Como alternativa às multidões dos blocos de rua e desfiles de escolas de samba, igrejas cristãs oferecem retiros aos fiéis durante os quatro dias de Carnaval. Conhecidos como ‘rebanhões’, os eventos possibilitam desde momentos de oração, rodas de conversa até apresentações musicais religiosas e, por que não, diversão. Entre as sete cidades, são pelo menos dez opções de encontros do tipo (veja arte ao lado), com expectativa de reunir cerca de 9.000 pessoas.

O cronograma de atividades organizado pela Diocese de Santo André, responsável pelas sete cidades, prevê retiros em escolas, teatros e ginásios. Além de missa diária e períodos de louvor, há ainda palestras, dança, teatro e shows.

No entanto, aqueles que pensam que os retiros religiosos propõem apenas orações durante 24 horas por dia não entenderam a proposta. Quem escolhe participar destes encontros busca, além do contato com a fé, fuga da rotina e oportunidade de conhecer novas pessoas. A dona de casa Eliana Lemos Souza, 41 anos, de São Bernardo, garante que há diversão. “O legal é conhecer gente nova, conversar sobre experiências. A gente aprende com as (experiências) dos outros e ensina com as nossas”, considera ela, que frequenta os ‘rebanhões’ há 20 anos.

O professor de História da FMU Eduardo Molina acrescenta que a proposta destes encontros religiosos é unir lazer, convívio social e oração. “As programações são diversificadas e, além de cuidar da parte espiritual, que é essencial para o nosso cotidiano, sempre pude me divertir, praticar esportes, conversar e fortalecer os laços de amizade”, afirma.

Outro ponto destacado pelos participantes é o fato de os retiros ajudarem a relaxar e a dar fôlego para o ano, que está apenas começando. “O resultado final é sempre acima do esperado. Voltamos revigorados para encarar o restante do ano”, ressalta Molina.

Famílias com crianças também são bem-vindas nos chamados ‘rebanhões’. Um dos mais tradicionais da região, o Reviver, é organizado pela comunidade católica Shalom, presente em Santo André há sete anos. Além das atrações para os adultos, haverá o Reviver Kids, com programação específica para os pequeninos. “O Reviver vai abordar os impossíveis para nós, mas não para Deus. Ainda teremos curso vocacional para que nos encontremos. Para que Deus nos fez? Onde é o nosso lugar?”, essas serão as questões abordadas no evento, destaca a responsável pela festa, Fernanda Teixeira.

Ligação entre festa e a Igreja surgiu a partir da quaresma

Relatos sobre o Carnaval ou festas similares datam dos tempos da antiguidade. Tais festas eram celebradas pelos considerados pela Igreja Católica povos pagãos, como gregos e mesopotâmios.

A ligação entre o Carnaval e a Igreja se consolidou a partir da criação da quaresma – período de 40 dias antes da Páscoa –, já que a Igreja permitia os excessos das pessoas nos dias que antecediam os 40 dias de abstinência de carne e outros prazeres mundanos.

No Brasil o Carnaval começou no período colonial. Trazida pelos portugueses, a festa evoluiu de brincadeiras em que as pessoas jogavam água e lama umas nas outras para baile de máscaras, cordões de rua, até chegar aos desfiles.

Foi na década de 1980 que o padre Jonas Abib começou o que hoje é chamado de ‘rebanhão’, retiro espiritual cristão durante o Carnaval.