Cultura & Lazer Titulo HQ
Desafio de transformar
literatura em HQ

Alex Mir, de Mauá, é responsável por adaptação
de clássico do escritor Machado de Assis

Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
03/11/2013 | 10:08
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Nario Barbosa/27.03.2013/DGABC


Assim como tantas outras pessoas, Alex Mir conheceu Machado de Assis (1839-1908) no colégio. A paixão pelo universo romântico e realista do icônico escritor brasileiro foi imediata graças ao impacto da obra A Mão e a Luva, um dos primeiros trabalhos do autor e lançada originalmente em 1874. Anos depois, Mir teve contato com publicações que se tornaram mais populares, casos de Dom Casmurro e O Alienista, entre outros.

Décadas depois, o roteirista de Mauá presta homenagem a um de seus ídolos na adaptação A Mão e a Luva em Quadrinhos (Editora Peirópolis, 64 páginas, R$ 35 em média). O livro faz parte da coleção Clássicos em HQ, cujo objetivo é trazer para a linguagem que mescla texto e desenhos conhecidos títulos da literatura mundial. O Corvo, de Edgar Allan Poe, Dom Quixote, obra de Miguel de Cervantes, e A Divina Comédia, de Dante Alighieri, já têm suas versões.

“Quando decidi adaptar a obra, foi uma escolha muito natural, por ter sido um livro que gosto muito. Pesquisei alguns projetos que já adaptaram o Machado para os quadrinhos e essa é a única versão do conto para esse formato. Como fã, foi uma honra. Fiz algo que eu gostaria que alguém tivesse realizado”, diz Mir. Na empreitada, ele teve a ajuda do parceiro desenhista Alex Genaro, com quem já assinou as aventuras da heroína Valkiria.

O conto relata a busca da jovem Guiomar por um pretendente. Entre questões relacionadas a ambição, desejo e jogo de interesses, o amor da garota irá mexer com a vida de Estêvão, Luís Alves e Jorge no Brasil do século 19.

“Apesar de ser um livro de uma época onde ele (Machado) estava começando, acho que é o seu projeto mais pessoal. Vejo Guiomar como se fosse sua versão feminina. Há muitas coincidências entre a vida da garota no livro com a biografia do Machado.”

Os diálogos não foram alterados e nenhum dos 19 capítulos do folhetim foi retirado. Segundo o responsável, não houve necessidade de alterações pois, mesmo com o uso da linguagem antiga, os temas não deixaram de ser atuais. Parte da dificuldade ficou mais a cargo das ilustrações desenvolvidas por Genaro. Morador do Rio de Janeiro, o desenhista teve de visitar casarões e ruas citadas no livro original devido a complicações de encontrar referências visuais do período.

“Quando você traz do texto para as imagens, mostra o que o público precisa ver. Por isso nos dedicamos a uma interessante pesquisa sobre pessoas, vestuários e cenários. As pessoas podem imaginar os personagens de maneiras diferentes, mas cada autor tem sua própria imagem, mesmo Machado sendo bem descritivo”, lembra o mauaense.

PONTE

Mir acredita que o quadrinho pode funcionar como ponte para que os leitores mais jovens possam ir atrás do legado de Machado de Assis além do que lhes é apresentado na escola. “A molecada é mais visual e o colorido e as imagens chamam a atenção mesmo. O livro convencional com centenas de páginas pode intimidar. Um jovem de 13, 14 anos está melhor preparado primeiro para lidar com uma adaptação para depois passar para o livro”, avalia. “Mas é só um caminho para abrir possibilidades. O livro tem de ser lido. O contato por meio da HQ serve para tirar aquele receio de que literatura velha é chata.”




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