Economia Titulo No Grande ABC
Captação da poupança cresce 106% em 2016

Montante atingiu R$ 41,5 milhões na região;
rescisão de trabalho contribui para dobrar aplicação

Gabriel Russini
Especial para o Diário
26/01/2017 | 07:05
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Divulgação


Não só o número de poupadores, mas também o valor aplicado por eles, aumentou de forma significativa no ano passado no Grande ABC. A captação líquida (depósitos menos retiradas) das cadernetas da região cresceu 106% no segundo semestre de 2016, ou seja, mais do que o dobro captado nos últimos seis meses de 2015. De acordo com informações da Caixa Econômica Federal levantadas a pedido do Diário, os poupadores das sete cidades aplicaram R$ 41,5 milhões de julho a dezembro, enquanto em igual período de 2015, foram R$ 20 milhões.

Quanto à quantidade de poupadores no Grande ABC, houve acréscimo de 8,5%, equivalente a 76.719 pessoas. Em dezembro de 2015 havia 889.981 contas-poupança, volume que saltou para 965,7 mil no mês passado.

Do montante aplicado no semestre, mais da metade entraram em dezembro, quando foram captados R$ 27 milhões, alta de 206% em relação a novembro, com R$ 8,8 milhões.

O crescimento substancial dos depósitos na região, no entanto, pode ter sido motivado justamente pela crise, que gerou muitas demissões em 2016, especialmente na indústria, em que os salários e, consequentemente, as rescisões de contrato de trabalho são maiores. É válido lembrar que cerca de 3.500 trabalhadores aderiram a PDVs (Programas de Demissão Voluntária) na Mercedes-Benz, Volkswagen e Ford no ano passado. E, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, que considera apenas emprego com carteira assinada, houve 31.601 cortes de janeiro a dezembro.

Para Silvio Paixão, professor de Finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), a queda de 20,19% nas vendas nos veículos afetou muito a região, que concentra seis montadoras. O que gerou efeito em cadeia nos demais setores da economia. “É complicado, ainda mais no Grande ABC, que é movido por isso. O esperado seria um impacto negativo nos investimentos, entretanto, vimos o contrário. Acho que o aumento do número de poupadores tem alguma relação”.

Na avaliação de Ricardo Humberto Rocha, professor do laboratório de Finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração), a análise faz sentido. “Muitas montadoras demitiram, e não só elas, outras empresas também, em razão da crise. Acredito que o valor das indenizações possa estar incluído nesses R$ 41,5 milhões.”

De acordo com a Caixa, a turbulência econômica pode justamente ter estimulado maior preocupação em providenciar uma reserva financeiras, para se precaver em momento de dificuldades, além de denotar recuperação da renda do poupador da região.


Caderneta é indicada para curto prazo

Rocha avalia que a caderneta de poupança é a melhor saída para quem tem pouco dinheiro e não pode fazer depósitos constantes, além de ser opção para quem pensa em aplicar o dinheiro no curto prazo. “Tudo depende do valor que a pessoa deseja investir. Para quem tem menos de R$ 1.000, a melhor alternativa ainda é a poupança, porque não é tão custosa e dá retorno rápido”, explica.

É o caso do estudante de Engenharia de Produção Felipe Paschoalino, 20, que utiliza sua caderneta para diversas finalidades. “No começo, só queria juntar dinheiro. Hoje em dia já penso em outras coisas, como um intercâmbio”, diz. Paschoalino afirma que já chegou a usar os rendimentos da poupança não só em momento de necessidade, mas também para realizações pessoais. “Já usei quando meu pai bateu o carro e para comprar um videogame de última geração”.

Outro fator determinante na hora de optar pela poupança é o baixo custo de manutenção. Para Lucas Pires, 24, que possui conta-poupança em seu nome desde quando nasceu, os altos custos dos outros tipos de investimento o impedem de abrir mão da modalidade. “Não tenho a intenção de mudar por não pagar Imposto de Renda e nem ter gasto com manutenção. Como já tenho a caderneta há muito tempo, acho que nem vou precisar. Eu nunca a usei. Só faço a manutenção, pois a ideia é usar para dar entrada em um imóvel, futuramente”.


Modalidade rendeu 8,3% no ano passado

O rendimento das contas-poupança ficou em 8,3% em 2016, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso significou, na prática, que se R$ 1.000 estiveram aplicados ao longo do ano passado, o retorno foi de R$ 83, e a aplicação ficou em R$ 1.083.

A fórmula da correção da caderneta é 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial), que varia diariamente. A poupança é o único investimento que não cobra IR (Imposto de Renda) nem taxa de manutenção.

Segundo a Caixa Econômica Federal, a rentabilidade da poupança, a depender do valor e do prazo, pode ser maior que outros investimentos de renda fixa, como CDB e fundos de investimento.

Em exemplo do banco, a aplicação de R$ 1.000 em fundo de renda fixa com rentabilidade bruta igual a 100% do CDI e taxa de administração de 2,5% resultou, nos últimos seis meses, em ganho menor que o da caderneta, assim como um CDB com rentabilidade de 78% do CDI apresentou pior resultado. Isso porque esses investimentos possuem tributos e, no caso dos fundos, também taxa de administração. A poupança rendeu R$ 41,26, enquanto que o CDB, R$ 40,97 (R$ 11,89 foram para o IR de 22,5%) e, o CDI, R$ 39,55 (R$ 28,71 foram para IR e taxa de administração).

Questionado sobre qual é o melhor tipo de aplicação a se fazer, o professor de Finanças da Fipecafi Silvio Paixão se mostra pessimista em relação ao atual cenário econômico que o País vive. “Neste momento de recessão econômica não há investimento ideal, não é o melhor remédio. Mas, se realmente a pessoa tem a necessidade de aplicar, a poupança ainda é opção razoável.”

Na visão de Ricardo Humberto Rocha, professor de Finanças da FIA, tudo depende do valor investido e do retorno que a pessoa deseja. “Para quem tem pouco dinheiro e não pode depositar constantemente, a poupança ainda é aposta segura, agora, para quem deseja um retorno maior, porém, e em um prazo mais longo, aconselho a investir no Tesouro Direto”.

Em relação à previdência privada, Rocha a vê com cuidado. “Tem gente que não sabe, mas os custos são altíssimos e tem que depositar constantemente. Só vale a pena para quem está bem estável financeiramente, e projeta algo no longo prazo.”
 




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