A guerra do streaming, que parecia ganha, exibe suas fissuras, conhece seus revezes. Enquanto isso, o 70º festival avança. Todd Haynes e equipe (Julianne Moore) mostraram na quinta, 18, Wonderstruck, que ele adaptou do livro de Brian Selznick, o mesmo autor de A Invenção de Hugo Cabret. Pode ser subjetivo, mas Haynes dá um baile em Martin Scorsese. Seu filme conta a história de duas crianças, uma em 1927 e outra, em 1977. Qualquer pessoa que tenha lido a sinopse, e o repórter, vendo o filme, faz-se a pergunta - quando, e como, essas histórias vão se cruzar? Pois se cruzam. Encontram-se, e não é no infinito.
Haynes tem sido uma presença frequente em Cannes. Quem o acompanha sabe que todos os seus filmes são de época. A parte de Wonderstruck que se passa em 1927 é em preto e branco, como se fosse um filme silencioso. As crianças, vale acrescentar, são surdas, e também por isso o filme reduz o diálogo ao mínimo, quando não prescinde dele.
Depois, os anos 1970, que Haynes considera a época mais decadente de Nova York. Julianne Moore faz uma estrela do silencioso e uma velha, 50 anos mais tarde. Sem risco de spoiler, é bom não acrescentar mais nada, exceto que Wonderstruck é um filme para levantar o astral em época de crise. Tem um que - uma excentricidade - à Wes Anderson. Julianne, atriz fetiche do autor, é magnífica - mas quando ela não é?
Do universo - estilizado? -, o festival saltou para a violência do mestre japonês Takashi Miike. Viva a diversidade. A Espada do Imortal começa com uma carnificina. Um samurai promove um banho de sangue e mata oponentes até onde a vista alcança. Ódio, vingança. Surge a menina. Como em Bravura Indômita, agora no Oriente, ela vem pedir ajuda do guerreiro para vingar a morte dos pais. A particularidade - um toque de fantástico - é que o herói, por sortilégio de uma feiticeira, virou imortal. E dê-lhe violência.
Mais mortes
Ambos, o herói e o homem que ele caça - e que se insurge contra o sabre tradicional -, não enfrentam somente um ao outro, mas o xogunato. Ecos de Rebelião, a obra-prima de Masaki Kobayashi, o duelo entre Toshiro Mifune e Tatsuya Nakadai. Takashi Miike filma divinamente. Ele próprio é uma figura, com sua cabeleira descolorida. É adorado pelo público jovem de Cannes.
Nesta sexta, 19, chega o primeiro pomo da discórdia. Okja, do sul-coreano Bong Joon-ho, um dos dois filmes - com o de Noah Baumach, The Meyerowitz Stories - que alimentam a polêmica com a Netflix. A menina e seu animal gigante de estimação. Uma fábula sobre o desequilíbrio ambiental e, segundo se anuncia, um comentário do diretor sobre o politicamente correto que, de correto mesmo, só tem, no mais das vezes, a fachada. E, ah, sim. Duas vezes vencedora do prêmio de interpretação - por dois filmes de Karel Reisz, Morgan e Isadora -, Vanessa Redgrave veio, aos 80 anos, mostrar, numa apresentação especial, sua estreia na direção. Um filme forte, e da grande atriz militante não se esperava outra coisa. Sea Sorrow, algo como O Lamento do Mar, é sobre imigrantes, um drama que o mundo teima em ignorar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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