A Fundação do ABC é uma das principais devedoras do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), revela reportagem publicada nesta edição do Diário. O débito é de R$ 84,41 milhões. Quanto mais se investiga o intestino da instituição, cujo orçamento anual bate na casa dos R$ 2,3 bilhões, mais se compreende o esforço da cúpula para manter intacta a caixa-preta onde se escondem dados importantes sobre o uso dos recursos públicos. Diante de números que mostram a robustez de seus cofres é de se perguntar por que a FUABC não consegue arcar com seus compromissos financeiros.

Tudo é muito nebuloso na Fundação, que desrespeita inclusive a legislação que a obriga a manter portal de transparência para informar a movimentação do caixa, atas de registro de preços e até tabela de cargos e salários. Fosse empresa privada com um único dono, a ausência de transparência seria perdoável. Não é o caso da FUABC, cujos cofres são abastecidos com o dinheiro de impostos dos cidadãos de Santo André, São Bernardo e São Caetano.

Embora a administração conteste na Justiça os valores cobrados pelo INSS, um direito que lhe assiste, não há segurança de que sairá vencedora da contenda. Há provisão em caixa para o caso de derrota nos tribunais? É a falta de resposta para perguntas desse tipo que coloca véu de desconfiança sobre a Fundação, responsável pela gestão de equipamentos de Saúde no Grande ABC e em várias cidades espalhadas pelo Estado.

Recém-empossada no cargo de presidente, Maria Bernadette Zambotto Vianna prometeu à sociedade, utilizando as páginas deste Diário como tribuna, que uma das metas de seu mandato será abrir a caixa-preta instalada na instituição. O passivo vai aumentando. A presença da Fundação do ABC na lista de devedores milionários do INSS, que por si só já configura escândalo na época em que o trabalhador comum se preocupa com a reforma da Previdência, ameaçada de quebrar, é mais um assunto que deve ser discutido claramente com a comunidade do Grande ABC.