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Niltinho só quer levar o pão para casa

Revelação na Copinha, lateral se emociona ao falar da dura realidade na periferia da Capital

Marco Borba
Do Diário do Grande ABC
22/04/2012 | 07:03
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Nascido e criado em comunidade carente de Interlagos, na extrema periferia da Zona Sul da Capital, e filho de catador de ferro-velho e doméstica, o lateral-esquerdo Niltinho, 18 anos, é mais um entre milhares de jovens que sonham vingar no futebol para ter a vida que jamais teria em outras circunstâncias e tirar a família da miséria.

Recém-alçado das categorias de base do São Caetano, ainda mora no alojamento do clube para evitar o desgaste da longa jornada de ida e volta dos treinos e também economizar os parcos vencimentos – pouco mais de um salário mínimo – e assim ajudar o mínimo que pode para “colocar pão dentro de casa”, como ele próprio descreveu.

 

Filho mais velho de Milton Rodrigues, 45 anos, e dona Elisabete, 33, Niltinho tem outras duas irmãs, uma de 15 e outra de 7. A mais velha, conta, trabalha em lanchonete perto de casa para ajudar no orçamento. “Meu pai tira pouco vendendo sucatas e minha mãe faz bicos de faxineira. Minha irmã ajuda na lanchonete depois que sai da escola, mas também pagam pouco. Às vezes fico um pouco abalado e já pensei em parar, porque tem dia que nem pão tem em casa. Mas minha mãe dá a maior força, fala para não desistir justamente agora, depois de tanto esforço”, disse, com os olhos marejados, após correr por cerca de 50 minutos sob o sol escaldante da última terça-feira, no Estádio Anacleto Campanella.

Segundo Niltinho, o último episódio que o abalou emocionalmente foi a eliminação do Azulinho na Copa São Paulo de Juniores deste ano, nos pênaltis, diante do Desportivo Brasil, nas oitavas de final. “Fiquei chateado porque nos treinos fui um dos melhores cobradores e no momento de decidir perdi a cobrança e fomos eliminados. Me senti culpado, mas não pensei que poderia ser meu fim no São Caetano, até porque fizemos bom torneio e, pela primeira vez, levamos o clube à segunda fase. Serviu de aprendizado”, explicou o lateral.

 

Naquela oportunidade, a equipe vencia o Desportivo Brasil por 1 a 0, permitiu a virada e só não foi eliminado nos 90 minutos porque chegou à igualdade aos 46 do segundo tempo. Se o time passasse, enfrentaria o Santos nas quartas de final.

 

 

O jogador iniciou a carreira no sub-13 da Portuguesa, depois passou pelo Pão de Açúcar e Nacional, da Água Branca, na Capital. Embora tenha se profissionalizado por este último, só começou a treinar e ser observado de fato no elenco principal pelo técnico Márcio Araújo após o início do Paulistão deste ano.

Junto com Niltinho subiram o zagueiro Alan Brandão, o volante William Mineiro, o meia Willian e o atacante Fernando.

Mesmo inscrito no Paulistão, o lateral não chegou a disputar nenhuma partida. Vicente e Diego têm se revezado na posição. A expectativa do atleta agora está voltada para a Série B do Campeonato Brasileiro. “É um sonho disputar esse torneio, assim como o Paulistão. Sei que tem muita gente boa na frente, mas sempre procuro treinar bem para estar preparado para quando a oportunidade surgir.”

É o sexto ano seguido que o São Caetano tenta retornar à elite do Campeonato Nacional. A equipe caiu em 2006 e este ano estreia em casa, dia 19, contra o ASA (Alagoas), no Estádio Anacleto Campanella.

 

Historicamente, clube não costuma aproveitar novatos

Niltinho espera ter melhor sorte que outros jogadores revelados na base do Azulão e que tiveram poucas oportunidades ou sequer foram aproveitados no time principal, caso do zagueiro Mário Fernandes, hoje no Grêmio. A avaliação que se faz é que como a equipe briga novamente para viver os tempos de glória – vice do Brasileiro em 2000 e 2001, vice da Libertadores em 2002 e campeã Paulista em 2004 – precisa ter na linha de frente jogadores mais tarimbados.

Fato também é que os clubes, e o Azulão não é diferente, têm de aproveitar a oportunidade de negociar os atletas quando surgem propostas. “Ainda tenho muito a aprender, mas gostaria de ter boa passagem pelo clube”, comenta Niltinho.

Além de Mário Fernandes, o São Caetano revelou os atacantes Patrik (Palmeiras) e Wendell (Audax) e o goleiro Juninho. Este último também tem sido pouco aproveitado e já foi emprestado aos alagoanos CRB e CSA. Este ano defendeu o Rio Claro, na Série A-2 do Paulista.[07.ASSINA_PE] MB

 




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