Filho do ex-prefeito de São Caetano Raimundo da Cunha Leite (morto em abril), Eduardo Cerqueira Leite foi preso ontem, acusado de tentativa de obstrução da investigação no âmbito da Operação Zelotes e também por recebimento de propina.

Auditor da Receita Federal, Leite foi detido pela PF (Polícia Federal) em Santo André na manhã de ontem. Além dele, o empresário Mário Pagnozzi foi preso preventivamente.

Leite foi apontado pelo MPF (Ministério Público Federal) como um dos mentores de suposto esquema que envolvia perdão de dívidas milionárias no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), da Receita Federal, mediante pagamento de propina.

Ainda segundo o MPF, o auditor do Grande ABC, além de obstruir a Justiça, estava ocultando patrimônio recebido com dinheiro ilegal. O esquema, conforme o MPF, ocorreu entre 2005 e 2015. Outras nove pessoas viraram rés após o juiz federal Vallisney Oliveira aceitar denúncia de procuradores.

Na denúncia oferecida à Justiça Federal, o MPF indica que Leite recebeu ao menos R$ 1,5 milhão de propina. Um dos casos em que ele teria atuado era para favorecer o Bank Boston. Investigadores afirmam que esquema dentro do Carf permitiu fraude de R$ 500 milhões por conta de decisões favoráveis à instituição financeira.

O pagamento das vantagens indevidas era feito por meio de empresas laranjas. Sigilos bancários de três companhias foram quebrados durante a apuração – Ascon Consultoria Empresarial, JLT Consultoria Empresarial e Melmac Consultoria Empresarial. O trabalho do MPF relatou que essas empresas foram usadas por Leite para lavar o dinheiro recebido de forma irregular.

“Devo destacar que a denúncia aponta inúmeras práticas de lavagem de capitais, que não foram poucas, nem isoladas, todas consistentes em atos articulados de forma calculada e objetivando não deixar rastros, o que pode continuar a acontecer com possíveis condutas desses requeridos em conluio com os demais. Presos, Eduardo Cerqueira e Mágio Pagnozzi, o primeiro o distribuidor e o segundo um dos destinatários finais, em conformidade com a denúncia, não poderão ter durante o processo a liberdade de acertos e combinações com os demais integrantes da indicada organização criminosa”, escreveu o juiz Vallisney Oliveira.

Politicamente, Eduardo Cerqueira Leite teve pouca atuação no Grande ABC. A última especulação envolvendo seu nome foi em 2012, quando foi cogitado a assumir cargo de secretário da Fazenda da Prefeitura de São Caetano na gestão passada, o que não se confirmou.

Leite é réu em três ações penais no âmbito da Operação Zelotes – do Bank Boston, do grupo Safra e do banco Santander (todas acusadas de pagar propina para se livrar de multas dentro do Carf).

A equipe do Diário não localizou os advogados de Eduardo Cerqueira Leite.