Este Diário ganhou ontem aliado de peso na batalha que trava para acabar com a caixa-preta em que se transformou a Fundação do ABC, que nunca tratou informações públicas com o respeito que a população, a sua real financiadora, merece. Corregedor do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Antonio Roque Citadini se mostrou perplexo, além de incomodado, com o nível de sigilo com que a FUABC trata dados que, por imposição da lei, deveriam estar à disposição da sociedade.

Ao se deparar com a série de reportagens publicada por este jornal, que no domingo mostrou que os sete diretores da Fundação ganham, cada um, mais que o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), Citadini se comprometeu a olhar o assunto com especial atenção: “O tribunal estará em cima e vai cobrar. Onde houver dinheiro público vamos estar”, garantiu o conselheiro.

Citadini lembrou que o uso de dinheiro público implica, em contrapartida, abrir mão de qualquer tipo de sigilo. Como os cofres da FUABC são abastecidos por repasses de três municípios – Santo André, São Bernardo e São Caetano –, além de contratos com outras cidades e instituições, informar sem nenhuma restrição é uma imposição constitucional. Ainda assim, como mostraram várias reportagens publicadas por este jornal nos últimos tempos, a Fundação do ABC dá de ombros para as questões legais. Sem que tal postura provoque qualquer reação dos órgãos fiscalizadores.

O Tribunal de Contas do Estado, no que se pode depreender das palavras de Citadini, está disposto a agir. A comunidade certamente espera que o corregedor do TCE não se esqueça do compromisso assumido publicamente e fiscalize – como, aliás, recomenda sua função – a FUABC, cujo orçamento de R$ 2,3 bilhões é um dos maiores do Grande ABC, perdendo apenas dos de São Bernardo (R$ 5,3 bilhões) e Santo André (R$ 3,2 bilhões). Obrigar a entidade a divulgar os contratos na internet, assim como determina a legislação nacional, já será grande avanço. Ninguém pode achar que está acima da lei.