Cotidiano Titulo
A intervenção
Rodolfo de Souza
22/02/2018 | 07:00
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 Nossa! Houve intervenção federal lá na província em que se supõe esteja a maior criminalidade do reino do Ó! Por esta razão é que o rei, o mais torpe ocupante do trono de que se tem notícia, baixou decreto, assim como se baixa um aplicativo, determinando que o Exército, sob o comando do general fulano de tal, assuma, desde já, a chefia do lugar.

E o mesmo assim o fez, do jeito que todo o general gosta que funcionem as coisas: sob o seu comando. Tudo isso por causa do governador que não deu conta do recado, e do prefeito que deu no pé ao invés de cuidar da cidade, capital da província, em cujo seio deita e rola todo o ser humano que tem nas veias o sangue fervente de quem ama a Folia de Momo. Mas peraí: por causa de quê o governador teria se refugiado na sua pequena cidade? E o prefeito, por que teria procurado esconder-se lá na Europa, lugar que em nada pode contribuir para o momento crucial que vive sua cidade e onde o samba não tem poder de argumentar, como tem aqui em pátria de ninguém? Teve medo de lhe causar incômodo a voz do morro, cheia de ritmo e de raça?

E eu que tinha um texto em sua fase final, tive que deixá-lo a um canto, por ter me causado inquietação o noticiário que novamente me fez deitar a pena neste vasto território branco só para refletir sobre a questão junto ao meu amigo leitor que também desconfia que um novo golpe está a caminho. Sim, porque essa desconfiança surge matreira no peito escaldado que não encontra muita dificuldade para deduzir que se tal empreitada é ideia do rei interino, boa coisa não há de ser. Não sou analista político, somente mero expectador, embora considere isso suficiente para não acreditar que algo bom possa advir dessa medida.

Por que, afinal, haveria de adotar agora atitude tão extrema e polêmica em outro setor da governabilidade, se o soberano lutou bravamente para ver aprovada emenda na Constituição que bota por terra o direito de se aposentar a gente que passou décadas contribuindo compulsoriamente?

Percebo, inclusive, que este texto tem mais indagações do que respostas. Mas quem, a não ser a cúpula do mal, é capaz de responder?

Na verdade, a população do reino não sabe mais em quem acreditar, ou no quê acreditar. Os noticiários despejam miscelâneas de informações, por meio de entrevistas, reportagens e tudo o mais. Além do quê, a mídia, pouca gente duvida, é tendenciosa e joga descaradamente do lado de sua alteza. Dia destes, por exemplo, vi um conceituadíssimo jornalista, em conversa ao vivo com o rei, dizer-lhe que nunca vira um soberano realizar tanto pelo seu país em somente dois anos de mandato. Assustou-me, inclusive, o voo excessivamente baixo empreendido pela ave de rapina do jornal. Despertou-me até o desejo de saber acerca do montante de dinheiro público despejado no colo do tal para que proferisse tão indigesto e mentiroso elogio no ar. Prestígio de gente mais do que conhecida no meio jornalístico a serviço do inigualável rei e seu cetro dourado. Baixaria!

Há quem diga ainda que existe uma conspiração para levar à população o medo, noticiando e exibindo na TV muita violência com requintes cinematográficos de dar inveja em Bruce Willis. Isso sim justificaria militar fora do quartel. E o coitado do povo é até capaz de se sentir seguro, incapaz de perceber que seu grito será sufocado na garganta por meio da força, como fora em passado não muito distante.




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