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Cala a boca, companheiro
Por Rodolfo de Souza
17/05/2018 | 07:07
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E novamente um grupo de parlamentares, ao que tudo indica ocupadíssimo, surge para proclamar e colocar em votação o projeto de lei, no mínimo vergonhoso, ‘escola sem partido’ que visa, tão somente, calar a boca do professor.

Não se sinta intimidado, amigo leitor, caso seja também um malabarista das salas de aula. Mas fato é que não se discutirá política na escola, segundo preconiza o famigerado projeto. Tampouco se falará de gêneros e demais assuntos pertinentes a este mundo de modernidades. Andaremos, pois, de marcha-ré ou na contramão dos novos tempos. E o educador, nesse plano diabólico, é sujeito visado por ser o profissional que lida com crianças e adolescentes, apto, portanto, a delinear mentes ainda muito jovens, passíveis de ganhar um formato novo, mais complexo, com olhar perscrutador e um tanto perceptivo das coisas do mundo.

Sonho bom este de moldar essas mentes, que o professor acalenta, embora frequentemente se frustre e acorde cheio de desejo de partir para outra profissão, motivado pela resistência ao aprendizado que normalmente oferecem as novas gerações, pouco afeitas ao livro didático.

Conservadores ultra-arcaicos e alguns religiosos encabeçam o tal projeto, que tem por objetivo confinar a Educação do País num canto qualquer do espaço-tempo, possivelmente um século atrás, lugar obscuro sem internet, TV, celular ou qualquer outro meio de comunicação ou de acesso à Cultura. Provavelmente se exigirá, uma vez aprovado, que todos se vistam com fardas e possuam o mesmo corte de cabelo; que ouçam só músicas marciais ou de exaltação à Pátria; que cultivem lírios e rosas, nunca margaridas; que jamais se esqueçam de reverenciar retratos e estátuas de governantes, espalhados pelas cidades... É assim que deverá funcionar o novo sistema que ainda prevê que o jovem, depois de formado, se casará e constituirá família com filhos que seguirão o mesmo caminho, completamente cegos perante os problemas do mundo e principalmente do seu País.

É preciso admitir, no entanto, que o projeto daqueles, apesar de absurdo, até que não destoa muito da realidade que vivemos agora. Eu explico: não será difícil implementá-lo, tendo em vista que a precariedade em que, há décadas, está mergulhado o nosso ensino tem criado gerações de pessoas, cujo desenvolvimento intelectual miúdo não lhes permite sequer entender o que por ora se discute aqui neste espaço. Fácil, pois, concluir que não haverá grandes dificuldades em se levar a cabo a questão do escola sem partido, sobretudo porque pouco se fala para o aluno, normalmente de pouca ou nenhuma leitura, com sérias dificuldades de entendimento e, para quem, assuntos de alguma complexidade definitivamente não compõem o seu cardápio. Refiro-me infelizmente à maioria ou a uma grande parcela da população que, mesmo tendo frequentado com assiduidade a escola, não absorveu o conhecimento e, consequentemente, não aprendeu a pensar.

Mas claro que os parlamentares sabem de tudo isso! Preocupa-os, contudo, o pequeno contingente que aproveita de fato seus anos escolares. Este pode, por meio do saber, abreviar os anos de glória de um seleto grupo que vem, por décadas, trabalhando arduamente contra o progresso da Nação que condenaram a permanecer no submundo da pobreza. 




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