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Campanha Janeiro Roxo alerta contra hanseníase

Apesar de queda no número de novos casos, especialistas destacam importância do diagnóstico precoce

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
13/01/2019 | 07:00
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Divulgação


 A campanha Janeiro Roxo destaca que o mês é dedicado ao combate da hanseníase, enfermidade infecciosa crônica transmitida pela bactéria Mycobacterium leprae, bacilo do mesmo gênero do que provoca a tuberculose. Embora a notificação de novos casos da doença tenha caído 88% no período de 2016 a 2018 no Grande ABC, para o coordenador da ONG Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase) em São Bernardo, Reinaldo Matos Carvalho, 70 anos, é preciso melhorar o diagnóstico para que o número de novos casos seja zerado.

Segundo informações do Datasus, foram 50 notificações de moradores da região há três anos, número que caiu para seis no ano passado. “As pessoas devem se olhar, ficar atentas aos seus corpos, e sempre procurar o médico”, alertou. O contágio ocorre pelo contato com gotículas de saliva ou secreções nasais. Uma vez em tratamento, o paciente não transmite mais a doença.

O preconceito ainda é um grande fator que atrapalha o combate à enfermidade, explicou Carvalho. “Quando a pessoa aceita que está doente, se dedica ao tratamento e será curada. Da mesma forma, a sociedade ainda tem preconceito com relação aos doentes e precisa se informar para que isso mude”, declarou.

A Morhan é a maior e mais antiga ONG de combate à enfermidade no País, fundada na década de 1980 em São Bernardo. Carvalho foi diagnosticado com hanseníase aos 11 anos, quando ainda morava no Amazonas. Dos 17 aos 29 anos viveu em uma colônia, locais para onde eram enviados os pacientes entre as décadas de 1920 e 1980. “Era uma cidade, com cinema, tratamento para os pacientes, mas totalmente isolada”, relembrou. “É importante destacar a responsabilidade do paciente, que deve seguir o tratamento à risca. Diagnóstico precoce e tratamento adequado vão fazer o Brasil zerar os novos casos”, pontuou. Estima-se que o País registre 30 mil novos casos por ano da doença.

Os principais sintomas são o surgimento de manchas na pele, que inicialmente apresentam formigamento e evoluem para perda de sensibilidade à dor, ao toque e às temperaturas no local da mancha. Uma vez infectado e sem tratamento, o paciente pode ter número cada vez maior dessas manchas pelo corpo, acompanhadas de inflamação dos nervos, dor e formigamento ao longo dos membros, além de perda da funcionalidade nas extremidades, principalmente das mãos e dos pés, e incapacidades motoras permanentes.

A assessora médica em Infectologia do Fleury Medicina e Saúde, Carolina Lázari, destacou que, diferentemente do mito popular, a hanseníase não se transmite por meio do toque. “Essa crença levou à segregação social dos pacientes durante séculos. Nem todos os doentes eliminam o bacilo na respiração, somente os mais graves. É preciso contato próximo, contínuo e prolongado para adquirir a infecção, por isso a transmissão geralmente ocorre entre pessoas do mesmo domicílio ou ambiente de trabalho, em locais fechados e pouco ventilados”, pontuou.

Desde 2007, o governo brasileiro já concedeu 9.011 pensões vitalícias de um salário mínimo e meio para pacientes que foram internados compulsoriamente em colônias até 1986.

Prefeituras realizam conscientização
Durante o mês do Janeiro Roxo, quando há mobilização intensa contra a doença, quatro prefeituras da região reforçam as ações de procura ativa por novos pacientes. Santo André conta com o Programa de Controle da Hanseníase, que está inserido no Programa de Controle dos Agravos Crônicos Transmissíveis, na Coordenadoria de Especialidades – Departamento de Atenção à Saúde, e promove a distribuição de cartazes e panfletos nos serviços de Saúde, em especial no dia 27 de janeiro, que marca oficialmente o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase.

No dia 28 de janeiro, a Prefeitura de São Bernardo programou ação de conscientização com os pacientes da Policlínica Centro, local onde os pacientes fazem acompanhamento. Além disso, todas as 34 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) possuem cartazes informativos sobre os cuidados com a doença. Em Diadema, as 20 UBSs da município farão busca ativa de possíveis sintomáticos para hanseníase.

Durante a campanha Janeiro Roxo, profissionais da Saúde de Ribeirão Pires vão intensificar as orientações sobre a doença – o que é, como diagnosticar e como tratar. Palestras e rodas de conversa serão realizadas nas UBSs e no Serviço de Atenção Especializada da rede municipal, onde também estarão disponíveis materiais informativos sobre o assunto. Todos os municípios contam com acompanhamento multiprofissional para os pacientes. As outras cidades não responderam.

“A hanseníase é uma doença genética e cerca de 90% da população possui defesa contra a bactéria. Se identificada no início e for feito o tratamento, que é gratuito, pelo SUS, (Sistema Único de Saúde) a cura se dá rapidamente”, explicou a fisioterapeuta Juliana Mendes. O tratamento é simples, por meio de medicação e dura entre seis meses e dois anos.

O Brasil é o segundo no ranking mundial de número de casos novos de hanseníase ao ano, atrás apenas da Índia.




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