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Brasil será estratégico em Copenhague
06/12/2009 | 07:01
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O encontro da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 15, que começa amanhã, em Copenhague, na Dinamarca, será um momento muito difícil. Como as decisões da ONU são por unanimidade e não por maioria, será difícil chegar a um acordo para atender às diferentes posições dos países participantes.

De acordo com Divaldo Rezende, presidente da CantorCO2 e Brasil e um dos representantes do País na conferência, o Brasil é de fundamental importância para que as negociações climáticas aconteçam. "Nunca se falou tanto em alterações do clima no País". Segundo ele, a pressão mundial nunca foi tão forte para que se chegasse a um acordo efetivo em relação ao aquecimento global.

Rezende conta que o Brasil tem um potencial enorme para desenvolver projetos na área ambiental. "Temos diversos projetos, mas faltam informações sobre as oportunidades, os desafios e as metodologias que podem ser aplicadas". Ele afirma que a concentração de projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) no Brasil está nos Estados mais desenvolvidos do Sul e Sudeste. "Existe uma dimensão muito grande para trabalhar projetos de carbono no Norte e Nordeste."

Hoje, são mais de 350 projetos em andamento no Brasil. Também há uma possibilidade muito grande de geração de créditos de carbono ou redução de emissões em outros mercados, por exemplo, no mercado voluntário.

Ele afirma que o Brasil é um País estratégico em termos de recursos naturais,com capacidade de gerar muitos negócios nessas áreas. Em créditos de carbono, no âmbito de MDL, também chamado de mercado de Kyoto, o Brasil é a Nação com a terceira maior gama de projetos, atrás apenas de Índia e China.

DIÁRIO - Qual será o resultado das discussões de Copenhague?
DIVALDO REZENDE - A perspectiva é que Copenhague não deve ter muitos avanços do ponto de vista de implementação, mas será um marco do ponto de vista político. Existem grandes questões que devem ser acordadas e aprovadas. No âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas) não se aprova nada por maioria, mas sempre por consenso. Uma preocupação é a ausência do Al Gore nas discussões.

DIÁRIO - Qual é o papel do Brasil na COP 15?
REZENDE - O papel do Brasil é estratégico. O País tem um grupo de negociadores do mais alto nível nos diferentes grupos de discussão. O Brasil vai levar uma das maiores delegações da conferência, na qual há um grupo muito restrito de negociadores, que são coordenados pelo Itamaraty, junto com o Ministério da Ciência e Tecnologia e com o Ministério do Meio Ambiente. Há também empresários, governadores, ONGs, estudantes, parlamentares e pessoas que acompanham a delegação, não só para a negociação, mas para participar dos eventos paralelos que acontecem durante a conferência. Nunca se falou tanto em mudanças climáticas no Brasil e a pressão mundial nunca foi tão forte para que se chegasse a um acordo efetivo em relação ao aquecimento global.

DIÁRIO - Os Estados Unidos voltaram a participar das conferências sobre mudanças climáticas. O que muda com o retorno dos norte-americanos?
REZENDE - Neste momento, não muda muita coisa. Os Estados Unidos têm um modelo de governo bastante rígido. Os negociadores que estarão na Dinamarca não vão ter poder de decisão, porque a lei Waxman Bill (que estabelece legislação ambiental) ainda não foi aprovada no Senado. Então, tomar uma decisão no âmbito de um protocolo sem a aprovação da lei norte-americana causaria problemas. Esta pode ser a razão pela qual houve atraso nas negociações de políticas de mudanças climáticas.

DIÁRIO - No ano passado, havia expectativa muito grande com o governo de Barack Obama. Com quase um ano de mandato, essas expectativas se concretizaram?
REZENDE - Na área de mudanças climáticas, a lei está no Congresso. Então, se comparar como estava antes e como está agora, já há um avanço significativo, porém não foi tão rápido quanto o mercado esperava.

DIÁRIO - O ano de 2009 foi bom para o mercado de carbono?
REZENDE - Apesar de toda a influência da crise, 2009 deve encerrar nos mesmos patamares do ano passado, quando o mercado movimentou US$ 120 bilhões. Este ano deve ficar entre US$ 125 bilhões e US$ 130 bilhões. Porém, o volume de negócios do mercado voluntário caiu quase para a metade, pois sofreu queda significativa nos primeiros seis meses do ano e está se recuperando neste semestre.

DIÁRIO - Você costuma dizer que esse mercardo é um ônibus que pode virar um metrô.
REZENDE - Exatamente. É um mercado que sempre está em construção. Não é como uma receita de bolo na qual já se sabe o resultado. E o Brasil tem um papel fundamental nesse processo todo.

DIÁRIO -Qual o potencial do Brasil nesse mercado?
REZENDE - O Brasil tem muito potencial. Temos diversos projetos, mas faltam informações sobre as oportunidades, os desafios e a metodologia que podem ser aplicadas. A concentração de projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) no Brasil está nos Estados mais desenvolvidos do Sul e Sudeste. Existe uma dimensão muito grande para trabalhar projetos de carbono no Norte e Nordeste. Se os projetos de Redd (Redução de Emissões por Desmatamento Evitado, na sigla em inglês) forem aprovados, a região Norte passa a ter um papel fundamental. O importante é explorar os diferentes potenciais, não só no mercado voluntário, mas também no mercado regulado. O Brasil é um país estratégico em termos de recursos naturais com capacidade de gerar muitos negócios nessas áreas. Em crédito de carbono, no âmbito do MDL, chamado mercado de Kyoto, somos o terceiro maior país ofertador de projetos. Hoje, são mais de 350 projetos em andamento no Brasil. Também há uma possibilidade muito grande de geração de créditos de carbono ou de redução de emissões em outros mercados, por exemplo, no mercado voluntário.

DIÁRIO - O que são os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo?
REZENDE - Quando o Protocolo de Kyoto foi discutido, foi definido que os países desenvolvidos, chamados países do Anexo I, deveriam reduzir as emissões de gases do efeito estufa aos níveis de 1990. Para que isso acontecesse, foram criados mecanismos, chamados de mecanismos de flexibilização, para ajudar que esses países atingissem suas metas. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é um deles. Com ele, o Brasil e outros países em desenvolvimento podem preparar e ofertar projetos de redução de emissões, criando um mecanismo de troca. Se colocar o crédito de carbono na pauta de exportações, fica entre os 25 maiores produtos exportados do Brasil.

DIÁRIO - Qual a diferença entre o mercado regulado e o mercado voluntário?
REZENDE - Como o nome diz, o mercado regulado vem de regulamentos que são definidos por países ou pela ONU, e tem alguns compromissos a serem atingidos, como redução de emissões definidas por cada país. O voluntário é um mercado que cresceu a partir da sensibilidade da opinião pública em tentar contribuir para a redução de emissões. Hoje existem instituições, empresas e eventos que neutralizam carbono, onde dirigentes e organizadores calculam as emissões e, partir daí, as reduzem ou compram créditos de carbono voluntário. Esses créditos servem como parte do balanço social, política de responsabilidade social corporativa.

DIÁRIO - O governo federal estabeleceu meta de reduzir as emissões de gases entre 36,1% e 38,9% até 2020. A meta do governo do Estado de São Paulo é de redução de 20% para o mesmo ano. Essas medidas são satisfatórias?
REZENDE - Neste momento, não dá para saber se as metas são ambiciosas ou razoáveis. É possível perceber que, em breve, o Brasil vai começar a trabalhar seu sistema de emissões interno. Talvez, isso possa começar pelo Estado de São Paulo, mas a tendência é se expandir para uma esfera federativa. Estamos em um momento muito oportuno de aprendizado para iniciar um sistema de emissões no País. As grandes empresas já começaram a fazer seus inventários de emissões e mostraram que esse é um grande caminho.

DIÁRIO - Você realizou o primeiro sequestro de carbono do Brasil em 1997. Como isso aconteceu?
REZENDE - O primeiro projeto de carbono do País foi no entorno da Ilha do Bananal (TO) e envolveu diversas instituições. Foi um projeto piloto que gerou vários produtos hoje conhecidos internacionalmente. Foi uma contribuição significativa do Tocantins e do Brasil para esse setor.

DIÁRIO - Quais são esses produtos?
REZENDE - Um deles é o Centro de Pesquisas Canguçu, que já abrigou pesquisas da USP (Universidade de São Paulo) e Nasa (a agência espacial americana) e contribuiu para o surgimento de novos cientistas nesta área. Outra inovação, é o conceito do Carbono Social, que surgiu a partir do primeiro sequestro de carbono do Brasil. Hoje, o Carbono Social é o segundo maior standard do mercado voluntário internacional das negociações de balcão, ficando atrás apenas do VCS (Voluntary Carbon Standard).

DIÁRIO - Como estão as negociações de Redd no Brasil?
REZENDE - O Redd vai ser uma das discussões de Copenhague. A grande dúvida do mercado é qual será a posição brasileira. O Brasil vai propor que 10% das suas reduções sejam feitas através de florestas ou de Redd. Não se sabe se isso será feito por mecanismos de mercado, projeto por projeto, ou por mecanismos dos fundos, que é uma das estratégias do governo brasileiro para receber doações através do Fundo da Amazônia para repassar a esses projetos. O mercado espera que durante a COP 15 isso fique um pouco mais claro.

DIÁRIO - O Redd é benéfico para o Brasil?
REZENDE - Sim. É uma ferramenta que vai ajudar a reduzir as emissões de gases do efeito estufa relacionadas com as mudanças do uso da terra, que representam quase 60% das emissões brasileiras. No âmbito mundial, equivalem a quase 20%.




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