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Brasil pode ser pólo da lavagem de dinheiro da máfia italiana
Do Diário do Grande ABC
28/06/1999 | 21:57
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A Direçao Investigativa Antimáfia (DIA) italiana concluiu uma operaçao que aponta o Brasil como um dos pólos da lavagem de dinheiro de uma das principais famílias mafiosas da Itália. Entre as principais descobertas, está uma intrincada rede de operaçoes financeiras ligando uma agência de turismo de Sao Paulo com bancos de Miami, para onde eram destinados recursos obtidos com o tráfico de cocaína e heroína, além dos lucros de operaçoes feitas no Brasil para lavar o dinheiro ilegal. Este dinheiro chegava ao Brasil, vindo da Espanha, depois de circular por bancos da Suíça, de Andorra e dos Estados Unidos. Parte dos recursos também circulava pelo Panamá.

Os dados constam de um dossiê que será apresentado pelo diretor de investigaçoes da DIA, coronel Angiolo Pellegrini, em reunioes com o secretário nacional Antidrogas, Walter Maierovitch, e com representantes da Procuradoria da República e da Polícia Federal, que participam das investigaçoes sobre o braço brasileiro da máfia desde dezembro do ano passado. Naquele mês, o Jornal do Brasil revelou os negócios brasileiros da organizaçao mafiosa La Banda de La Magliana, chefiada pelo capo romano Fausto Pellegrinetti. O dinheiro do tráfico, segundo a Justiça italiana, foi investido em três empresas de importaçao e venda de máquinas de vídeo-pôquer e vídeo-bingo e na Astro Turismo, que mantinha contas no exterior para receber os recursos e remetê-los para o exterior.

A importância do braço brasileiro é tao grande que Pellegrini decidiu participar pessoalmente da troca de informaçoes com as autoridades brasileiras. As informaçoes levantadas pela DIA e pelo FBI norte-americano, reveladas pelo JB, foram confirmadas após a prisao da maioria dos envolvidos, inclusive o responsável pelas operaçoes no Brasil, Lillo Rosario Lauricella, que está detido na cidade de Sulmona. O capo Pellegrinetti, no entanto, continua foragido. Além de localizá-lo, as autoridades italianas pretendem agora rastrear o dinheiro obtido com o narcotráfico que transitou pelo Brasil.

De acordo com as investigaçoes, a máfia investiu cerca de US$ 20 milhoes para montar três empresas de máquinas de jogo eletrônico, ou slot-machines, em Sao Paulo: a Betatronic, a Bingomatic e a Nevada, principal empresa do grupo no Brasil. O dinheiro para a criaçao da empresas entrava no Brasil por intermédio de uma conta bancária da Astro Turismo no Republic National Bank, de Miami. O dinheiro, afirma a sentença do juiz italiano Otello Lupacchini, ficaria à disposiçao de Alejandro Ortiz de Viveiros, que seria personagem "fundamental para a inteira existência e gestao dos negócios de maquinetas de jogo".

A Nevada teria negócios com bingos em Belo Horizonte, que estao sendo investigados pela Polícia Federal. Nove brasileiros foram presos, em fevereiro, após investigaçoes acompanhadas pela Procuradoria da República em Minas Gerais, que vai participar das reunioes com o chefe da DIA. Também foram convidados os integrantes do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

As investigaçoes da DIA, em conjunto com o FBI, receberam o nome de Operazione Malocchio (Operaçao Mau-Olhado). Os agentes prepararam um organograma das operaçoes mafiosas no setor de máquinas de jogo, indicando que as garantias financeiras para as transaçoes eram dadas por bancos da Holanda, onde funcionava a empresa central do império internacional de Fausto Pellegrinetti, a Homich Holding. Estas garantias financiavam a compra de peças de vídeo-bingo na Espanha, que eram mandadas para o Brasil. O dinheiro obtido com as atividades no Brasil passava por uma sociedade financeira no Panamá antes de voltar aos cofres da organizaçao, já lavado.

Os braços direitos de Lillo Rosario Lauricella no Brasil, segundo o juiz, seriam os irmaos franceses Julien e François Filippeddu, personagens conhecidos pela polícia brasileira por seu envolvimento com vídeo-pôquer no Brasil. Ambos têm ordem de prisao requerida na Itália, mas estao foragidos. Segundo as investigaçoes, as empresas teriam chegado a faturar US$ 400 mil mensais, no fim de 1997, e planejavam aumentar o faturamento para US$ 1 milhao mensais. Além de expandir seus negócios na América do Sul e na América Central, a organizaçao teria planejado investir no ramo no Oriente Médio "desfrutando de partnership comercial com personagem sírio, com quem já tinham relaçoes estáveis no comércio de frutas".




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