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Zona azul é suspensa em S.Bernardo
Rita Camacho e Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
29/12/2004 | 09:15
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O estacionamento rotativo de São Bernardo, a zona azul, está suspenso por tempo indeterminado desde terça-feira, quando expirou o contrato da Prefeitura com a Varca Scatena, empresa que detinha há seis anos a concessão do serviço na cidade. Os usuários foram os últimos a saber. A novidade pegou motoristas e comerciantes de surpresa, que, apesar do lacre, ainda tentavam utilizar os parquímetros.

A Varca Scatena comercializava 2.702 vagas no Centro e em Rudge Ramos ao custo mínimo de estacionamento de R$ 0,75 por meia hora. Agora, o uso é livre e gratuito. O que em princípio pode parecer vantagem ao motorista tem o inconveniente de diminuir a rotatividade. O carro de um comerciante da rua Marechal Deodoro, por exemplo, pode ficar estacionado o dia inteiro na mesma vaga, enquanto um consumidor ficará rodando atrás de outra. Com o sistema em funcionamento, a média mensal de ocupação era de 250 mil veículos por mês. Os cerca de 200 fiscais da empresa controlavam ainda as chamadas vagas de utilidade pública (para deficientes e em frente à farmácias), que na cidade somam 1.300. Para essas não era necessário emitir tíquetes.

O diretor da Divisão de Rotativos da Varca, Ildefonso S. Neto, afirma que o faturamento bruto da operação era em média de R$ 350 mil/mês. A receita destinada à Prefeitura era de cerca de R$ 80 mil. A administração municipal retirava 19% da receita com bilhetagem e 35,2% sobre remoção de veículo, uso de área de pátio e aviso de prazo de tolerância (taxa de R$ 18,70 paga pelo infrator em até 72 horas para se livrar da multa por estacionar sem bilhete).

Num eventual novo contrato, a arrecadação da Prefeitura vai diminuir. Em junho, a Câmara aprovou projeto do Executivo que reduz o lucro sobre a bilhetagem a 10%. Além disso, a nova lei admite concessão de dez anos, prorrogável pelo mesmo período. A Varca tinha contrato de três, que também foi estendido pelo mesmo tempo. As mudanças incomodaram os vereadores de oposição e o PT chegou a ameaçar levar o caso ao Ministério Público. Mas a polêmica não foi à frente. Terça-feira, o vereador Tião Mateus (PT), líder da oposição, afirmou que ainda não recebeu nenhuma explicação sobre o episódio. “É no mínimo estranho a Prefeitura enviar um projeto para diminuir a própria receita. E não nos deram nenhuma satisfação. Como somos minoria, o projeto passou.”

O secretário de Serviços Urbanos, Gilberto Frigo, diz que a administração estuda entregar a operação para uma entidade filantrópica. “O prefeito (William Dib, reeleito) vê com muita simpatia essa idéia”, diz Frigo. Ele informa ainda que um processo de licitação foi aberto em maio, mas os trâmites permanecem na esfera do Paço e o edital ainda não foi publicado. “Não sei onde o processo ficou parado. Não foi na minha secretaria.”

  

“Como assim?” – Terça-feira à tarde, a reportagem do Diário percorreu a rua Marechal Deodoro, a mais movimentada do Centro de São Bernardo. Ao longo da via, a Prefeitura espalhou faixas para avisar que o sistema rotativo estava “temporariamente desativado” e que o uso do tíquete era dispensado. Mas o informe se perdia no meio de tantos outros letreiros coloridos.

Todos os parquímetros foram lacrados e a maioria deles trazia a explicação. As placas de trânsito foram cobertas com sacos plásticos escuros. Ainda assim, todos os motoristas ouvidos se surpreenderam ao se dar conta da gratuidade.

 “Ué, não tá mais funcionando?”, perguntou à reportagem o aposentado José Veridiano dos Santos, que parou o carro em frente a uma lanchonete e andou um bocado a procura de um ponto para retirar o tíquete. “Ninguém me avisa nada. Não vi faixa nenhuma”, reclamou. Para ele, a cobrança para estacionar deve continuar. “É melhor pagar R$ 0,75 do que R$ 1 para os flanelinhas. Dói no bolso de qualquer jeito”.

A dona-de-casa Lucimeire Motta também deu de cara com o parquímetro lacrado e não entendeu nada. “Não paga mais? Desde quando?”. Ela conta que, como circula muito pelo Centro, acaba gastando bastante com o sistema rotativo. Acha que a tarifa poderia ser mais barata. “Tem vez que gasto R$ 10 num dia, porque vou e volto da Marechal.” Ela conta que sempre tem dificuldades para encontrar uma vaga livre, mesmo com a cobrança e o tempo máximo de permanência estipulado em duas horas.

O metalúrgico aposentado José dos Santos quer que o “temporariamente” dure “para sempre”. Ele muitas vezes deixa o carro em casa e vai de ônibus até o Centro – ele não paga passagem – para economizar no estacionamento. “Nem compensa. A gente paga tanto imposto e não temo direito de estacionar de graça em lugar nenhum mais”, protestou.

Quem trabalha no comércio acredita que o fim da cobrança pode prejudicar as vendas na principal via do Centro. “Qualquer um agora vai largar o carro em uma das vagas e deixar o dia inteiro. O cliente não vai ter onde parar”, opinou a comerciante Tereza de Andrade. O estoquista Anderson Buiko diz que é preciso que os donos de loja e funcionários tenham bom senso agora que a tarifa foi suspensa. “O próprio dono vai querer parar em frente da loja. Vai colocar no estacionamento para quê? Custa uns R$ 35 por mês deixar o carro num deles.”




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