Cultura & Lazer Titulo Culturas diversas
Gestos, gostos e sons dos refugiados

Imigrantes que vivem no Brasil levam suas culturas a Festival em São Bernardo

Caroline Manchini
20/05/2018 | 07:00
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Arquivo Pessoal


Hoje o dia será atípico na região. Quem se interessa por culturas diferentes e exóticas terá oportunidade de mergulhar nos universos sírio e africano. O Meninos Futebol Clube, em São Bernardo, recebe, a partir das 13h, a primeira edição do Festival Cultural Conhecendo os Refugiados.

Como o nome já diz, o evento foi organizado especialmente para evidenciar a cultura de povos tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximos de nós. Refugiados da Síria e de alguns países africanos, que hoje vivem no Brasil, estarão no espaço para compartilhar suas tradições e histórias. “Tudo será feito e comercializado por eles. Acredito que esse evento é forma de incluí-los na sociedade e de fazer com que os brasileiros tenham contato com costumes completamente diferentes”, explica a organizadora do festival, Tatiana Cavalcante.

Ao todo serão dez expositores de comidas típicas, cinco de artesanatos e três grupos musicais. O público poderá ver também desfile de moda organizado e comandado por Maycon Clinton, refugiado da Angola e hoje dono da escola de modelos Namib Pro Models, criada há seis anos em São Paulo.

Após vivenciar episódio crítico – teve sua vida ameaçada por problemas familiares –, Clinton, 28 anos, se viu obrigado a deixar seu país de origem para buscar novas oportunidades e uma vida melhor. Quando tinha 18 anos deixou tudo para trás, incluindo família e amigos. Chegou ao Brasil desolado. “Tive de largar tudo de uma hora para outra. Foi muito difícil, pois não conhecia ninguém aqui e tive que me virar sozinho”, relembra o angolano.

Com o pouco dinheiro que tinha, alugou um quarto de república estudantil em São Bernardo, primeira cidade brasileira onde viveu. Sem emprego e, consequentemente, sem fonte de renda, Clinton teve de deixar a república, já que não podia arcar com os gastos. Sozinho e sem muitas opções, foi obrigado a morar, durante um mês, nas ruas do Centro de São Bernardo. Atualmente mora em Guarulhos.

Apesar dos momentos difíceis ele se recorda da empatia do povo brasileiro: “Desde que cheguei fui muito bem recebido por todos e, mesmo em situação de rua, as pessoas não deixaram de me ajudar, estavam sempre doando alimento, roupas e cobertas”.

Essa solidariedade, tanto dos moradores como de policiais e centros que acolhem refugiados, foi fundamental para que Clinton se reerguesse e construísse nova história. Decidido, correu atrás dos sonhos, conseguiu emprego fixo, estudou teatro e, como já trabalhava com moda em Angola, criou sua própria escola de modelos, a mesma que participará hoje do festival.

“Quando me passaram o endereço do evento fiquei emocionado. Dormi três noites em frente ao local e me orgulho por voltar não mais como morador de rua e sim como empresário”, conclui.

LUTANDO PELA VIDA
Ex-moradora de Damasco, capital da Síria, Joanna Ibrahim, 30 anos, já não estava segura em seu país quando decidiu deixá-lo. Por conta da guerra que assola o território, ela decidiu, em 2015, se refugiar em terras brasileiras.

Mesmo sem falar português e com dificuldade de encontrar emprego, Joanna, que atualmente vive em São Paulo, não desistiu e, aos poucos, foi se adaptando ao País que a acolheu. Hoje ela é dona de um restaurante (Open Taste) que, além de servir comidas típicas da Síria, tornou-se negócio compartilhado. “Toda semana convido uma família refugiada para cozinhar pratos tradicionais de seu país. É uma forma de ajudá-los a ganhar dinheiro e de mostrar aos brasileiros diversas culturas”, esclarece.

Hoje ela levará ao evento cerca de sete refugiados que apresentarão pratos típicos da Síria, Palestina e África.

Conhecendo os Refugiados – Festival Cultural. No Meninos Futebol Clube – Av. Caminho do Mar, em São Bernardo. Hoje, a partir das 13h. Grátis.




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