"Perguntou se éramos gringas. Fiquei nervosa, com medo do que poderia acontecer. O motorista explicou que erramos o caminho e por sorte nos deixaram seguir", contou Paloma.
No dia seguinte, a turista argentina Natália Cappetti, de 42 anos, não teve a mesma sorte. O carro em que estava foi atingido seis vezes ao entrar no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. Ela seguia a rota indicada pelo Waze após visitar o Cristo Redentor quando foi orientada a entrar num dos acessos à favela. Um tiro a feriu pelas costas. Ela segue internada, com estado de saúde estável.
O ataque aconteceu no mesmo local em que o italiano Roberto Bardella, de 52 anos, foi morto, em dezembro. Ele seguia o roteiro traçado pelo GPS de sua moto entre o Cristo e Copacabana. Ao chegar a um dos acessos à favela, foi baleado. Seu primo foi mantido por duas horas sob a mira de bandidos.
Os casos violentos envolvendo pessoas que se guiam por aplicativos levam motoristas a rever o uso da tecnologia e a buscar alternativas para evitar áreas de risco. As empresas também atualizam seus bancos de dados. O Waze criou, em 2016, o "alerta de áreas com risco de crime" para o Rio. São 25 regiões "avaliadas por terem maior índice de crime e menor quantidade de solicitação de rotas do Waze", informou a assessoria da empresa. Esses locais estão sendo ampliados.
"Essas áreas com risco de crime foram identificadas com base em várias fontes de informações de terceiros sobre crimes e depois tiveram referências cruzadas por nossos funcionários e nossa rede local de editores de mapa voluntários", diz o Waze.
Em 2016, a prefeitura do Rio também reforçou a sinalização nos acessos de algumas favelas. A mudança nas placas foi após a morte de um agente da Força Nacional durante a Olimpíada, que entrou por engano na Vila do João, no Complexo da Maré. Ele se guiava pelo Waze.
Em vez de "Vila do João", a sinalização diz: "Seja bem-vindo à Comunidade Vila do João".
Para estrangeiros, o alerta tem pouco efeito. A Companhia de Engenharia de Tráfego disse que está revendo toda a sinalização, mas o recomendável é seguir "pelas principais vias".
Tensão. O motorista Pablo Vitó Nogueira, de 30 anos, teve o carro cercado por traficantes ao entrar numa favela da zona oeste do Rio. Estava com a noiva e o filho dela, de 3 anos. "Saíamos de uma festa infantil e me deram indicações de um caminho longo para a Avenida Brasil. Acabei me confundindo e liguei o Waze. O aplicativo mandava atravessar o trilho do trem e seguir por menos de 500 metros. Andei 100 e quatro homens com pistolas e fuzis cercaram meu carro", contou. "Um deles estava nervoso. Mas outro viu que tinha criança no carro e liberou o caminho."
Motorista de aplicativos como Uber e Cabify, Nogueira criou um perfil no Facebook (Vitó Personal Driver) com dicas de segurança. "Desligo o aplicativo quando circulo por áreas que não conheço. Prefiro pedir informações. O morador sempre vai te dizer se ali é seguro."
A jornalista Ana Linhares, de 46 anos, já se viu duas vezes em bocas de fumo ao seguir o Google Maps, mas não sofreu violência. A última foi no dia 11, quando o policiamento no Rio estava menor por causa dos protestos de famílias de PMs. "O aplicativo me levou primeiro para a contramão e tive de subir na calçada para desviar de um ônibus. Depois parei na favela, às 20h30." Ana decidiu aposentar o aplicativo. Procurado, o Google Maps não se pronunciou.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.