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Bairro Fundação sofre com enchentes há décadas
Julia Alves
Especial para o Diário
12/04/2017 | 09:26
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Arquivo pessoal


“Abandonados”. É como se sentem os moradores do bairro Fundação, em São Caetano. A cidade sempre foi considerada a melhor para se viver. Porém, o bairro que foi seu berço de criação é negligenciado há décadas por seus governantes e sofre com enchentes há pelo menos 20 anos.

O auxiliar fiscal Ramon Lopes, de 23 anos, mora no Fundação desde que nasceu e conta que já vivenciou cerca de cinco graves enchentes. “Perdemos diversos móveis e eletrodomésticos. Uma vez a água chegou a cobrir o carro na garagem e o danificou internamente.” O morador afirma que a Prefeitura sempre ajudou enviando colchões, mas que isso nunca foi o suficiente. “Ficávamos sem alimentos, as escolas paravam as aulas. Os bairros Fundação e Prosperidade só são lembrados em épocas de eleição.” No ano passado, Ramon e sua família mudaram de endereço para fugir dos alagamentos.

A enchente que ocorreu na última quinta-feira aterrorizou a engenheira de embalagens Andreia Garcia, 43. A moradora da Rua Araraquara foi acordada durante a noite por um vizinho, alertando-a para retirar o carro da garagem. “Quando saímos, a rua estava completamente alagada. A água começou a subir por volta das 22h, chegando a um metro e meio de altura”. A garagem da engenheira foi tomada pela água, que também invadiu o interior de sua casa, deixando sua filha Vitória Garcia, 11, completamente amedrontada. “A água jorrava por todos os cantos, até mesmo das tomadas. Perdemos uma cômoda e o guarda-roupa, mas conseguimos levantar o resto dos móveis.”

Vivendo no bairro há 18 anos, a vendedora Ana Barbosa, 29, afirma que as enchentes assolam as famílias da região, que perdem seus bens e mantimentos a cada alagamento. “Tenho amigas que não tinham como alimentar seus filhos, pois perderam todos os eletrodomésticos e comidas. Como estou no bairro há muitos anos, acabo ajudando.”

O diretor de sistemas Antônio Gutemberg, 29, perdeu documentos, cerca de dez computadores e móveis na sua empresa, localizada na Rua Bueno de Andrade. “Temos comportas, mas a água entrou pelos ralos. A Prefeitura não limpa os piscinões ou o leito dos rios”, conta.

Compadecida com a situação, a artesã Márcia Lima, 40, organizou uma mobilização para entregar móveis, roupas e mantimentos para as famílias.”Agora minha prioridade é levar materiais escolares para as crianças. As escolas não entregaram o material nem o uniforme para os estudantes, que agora perderam o pouco que tinham. Ao fazer uma entrega, o pai de uma criança me perguntou se tínhamos doações de cadernos. Isso é muito triste.”

A localização do bairro, situado na divisa com São Paulo e próximo ao Rio Tamanduateí, contribui para alagamentos. O encontro do Tamanduateí com o Ribeirão dos Meninos acaba impedindo a água de seguir seu fluxo, como conta o o professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Metodista de São Paulo, Bruno Garré. “É uma região praticamente plana. Isto é, quando o rio sobe, não há impedimentos para que a água volte para o bairro. O local também recebe o fluxo de Mauá e Santo André”, ressalta.

Garré ainda explica que a mudança no formato do Rio Tamanduateí agravou o problema das enchentes. “No passado ele era mais sinuoso e tinha suas margens mais permeáveis, o que permitia um maior contato e absorção da água. Com sua retificação e as construções ao seu redor, as águas pluviais chegam nele mais rápido e não há como diminuir sua velocidade.” Além disso, o professor afirma que a falta de manutenção das redes pluviais, ligações clandestinas de esgoto e os detritos que entopem bocas de lobo e tubulações são os maiores causadores de enchentes.

Para amenizar os alagamentos, Garré sugere que a Prefeitura verifique a quantidade de chuva que a região recebe para se certificar se o volume do piscinão é suficiente em relação à impermeabilização causada pelas construções na área para, então, avaliar se apenas a limpeza mais frequente é suficiente ou se seria necessária a ampliação ou construção de outro piscinão. Outro ponto seria a fiscalização de obras na região, visto que todo material particulado - terra, areia, restos de concreto e cimento - vão parar na rede pluvial e posteriormente nos córregos, rios e piscinão.  




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