Economia Titulo Carreira
Metalúrgicos da região
são quase uma S.Caetano

Com 142 mil trabalhadores, categoria comemora
hoje seu dia; salários são mais que dobro da média

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
21/04/2014 | 07:26
Compartilhar notícia
Marina Brandão/DGABC


Hoje é o Dia do Metalúrgico. A atividade, que é uma das principais para a economia do Grande ABC, é motivo de orgulho para os trabalhadores dessa base. Isso porque a categoria, que soma 142 mil empregos na região, ou seja, quase o equivalente à população de São Caetano (156 mil pessoas), tem renda média mensal elevada, de aproximadamente R$ 4.400, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), com base em dados do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

É mais que o dobro (111,5%) da média da renda do total de assalariados da região, que gira em R$ 2.080 – esse número levantado por pesquisa do Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e do Dieese.

Os trabalhadores da área metalúrgica do Grande ABC representam quase 60% do total de empregados na indústria da transformação da região (240 mil).

Para muitas famílias das sete cidades, trabalhar na área metalúrgica é uma tradição que passa de pai para filho. Os irmãos Alessandro, Maurício e Henrique Guimarães, por exemplo, trabalham na fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo. “Meu pai trabalhou lá por 19 anos”, conta Alessandro, 31 anos. “Todo filho se inspira no pai e com a gente não foi diferente, os quatro irmãos (eles têm uma irmã, que também passou pela montadora, mas hoje não atua mais na empresa) trilharam esse caminho”, diz Henrique, 26.

Alessandro conta que, antes de ir para a Mercedes, trabalhou no comércio, com vendas e representação, mas se encontrou profissionalmente na indústria. “Nasci para ser metalúrgico”, afirma. Ele já está na montadora há quase cinco anos, na área de montagem de caminhão. Antes, havia tentado passar na prova do Senai da companhia, que é porta de entrada para atuar na montadora, não conseguiu, mas não desanimou. Fez cursos técnicos e, em outubro de 2009, quando surgiu vaga na fábrica, realizou testes e foi admitido. Maurício, 25, tem mais tempo de casa, dez anos e, Henrique, sete.

Para o presidente da CUT-SP (Central Única dos Trabalhadores no Estado de São Paulo), Adi dos Santos Lima, há motivos para ter orgulho do trabalho no setor. Ele assinala que a atividade metalúrgica na região impulsionou o desenvolvimento industrial do País, a partir da década de 1950, época em que o Grande ABC recebeu investimentos para a construção de montadoras e autopeças. “Esse desenvolvimento propiciou às famílias investirem na formação profissional e terem salários melhores”, observa.

CRISE - O segmento enfrenta neste ano, no entanto, cenário de apreensão, com a perspectiva de acirramento do desemprego. Por conta disso, representantes da categoria discutem com o governo federal saídas para evitar que a situação, não só do setor, mas de toda a indústria, se agrave.

De acordo com números do MTE, toda a atividade industrial dos sete municípios perdeu cerca de 9.600 postos de trabalho nos últimos cinco anos (de 2009 a 2014) até março – só no mês passado foram cortados 1.122.

E ainda, segundo esses dados, 60% da categoria está no segmento automotivo (autopeças e montadoras), área que tem sofrido dura concorrência com os produtos importados nos últimos anos e, neste início de 2014, convive também com a retração nas vendas e na produção de veículos. Os licenciamentos de carros novos caíram 2,1% ante igual período de 2013, aponta a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). O reflexo é ainda mais significativo na área de caminhões, que registrou vendas 11% menores nos três primeiros meses deste ano.

“Como a indústria automobilística tem grande importância na atividade econômica do Grande ABC, a queda dos licenciamentos traz impacto negativo. Temos acompanhado que montadoras estão dando férias coletivas e programando redução do terceiro turno”, observa o professor de Economia do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) Francisco Funcia.

ATENÇÃO - Diversas ações vêm sendo discutidas, por sindicatos dos metalúrgicos da região com o governo federal para buscar saídas para a situação da atividade, entre as quais o aperfeiçoamento do programa Inovar-Auto, que oferece incentivo fiscal às montadoras que privilegiam a compra de peças nacionais, e o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), voltado a oferecer qualificação gratuita aos trabalhadores das empresas dessa base (entre outras áreas).

“Vemos com preocupação (esse cenário), mas já vivemos momentos mais críticos, como na década de 1990; nossa expectativa é que vamos dar a volta por cima”, diz o presidente da CUT-SP.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;