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Grande ABC registra queda de 98% nos casos de dengue

Número menor de contaminações não afasta perigo de novos surtos da doença, alerta especialista

Bia Moço e Juliana Stern
Especiais para o Diário
28/01/2018 | 08:36
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Nario Barbosa/DGABC


O Grande ABC registrou queda de 97,73% nos casos autóctones (contraídos na cidade de origem) de dengue na comparação entre 2016 e 2017. A quantidade de vítimas do mosquito Aedes aegypti – que também propaga o zika vírus, chikungunya e febre amarela na área urbana – passou de 1.986 para 45 no período, conforme informações do CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) do Estado.

A diminuição, entretanto, não quer dizer que a região esteja livre de novos surtos da doença, alertam especialistas. Por isso, população e gestores públicos devem permanecer em alerta em relação às medidas preventivas.

A dengue continua sendo ameaça para a população, ressalta o médico infectologista do Hospital e Maternidade Dr. Christóvão da Gama Munir Akar Ayub. De acordo com o especialista, existem quatro tipos de sorologias do vírus causador da doença, sendo que as duas últimas – três e quatro – são raras e só foram observadas fora do País. Entretanto, já foram confirmados registros do tipo dois no Estado de São Paulo, conforme o médico, o que ainda não havia acontecido. “O vírus sofreu modificação e agora chegou no Estado a dengue de tipo dois, portanto, pode ser que entre os meses de fevereiro e março tenhamos novo surto.” Aqueles que se vacinaram contra o vírus, no entanto, não devem se preocupar, já que a imunização é eficaz para as quatro sorologias.

Ayub destaca que a população deve permanecer atenta, uma vez que as campanhas não têm surtido o efeito esperado. “O mosquito continua cada vez mais forte, sempre trazendo novas doenças. É importante dar continuidade aos cuidados em casa.”

O especialista explica que em boa parte da população a dengue se manisfesta de forma leve, como uma virose, o que faz com que as pessoas não percebam que já tiveram o problema. “A minoria tem manifestação forte e busca os médicos. Quem pegou a primeira versão da doença está imune a ela, mas não à do tipo dois. Em 2017, tivemos poucos casos de dengue, pois a maioria da população já havia sido contaminada com o tipo um. Agora, com o novo vírus, será um ciclo diferente.”

População segue atenta sobre cuidados contra o Aedes

Embora a febre amarela seja o alvo das campanhas preventivas atualmente, moradores da região destacam que não se esqueceram dos cuidados necessários para evitar a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika vírus, chikungunya e febre amarela nas áreas urbanas.

A dengue é mais comum em áreas povoadas, já que o mosquito transmissor opta pelo ambiente, preferindo se reproduzir em criadouros artificiais com água parada. Não por acaso, a moradora do bairro Utinga, em Santo André, Cristina Cordeiro da Silva, 51 anos, redobra a atenção. “Passo repelente, não deixo garrafa com água e não tenho planta em casa. Tem que fazer o que dá, o mosquito não vem com crachá para saber se está infectado ou não”, comenta.

De acordo com Cristina, faz quase um ano que ela não recebe visita de funcionários da Prefeitura para checar possíveis focos do mosquito. “Eles vão de porta em porta, entram nas casas para ver se está tudo bem.”

O desempregado Edinaldo Oliveira, 53, morador do bairro Jordanópolis, em São Bernardo, acredita que a população deve estar atenta aos riscos de contaminação, tendo em vista a gravidade da doença. “Tem que prestar muita atenção. Lavar a caixa d’-água, colocar areia nas plantas e tomar a vacina”, afirma. Por lá, segundo ele, a monitoria de agentes de Saúde é constante.

Crise faz com que Consórcio diminua ações de combate ao mosquito

Com a queda do número de casos de dengue, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC diminuiu as ações voltadas ao combate da doença na região. Não há previsão de campanha de conscientização para a população sobre o tema, tampouco programação de medidas conjuntas entre as seis cidades que compõem o colegiado (Diadema não participa). A justificativa do órgão são as “reduções no orçamento da entidade em 2017 e 2018”.

Entretanto, segundo o Consórcio, ações de combate são discutidas mensalmente na sede do colegiado, com participação dos técnicos das seis cidades. Além disso, a realização de visitas casa a casa nas áreas de divisa é articulada nestes encontros.

Conforme o Diário informou em reportagem publicada no dia 6, as prefeituras da região programam, individualmente, ações de vistoria nas casas e pontos estratégicos que sejam considerados vulneráveis ao mosquito – áreas verdes, obras, pontos de descarte irregular de lixo e lagos.

Em 2017, agentes comunitários epidemiológicos de Santo André realizaram, segundo a Prefeitura, 331.077 visitas a residências, sendo detectados e eliminados 365 focos e identificadas 5.736 larvas. São Bernardo realizou, no ano passado, um milhão de vistorias, com 800 focos extintos. Já na cidade de Mauá foram feitas 251.856 vistorias e encontrados e eliminados 243 focos.

A dona de casa Eliane Cícera Dias de Oliveira, 49 anos, moradora do bairro Jordanópolis, em São Bernardo, se preocupa com a presença de córrego ao lado de sua casa. “Sempre vem alguém conversar com a gente sobre dengue, mas nosso esgoto fica parado no canal aqui em frente, juntando mosquito”, afirma.  




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