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Almoços dão aula de solidariedade

Em S.Bernardo, evento da família Lemes recebe
3.000; idosos destacam união em casa de repouso

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
26/12/2016 | 07:07
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André Henriques/DGABC


Dois almoços de Natal realizados ontem em São Bernardo foram, na prática, aulas de solidariedade. No Parque São Bernardo, a família Lemes reuniu 3.000 pessoas da comunidade na Emeb (Escola Municipal de Educação Básica) Professora Maria Therezinha Besana pelo 18º ano. Já no bairro Alvarenga, cerca de 60 idosos da Casa de São Vicente de Paulo almoçaram longe de suas famílias, mas, graças aos funcionários e voluntários do equipamento, com fartura e mimos. Embora tenham características diferentes, as duas refeições concentram único sentimento: o de união entre os participantes, além da lembrança de agradecimento pelo pouco que se tem.

Com números surpreendentes, como 500 panetones e cerca de 300 quilos de alimentos, servidos por 120 voluntários, o almoço da família Lemes, supervisionado pela matriarca Maria Aparecida do Rosário Lemes, a dona Cotinha, 89 anos, possibilitou refeição completa àqueles que nem sempre têm oportunidade. O cardápio contou com arroz, feijão, salada, macarrão, frango e pernil, além de arroz- doce e bolo de sobremesa.

“Meu marido e eu perdemos o emprego neste ano. Ontem (sábado), eu não tinha o que comer. Só consegui (jantar) graças a um marmitex de uma vizinha. Também não trocamos presentes. Hoje (ontem) que realmente vai ser nossa refeição de Natal”, contou a doméstica Edicéia Pereira Medeiros, 50 anos, que participou do almoço pela primeira vez, junto da filha de 6 anos.

“A gente não pensava que teria a oportunidade de comer um pernil!”, comentou a dona de casa Georgina de Souza, 58, que participou da ação pela terceira vez.

O carinho de toda a comunidade pelos organizadores do evento tradicional ficou evidente quando dona Cotinha adentrou o salão, acompanhada pelo filho mais velho, Benedito da Silva Lemes, o Ditinho da Congada, 64. Os dois foram aplaudidos de pé. “Quero dar forças para que meus filhos continuem fazendo isso. Nosso prazer é ver o sorriso e a felicidade de cada um que vem até aqui”, contou a matriarca, famosa pelo bairro por oferecer refeições a moradores de rua diariamente.

“Já tivemos Natal em que minha mãe e meu pai dividiram um pão para oito pessoas (os filhos do casal). A gente sempre aprendeu isso com eles: o pouco que a gente tem deve ser compartilhado”, afirmou José da Silva Lemes, 47, o Zé Neguinho, outro filho de dona Cotinha. O trabalho social é possível graças a doações, que começam a ser recolhidas a partir de setembro na residência da família.

Além da refeição, o ponto alto da festa foi protagonizado pelo Papai Noel, que distribuiu 600 presentes às crianças. “Eu não gosto de dizer que são pessoas carentes, falo que é um almoço comunitário, uma confraternização com muita união. Meu sonho é que isso aconteça para 10 mil pessoas, mas que nenhuma delas venha até aqui por não ter o que comer”, revela Ditinho da Congada.

IDOSOS
Longe da família, 60 idosos oriundos de situação de vulnerabilidade e acolhidos pela Casa de São Vicente de Paulo compartilharam refeição natalina, que contou com frango e salada de maionese no menu.

“Eles (idosos) podem sair para passar as festas com a família ou conhecidos. Neste ano, apenas dez fizeram isso, sendo que apenas três com familiares. A maioria acaba sendo lembrada pelos amigos”, contou a psicóloga do local, Sandra Dias Vieira.

Eliane Gottardi, 69, passa o segundo Natal ao lado dos companheiros de morada, na casa de repouso. “Só tenho parentes distantes, como tios e tias que aparecem de vez em quando. Hoje, faço aulas de bordado e me dedico aos panos de prato que são vendidos no nosso bingo anual. Não me sinto mais sozinha, descobri que posso sempre ter companhia”, contou.

Uma das idosas que estão há mais tempo no local, Maria Monge da Silva, 70, vive na casa há 31. Natural da Ilha da Madeira, em Portugal, mas brasileira de coração, ela chegou a morar junto da mãe, que morreu há dez anos, na Casa São Vicente de Paulo. “Hoje, essa é a minha casa.”

Mais do que os presentes. para Maria Josefina Batista, 85, o que importa nesta data é a união. “A melhor parte do Natal é todos nós (estarmos) juntos, comendo as frutas.” 




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