Cultura & Lazer Titulo Música
A voz de Deus

Elza Soares lança ‘Deus é Mulher’, álbum repleto de discursos políticos-sociais

Daniela Pegoraro
21/05/2018 | 07:00
Compartilhar notícia
Darvan Dornelles/Divulgação


Dona de voz singular, Elza Soares foi eleita em 1999 pela BBC como a cantora brasileira do milênio. No entanto, ficar no passado foi uma opção que sequer cogitou. Elza vem com força para conquistar a nova geração e os anos que se seguirão. Para isso, põe nas prateleiras seu 35º disco, Deus é Mulher (Deck, R$ 25 em média). E não é só pelo vocal que pretende atingir o público, mas por tudo o que representa.

Mulher negra da periferia, é dona de canções que abordam todo o universo político, social, de gênero e sexual. Militante ativa do movimento feminista, é na arte que encontra espaço para expressar sua luta e vivência. Com 87 anos, não gosta de se ater ou limitar. “Eu não tenho idade, eu sou o tempo”, explica a artista ao Diário.

Depois de ter lançado, em 2015, o álbum A Mulher do Fim do Mundo, que lhe rendeu um Grammy Latino, sua nova obra apresenta a resposta de alguém que se fortaleceu. “A figura feminina no disco anterior vinha cobrando, questionando. Em Deus é Mulher ela vem respondendo: ‘Eu estou aqui’”, revela a cantora.

Elza ainda acrescenta que firmou a ideia de fazer algo tão forte quanto o disco anterior, mas com temáticas que não fossem tão pesadas, e sim “mais claras e animadas”. Além disso, a motivação maior veio de não querer ficar parada. “Esse álbum vem como uma despedida de A Mulher do Fim do Mundo. Não quis dar uma pausa, já queria emplacar algo em seguida”, explica.

Das 11 faixas apresentadas no disco, a artista viaja do samba ao pop, com músicas escritas por compositores como Tulipa Ruiz, Pedro Luís, Alice Coutinho e Rodrigo Campos. Essa diversidade, em particular, é de grande relevância para a cantora. “É bom misturar os ritmos, tira a gente da monotonia”, conta. A canção que abre o disco, O Que Se Cala, questiona a opressão, impondo seu lugar de fala. Só pela primeira música dá para se ter uma ideia do que virá na sequência. O discurso político continua forte, principalmente na questão de dar voz às histórias e às realidades das minorias. “É muita responsabilidade representar causas tão sérias. Eu sempre expresso o que penso, o que sinto. Não que minha realidade seja única, mas é minha”, diz Elza.

E essa facilidade de expor suas ideias na tentativa de expandir a visão das pessoas vem desde criança, como relembra. “Quando pequena, eu perguntava: ‘Onde está Deus?’. Porque, para mim, Deus é conforto de colo de mãe”.

De todas as bandeiras que Elza levanta, uma das que mais se destaca é a do negro. A questão do racismo vem de experiência própria. “Foram vários momentos em que sofri por ser uma mulher negra, mas fui maior do que isso e não deixei me abater”, recorda. Embora a Lei Áurea tenha completado neste mês 130 anos, para a artista o Brasil ainda tem muito o que avançar nesse quesito. “Nosso País é o mais racista do mundo. Nós temos que nos mudar, abrir a mente e se libertar.”

E embora as lutas das causas sociais sejam de ideologias em comum, a cantora faz questão de pontuar a importância da individualidade na quebra de estereótipos. “Você é você. O seu vizinho é seu vizinho. Nossos sonhos são diferentes”, diz. E por falar em sonhos e desejos futuros, Elza ainda não tem certeza do que ambiciona de diferente, “só o tempo dirá”. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;