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Filme para melhorar o astral nas crises
19/05/2017 | 09:50
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Sofia Coppola só mostra The Beguiled na quarta da próxima semana, 24, mas já está pintando de heroína em Cannes. Antes mesmo de embarcar nos EUA ela já enviou um recado, metendo-se na polêmica do festival com a Netflix. Diz que fez seu filme, e faz cinema, para os cinemas. Christopher Nolan, arauto do blockbuster autoral, somou sua voz à dela. Disse que a única plataforma que lhe interessa, já de olho no lançamento de Dunquerque, é o cinema. E o presidente da Fox, esse não mediu as palavras. "Netflix, my ass". Isso ainda vai virar T-shirt de grife ou motivação para levar o público aos cinemas.

A guerra do streaming, que parecia ganha, exibe suas fissuras, conhece seus revezes. Enquanto isso, o 70º festival avança. Todd Haynes e equipe (Julianne Moore) mostraram na quinta, 18, Wonderstruck, que ele adaptou do livro de Brian Selznick, o mesmo autor de A Invenção de Hugo Cabret. Pode ser subjetivo, mas Haynes dá um baile em Martin Scorsese. Seu filme conta a história de duas crianças, uma em 1927 e outra, em 1977. Qualquer pessoa que tenha lido a sinopse, e o repórter, vendo o filme, faz-se a pergunta - quando, e como, essas histórias vão se cruzar? Pois se cruzam. Encontram-se, e não é no infinito.

Haynes tem sido uma presença frequente em Cannes. Quem o acompanha sabe que todos os seus filmes são de época. A parte de Wonderstruck que se passa em 1927 é em preto e branco, como se fosse um filme silencioso. As crianças, vale acrescentar, são surdas, e também por isso o filme reduz o diálogo ao mínimo, quando não prescinde dele.

Depois, os anos 1970, que Haynes considera a época mais decadente de Nova York. Julianne Moore faz uma estrela do silencioso e uma velha, 50 anos mais tarde. Sem risco de spoiler, é bom não acrescentar mais nada, exceto que Wonderstruck é um filme para levantar o astral em época de crise. Tem um que - uma excentricidade - à Wes Anderson. Julianne, atriz fetiche do autor, é magnífica - mas quando ela não é?

Do universo - estilizado? -, o festival saltou para a violência do mestre japonês Takashi Miike. Viva a diversidade. A Espada do Imortal começa com uma carnificina. Um samurai promove um banho de sangue e mata oponentes até onde a vista alcança. Ódio, vingança. Surge a menina. Como em Bravura Indômita, agora no Oriente, ela vem pedir ajuda do guerreiro para vingar a morte dos pais. A particularidade - um toque de fantástico - é que o herói, por sortilégio de uma feiticeira, virou imortal. E dê-lhe violência.

Mais mortes

Ambos, o herói e o homem que ele caça - e que se insurge contra o sabre tradicional -, não enfrentam somente um ao outro, mas o xogunato. Ecos de Rebelião, a obra-prima de Masaki Kobayashi, o duelo entre Toshiro Mifune e Tatsuya Nakadai. Takashi Miike filma divinamente. Ele próprio é uma figura, com sua cabeleira descolorida. É adorado pelo público jovem de Cannes.

Nesta sexta, 19, chega o primeiro pomo da discórdia. Okja, do sul-coreano Bong Joon-ho, um dos dois filmes - com o de Noah Baumach, The Meyerowitz Stories - que alimentam a polêmica com a Netflix. A menina e seu animal gigante de estimação. Uma fábula sobre o desequilíbrio ambiental e, segundo se anuncia, um comentário do diretor sobre o politicamente correto que, de correto mesmo, só tem, no mais das vezes, a fachada. E, ah, sim. Duas vezes vencedora do prêmio de interpretação - por dois filmes de Karel Reisz, Morgan e Isadora -, Vanessa Redgrave veio, aos 80 anos, mostrar, numa apresentação especial, sua estreia na direção. Um filme forte, e da grande atriz militante não se esperava outra coisa. Sea Sorrow, algo como O Lamento do Mar, é sobre imigrantes, um drama que o mundo teima em ignorar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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