A ideia inusitada de levar som para o mais silencioso dos ambientes culturais está sendo aplaudida na Biblioteca de São Paulo (Av. Cruzeiro do Sul, 2.630. Tel.: 2089-0800) na Capital. Todos os domingos, leitores fecham os livros e abrem a mente para diversos estilos musicais. Neste mês, o projeto gratuito Música na Biblioteca vai do jazz ao rock. Um dos trombonistas mais reconhecidos do País, o são-bernardense Bocato se apresentará no domingo, às 17h.

O ritmo é jazz fusion. O repertório, nem ele sabe. "Vou tocar o que faço na noite. Coisas minhas e o que der vontade. Não tenho programação e não me preparo porque estou sempre preparado. Faço cerca de 250 shows por ano. Então, olho na ‘cara' das pessoas e faço o que elas querem. Dentro disso, tento engrossar o caldo para que saiam de lá com algum crescimento", diz Bocato.

Para o palco, levará seu grupo, formado por baixo, bateria e teclado. "Jazz fusion é mistura de jazz, como forma de improvisação, ao rock, ao funk norte-americano e à música étnica. Quem espera ouvir sambinha, música brasileira, nem precisa ir porque não vai ter", brinca ele, que começou a tocar em 1967 na banda do grupo escolar Doutor Baeta Neves, em São Bernardo, e já participou de gravações com estrelas como Elis Regina, Ney Matogrosso, Rita Lee, Roberto Carlos e outros.

Com 36 anos de carreira, Bocato não se lembra de ter se apresentado em biblioteca. A sensação de ineditismo o empolga: "É um público sedento por adquirir conhecimento cultural. Isso me encanta".

Apesar de animado com o show, Bocato revela decepção com o meio artístico. "Tenho 22 discos e nunca consegui patrocínio. O Ministério da Cultura do músico brasileiro é a noite. São os bares. Os cachês não são grandes, mas constantes", afirma.