ária Venga Pur e Ária Son Reo), de Mozart.

“Parte do repertório é um resgate arqueológico da música barroca, com arranjos originais do século 18. Nos séculos 16, 17 e 18, as mulheres eram proibidas de cantar na igreja. Então, o Vaticano teve a ideia de castrar as crianças. Elas não produziam testosterona e, assim, cantavam com voz de anjo a vida toda”, explica ele.

O programa da noite será ilustrado ainda por canções da MPB como Paranoia (Raul Seixas), Ave Maria (Vicente Paiva) e Boi Bumbá (Valdemar Henrique). “Tem até música sertaneja, que é Saudade de Minha Terra. Cantei essa para os meus pais a vida toda”, lembra-se.

Filho de mecânico e de uma bordadeira, ambos nascidos no interior, Edson construiu sua estrada, ganhou discos de ouro e se lançou mundialmente como artista. E ainda assim, não perdeu a simplicidade ao longo do caminho. “Cresci na Avenida Nova Iorque, em Utinga. Minha vida era da escola para a igreja e de lá para casa. Comecei a cantar na igreja. Trabalhei como office boy também e quando tinha que ir para a Avenida Paulista era um evento”, recorda-se.

Edson vive uma vida tranquila hoje mas também de muito trabalho. Roda o mundo fazendo shows e gosta de cantar de tudo. “Sou um animal do palco. Me coloque lá que estou feliz. Cantei esses dias com um grupo de samba e foi muito legal. Agora vou cantar ópera. Isso é um privilégio.”

ATLETA

]Mas para poder cantar de tudo e com a qualidade que ele o faz, é necessário algumas atenções especiais. O artista revela que toma cuidados não apenas com sua voz. “Se eu não tenho saúde eu não canto. Por isso cuido do meu corpo como um atleta. Estou sempre preparado para correr, nadar”, diz. Para ele, o anfitrião da festa tem de estar sempre pronto para que as pessoas aproveitem ao máximo o evento. “Você tem que se cuidar. Eu não bebo, não fumo, não uso drogas”, afirma. Ele conta que um concerto como o que fará amanhã exige o máximo de sua voz. Para ele, essa rotina é contínua e não apenas antes de cantar. E o mais importante de tudo: “Você tem de estar feliz.”

Para quem acha que Edson está sumido, sua carreira vai de vento em popa, com discos lançados na Europa. “Existe vida fora da TV, você não precisa estar lá. Está tudo na internet, basta dar alguns cliques no computador”, diz.

Ele deixou o Brasil para viver na Alemanha há sete anos mas nunca abandonou suas raízes. “Venho ao Brasil umas quatro vezes ao ano.” Edson sente falta da família, dos amigos e dos fãs brasileiros. De acordo com ele, a vida por lá é boa. Casado há cerca de duas semanas com o escritor e artista plástico Olivier Bieber, com quem já vive há quatro anos, Edson diz que o único choque que sofreu ao se mudar para a Alemanha foi o térmico, por conta do frio, mas não cultural.

“Moro em um país em que cumpro meus deveres e usufruo dos meus direitos. Você paga seus impostos e tem algo de volta. Não é difícil se adaptar a um transporte público decente, a um lugar que respeita o cidadão. Difícil é se acostumar à banalização da violência, a ver gente dormindo nas ruas.” Mas tem uma coisa que, segundo ele, não se compara ao Brasil: o calor das pessoas.

No início da carreira, Edson cantava na rua. “Cantei no centro de São Paulo, na Rua Barão de Itapetininga. Eu me respeito e só canto o que eu quero”, afirma. Ele conta que não precisou sair do Brasil para fazer sucesso, consolidou suas bases aqui, que continuam firmes. “Trabalhei muito duro para ter um público no Brasil e nunca vou abandoná-lo. Tenho dois discos de ouro que conquistei aqui, fui sucesso aqui para depois ser reconhecido na Europa. Não sou um exilado cultural.”

Dono de álbuns como Dê-se ao Luxo, Terceiro Sinal, além dos que levam seu nome, Edson também gravou trabalhos que não foram lançados aqui, como Klazz Meets The Voice, registrado com artistas alemães. Mas tudo está na internet e é possível acessá-los via ITunes ou pelo site oficial (www.edsoncordeiro.com.br).

Quando o assunto é ‘sonho’ o cantor é direto. “Quero ver um Brasil que respeite mais seus cidadãos. A gente pode ter um País melhor. Eu consegui tudo o que queria na vida. Vim de família simples. Desejo que as pessoas que batalham tanto consigam chegar a algum lugar e que a minha história sirva de exemplo.”

Ossa e Edson Cordeiro – Concerto. Hoje, a partir das 20h. No Teatro Municipal de Santo André – Praça 4º Centenário. Tel.: 4433-0789. Grátis. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;