Cultura & Lazer Titulo Filipe Catto
A voz como instrumento

Destaque da nova cena musical,
Filipe Catto busca ser quem é

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
17/06/2012 | 07:01
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Vinte quatro anos, um disco e alguns prêmios são meros atributos na trajetória do cantor e compositor gaúcho Filipe Catto. Endossados, claro, com a força da sua voz de contratenor, pela sua verve interpretativa e por conta da rebuscada poesia de suas letras.

Pela desenvoltura com que passeia da dolência brega de 'Garçom', de Reginaldo Rossi, à explosão de 'Johnny, Jack & Jameson' - escrita em homenagem à Amy Winehouse e em referência a três marcas de uísque -, que vai ainda do debochado samba 'Roupa do Corpo' até o pungente tango 'Saga', Filipe mostra que sua apropriação e busca é pela efetivação de um discurso. No seu caso, de paixão e de apaixonado pela música.

"Ter uma voz é uma coisa, agora se apropriar dela como parte de um discurso e de um repertório, de uma proposta, é o que difere um cantor de um artista", conta ele em entrevista por e-mail, ao Diário, na qual versou sobre inspirações e aspirações.

COMEÇO
Eu comecei cantando em tudo quanto era lugar, de teatros à pizzaria e boteco. Cantando Hino Nacional e Cássia Eller. Essa experiência foi muito valiosa porque me colocou de cara com a plateia desde muito cedo, e isso se tornou uma coisa prazerosa e natural para mim.

A DESCOBERTA DA VOZ
Quanto à voz, eu não sabia que ia ficar com uma voz diferente, porque eu era criança quando comecei e crianças têm a voz aguda. Essa coisa do exotismo sempre foi bobagem, na minha opinião. Minha voz é e sempre foi algo extremamente normal para mim, minha ferramenta e meu veículo de expressão.

RIO GRANDE DO SUL
É impossível que a verve gaúcha não tenha me contaminado, inclusive no rock. Eu fazia parte dessa cena, frequentava os shows, os bares. Meus amigos músicos eram da galera do rock e eu mesmo tive algumas bandas na época. Mas essa linguagem latina que o Rio Grande do Sul traz, pela proximidade com a Argentina e o Uruguai, com certeza foi o ponto de partida pelo meu interesse nesse tipo de canção. E isso acabou me mostrando um caminho bacana a trilhar.

COMPOSITOR X INTÉRPRETE
Tem canções que me são mais pessoais do que outras. Mas geralmente eu me afasto um pouco da composição quando ela se realiza. Senão eu não termino, fico sofrendo. Então, quando começo a ensaiar a música com a banda já sinto que ela se desprendeu de mim e começou a ser do mundo. E isso se concretiza no palco. Eu não sou a minha música, então procuro ser um bom intérprete dela.

O PALCO
Quando estou no palco cada momento é precioso. Estou ali para me emocionar, me entregar, sentir aquele lugar naquele instante. É minha Missão e eu acho isso sagrado demais para desperdiçar.

INSPIRAÇÃO
Tem muito de deixar a antena conectada, porque as canções estão pairando por aí. É mais uma questão de saber escutar e captar. Pelo menos comigo. Vem uma frase, um som, uma fagulhinha, e isso pode virar uma fogueira ou não. Tem fases em que eu estou compondo o tempo todo, tem fases em que não. Existe um tempo aí que é muito rebelde. Não tem hora para chegar.

O QUE DESENGAVETAR?
Eu gosto quando eu escuto a canção pronta e arranjada e ela faz sentido para mim. Quando eu consigo descolar da música e vê-la como um ser individual, com potências, características. E tem o momento também. Tem músicas que não combinam mais comigo, que ficaram datadas. Aí eu não me importo de passar para frente, porque se eu não estou conseguindo defender a cria, talvez outro intérprete consiga dar o acabamento necessário à ela.

CANÇÕES DE FOSSA
Eu vejo muita riqueza nesse cancioneiro. Sempre me identifiquei. Mas também gosto de milhares de outras coisas. 'Adoração' hoje fala mais de mim do que muitas outras músicas. Eu sou kamikaze, e esse repertório traduz muito bem isso. Mas eu também aprendi a ser kamikaze de outra forma. Existe, sim, uma intensidade, mas eu posso usar essa verve para cantar 'Dia Perfeito', que é super debochada, ou 'Ave de Prata', que é uma canção extremamente poética.

DISCURSO
A coisa é muito mais instintiva do que cerebral. Eu me vejo numa luta pela arte, pela linguagem, pela expressão e pela poesia, mas o principal desse discurso é a naturalidade. Só se consegue atingir quem quer que seja sendo natural, sem forçar a barra. Não quero colocar palavras na boca de ninguém, quero tocar este ponto em mim primeiro, para que isso reverbere e faça sentido para os outros como consequência.

COMEÇO 2
O lance do discurso é exatamente essa apropriação de ser quem se é, de fazer algo que seja seu. E isso é uma conquista imensa, que está sempre sendo buscada. Não existe ponto de chegada para o artista, e eu acho isso maravilhoso. Todo resultado sugere uma nova busca. Que assim seja!




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