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Família de Zanho passa dificuldade

Mãe e viúva de torcedor palmeirense morto por corintianos relatam vida difícil após assassinato; dois homens estão presos acusados de homicídio

Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
10/08/2017 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 “Mamãe, você compra um pai novo para mim lá no mercado?” Essa é a pergunta que Tábata Vello, 30 anos, tem escutado com frequência do filho mais novo, Rafael Vello Zanho, 3, o mais apegado ao pai, o torcedor palmeirense Leandro Zanho, 38, de Santo André, que foi assassinado no dia 13 de julho, após se envolver em uma briga com torcedores do Corinthians, em São Paulo. Após a tragédia, a viúva e a mãe do torcedor falaram à equipe de reportagem do Diário como estão enfrentando o luto, cuidando dos três filhos deixados por ele, e fazendo com que a vida retorne aos trilhos novamente.

“Sinto muito a falta dele, mas temos de enfrentar esta triste realidade. Graças à ajuda de amigos, estamos conseguindo fazer compras e pagar algumas contas. Alguns torcedores realizaram uma rifa e arrecadaram R$ 1.000 para nós”, desabafou a dona de casa Tábata Vello, ao confessar que no momento somente tem forças para cuidar dos filhos Guilherme, 12, Wilson, 10, e Rafael, 3.

Questionada sobre a paixão do companheiro pelo Palmeiras, Tábata pondera que esse fato nunca causou qualquer problema até o dia do crime. “Cheguei a ir com ele em diversos jogos, assim como ele também levava a família para o estádio. Quem leva a família para o estádio não quer briga”, lamentou a mulher.

A repercussão do caso na mídia, envolvendo mais uma morte provocada por brigas de torcidas de times de futebol, fez com que os familiares do andreense conseguissem uma advogada para acompanhar o processo gratuitamente. Paralelamente, a Polícia Civil dá continuidade às investigações e mantém presos Nerivaldo Moura de André, que confessou o crime e foi indiciado como autor dos golpes que provocaram a morte de Zanho, e Anderson da Cruz Andrade, acusado de ter participado do homicídio qualificado. Outras testemunhas que possam ter presenciado os fatos ainda serão ouvidas.

Com o olhar distante em meio ao vácuo que lhe foi criado, a mãe – não apenas do torcedor do Palmeiras, mas também do mecânico montador e único filho – Odete Zanho, 69, já não quer mais assistir aos jogos do time preferido da família. Apenas lembra das tantas vezes em que esteve no estádio acompanhando o filho para assistir a mais uma partida.

“Ele me levava até a área destinada aos idosos e deficientes para assistir ao jogo. Ao final, voltávamos tranquilamente para casa”, lembrou Odete, que convive com uma limitação de mobilidade devido a paralisia infantil.

Antes de entrar para as estatísticas de mortes por brigas de futebol, Zanho travava, havia quatro anos, briga contra o câncer, que já tinha acometido um dos olhos, atingido o pâncreas e parte da coluna. “Ele começaria a quimioterapia na sexta-feira, um dia após ter morrido daquela forma injusta”, disse a mãe, que já espera por um Natal triste, já que nessa data o filho completaria 39 anos.

“Conviver com a morte de um filho é uma das coisas mais dolorosas que alguém pode experimentar, ainda mais quando ele era presente. Minha preocupação é a índole do meu filho. Tenho medo que achem que ele era agressivo”, conclui a mãe.

 

Torcedor será homenageado no sábado

Organizada pelo Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Mancha Verde, uma homenagem ao Gog, como também era conhecido Leandro Zanho, está prevista para o dia 12 de agosto, no campo do 7 de Setembro, localizado no bairro Valparaíso, em Santo André, onde o palmeirense morava.

Com a presença de amigos, torcedores e integrantes da escola de samba, o tributo contará com camisetas e um bandeirão com a imagem de Zanho. “É uma maneira de nos sentirmos mais próximo dele. Ele era muito querido”, finalizou a viúva Tábata Vello.

Ex-secretário nacional de Segurança Pública, o coronel José Vicente da Silva Filho avalia que casos como o de Leandro Zanho ainda acontecem por falta de uma punição mais severa. O especialista, contudo, reconhece que tanto a PM (Polícia Militar) quanto MP (Ministério Público) já possuem boas ações para inibir este tipo de violência. “Estão proibidas vendas de bebidas alcoólicas, assim como porte de fogos de artifício dentro dos estádios. Essas são ótimas medidas para evitar brigas e confusões entre torcedores”, explicou o coronel.

Filho ressalta que muitas das medidas inseridas no Estatuto do Torcedor, sancionado em 2003, não são colocadas em prática. “Na Inglaterra, por exemplo, se um torcedor causar qualquer tipo de tumulto, ele fica cinco anos sem assistir aos jogos do time. Além disso, é obrigado a se apresentar em uma delegacia no horário da partida e sair de lá apenas quando o jogo terminar.”

Para concluir, o especialista em Segurança defende a presença de apenas uma torcida no estádio para os jogos entre clássicos.

 




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