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Seta Atacadista fecha outras cinco lojas no Grande ABC

Encerramento gerou a demissão de 350
funcionários; Polícia Militar foi chamada

Por Gabriel Russini
Especial para o Diário
01/02/2017 | 07:06
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Claudinei Plaza/DGABC


O Seta Atacadista, grupo de supermercados que mistura varejo e atacado, fechou ontem, de uma só vez, outras cinco lojas no Grande ABC. Desta vez, foram encerradas três unidades em Santo André (Parque João Ramalho, Condomínio Maracanã e Jardim Utinga) uma em Diadema (Jardim Ruyce) e outra em Mauá (Centro).

No dia 19, o estabelecimento do bairro Assunção, em São Bernardo, foi o primeiro, de sete, a amanhecer com as portas fechadas. Uma semana depois, no dia 27, loja situada no bairro Homero Thon, em Santo André, também foi encerrada.

Sediado em Itaquaquecetuba, na Região Metropolitana, o Seta implementou plano agressivo de expansão em regiões periféricas do Grande ABC em 2015, ao abrir nove unidades. Dessas, duas ainda estão funcionando, uma em Santo André (Estrada Cata Preta, 131, Vila João Ramalho) e outra em Mauá (Av. João Ramalho, 222, Vila Noemia).

De acordo com estimativas de funcionário da rede de atacarejo que pediu para não ser identificado, aproximadamente 350 empregados perderam os seus postos de trabalho ontem. Alguns deles conversaram com o Diário e foram unânimes ao dizer que o pior lado da demissão é ser pego de surpresa, o que ocorreu em todas as sete lojas que fecharam.

Por isso, o encerramento dos estabelecimentos foi bastante conturbado. Tanto na unidade da Av. Barão de Mauá, 2.005, no Centro de Mauá, como na da Av. Dona Ruyce Ferraz Alvim, 2.365, no Jardim Ruyce, em Diadema, a Polícia Militar foi acionada para acalmar os ânimos. De acordo com outro empregado que pediu sigilo, foram os próprios funcionários que não tinham sido demitidos e tinham de cuidar das dispensas que solicitaram a presença dos policiais, a fim de evitar mais tumulto.

Tanto que, nos locais, a polícia determinou que ninguém entrasse ou saísse. O trânsito era permitido apenas para assinar a demissão.

Os policiais também foram acionados por denúncia de que um carro do supermercado estaria na unidade de Diadema para levar o dinheiro que estava ali, o que gerou revista nos veículos estacionados no local.

SINAIS - Conforme o andreense Vanilson Rosa de Oliveira, 47 anos, agora ex-fiscal de perdas, a empresa não avisou o quadro de profissionais sobre o encerramento das atividades. Ele conta, no entanto, que desconfiava que algo ruim iria acontecer por conta das prateleiras vazias. “Sabíamos que alguma coisa estava errada. Os fornecedores pararam de entregar e, consequentemente, paramos de vender, porque quase não tínhamos produtos.”

Questionado sobre a rescisão de contrato, Oliveira diz que ainda não recebeu o valor. “Fui dispensado no dia 17, e me deram prazo de dez dias para receber, mas até agora não recebi nada. Preciso receber logo, tenho três filhos, fatura de cartão de crédito vencida, é complicado.” O mesmo prazo de dez dias para quitar a rescisão foi passada a todos os funcionários, mas até ontem ninguém havia recebido.

Por esse motivo, grupo de 20 trabalhadores demitidos em Santo André foi até a unidade do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) na cidade em busca de orientação. “Infelizmente, foi uma perda de tempo. Não recebemos nenhum posicionamento. O jeito é contratar advogado particular e lutar pelos meus direitos”, avalia a ex-operadora de televendas andreense Simone Aparecido Eugênio, 46.

Simone conta que, em razão da falta de mercadorias, verba era disponibilizada para os próprios funcionários comprarem produtos em outros atacadistas. “Chegavam, em média, de 15 a 20 cartas de cobrança por dia, devido à falta de pagamento aos fornecedores. Como não recebíamos mais (produtos), eles (Seta) liberavam verba para que alguns funcionários, com os próprios carros, comprassem itens de concorrentes para abastecer a loja.”


Sindicato se reúne com representantes da rede

Está marcada para hoje, às 10h, reunião entre representantes do Secabc (Sindicato dos Comerciários do ABC) e a diretoria do Seta Atacadista na sede da entidade, no bairro Jardim, em Santo André.

Segundo Daniel Dias, diretor do Secabc, uma das preocupações são as pendências relacionadas ao pagamento dos trabalhadores. “Neste primeiro momento, o importante é regularizar o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) que está atrasado. Já em relação às verbas rescisórias e às multas por atraso, que variam conforme o tempo em haver, não vamos aceitar parcelamento muito grande. Vale lembrar que esses funcionários também têm contas para pagar, e estamos aqui para ajudá-los”, explica Dias.

Conforme relatam ex-funcionários, o Seta não recolhe o FGTS desde julho do ano passado. De acordo com a mauaense Jéssica de Souza, 28 anos, ex-fiscal de perdas da rede, o RH não sabe quando serão feitos os pagamentos da rescisão e do FGTS. “Cada um fala uma coisa. Me disseram que a rescisão vai cair no dia da homologação. Já o sindicato fala em 120 dias. A empresa não nos posicionou, não sabemos em quem confiar.”

A ex-fiscal de caixa de Santo André Jaqueline Farias, 46, também de Mauá, foi demitida em outubro pelo atacarejo. recebeu o valor da rescisão, mas ainda não foi remunerada pela multa por atraso. “Eles me disseram que o valor seria depositado até a primeira semana de janeiro, mas não recebi nada até agora. Espero resolver isso logo.”

O Diário procurou pelos representantes do Seta Atacadista mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno. O site da empresa segue fora do ar, assim como os telefones das unidades. O grupo também fechou duas unidades em Americana, no Interior, e uma em Itaquaquecetuba, onde está sediado. No lugar desta loja, a fachada foi trocada pelo nome Flecha Atacadista, cuja suspeita é de que seja da mesma rede. 




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