Setecidades Titulo Mauá
Pancadão expõe falta de fiscalização

Encontro semanal realizado no Paço de Mauá
às quartas-feiras tem consumo de drogas e álcool

Daniel Macário
do Diário do Grande ABC
28/10/2016 | 07:07
Compartilhar notícia
Celso Luiz/DGABC


Os pancadões, balada funk de rua realizada às quartas-feiras à noite, no estacionamento do Paço de Mauá, expõe a falta de atenção, por parte da administração do prefeito Donisete Braga (PT), a respeito do tema. O evento semanal reúne, em média, 3.000 jovens, conforme a própria Romu (Ronda Ostensiva Municipal), entre eles menores. Sem fiscalização adequada, a festa se torna palco para o consumo de drogas e álcool, além de receber racha de motos.

A equipe do Diário esteve, na quarta-feira, no Paço de Mauá e constatou aglomeração de cerca de 300 jovens, por volta das 20h. Acuados pela presença de oito viaturas da Romu no portão do local, os adolescentes migraram para a Avenida Portugal, 1,4 quilômetro longe da Prefeitura, caminhada de dez minutos – a via é geralmente usada, aos domingos, para o pancadão.

Por volta das 21h30, a Avenida Portugal estava praticamente tomada por cerca de 2.000 pessoas, concentradas em bolsão de estacionamento localizado no centro da via. Em diversos trechos, o grupo atrapalhava a circulação dos veículos.

Embalados pela música alta, que soava de caixas de som portáteis, adolescentes ingeriam variados tipos de bebidas alcoólicas, produtos comercializados por vendedores ambulantes. Alguns integrantes do movimento faziam consumo de drogas, como maconha e cocaína, no local. Jovens também realizavam rachas de motocicletas pela via sem o uso de capacete.

Nenhuma viatura das policias Civil e Militar, nem da Romu foi vista na avenida.

A comunidade estranhou o movimento atípico. “Geralmente é assim aos domingos, nunca vi essa movimentação durante a semana”, relata comerciante.

MUDANÇA
Mauá informou que o encontro de jovens no estacionamento do Paço às quartas-feiras “não é pancadão, e sim atividade promovida por skatistas da cidade chamada de Batalha de Rimas”.

O Paço destacou ainda que, nesta quarta-feira, foi disseminado boato nas redes sociais chamando os jovens para pancadão. Por isso, a Prefeitura achou por bem divulgar nota oficial negando o evento, além de reforçar o policiamento e fechar os portões do estacionamento, cancelando o encontro.

De acordo com Vagner Xisto, comandante da Romu de Mauá, a migração dos jovens para a Avenida Portugal foi motivada pela ação dos agentes. “O espaço (do Paço) foi aberto para batalha de rimas, só que chegou para a gente que outro grupo começou a se infiltrar com drogas e bebida alcoólica. Por isso fizemos essa fiscalização”, relatou.

“Eles (guardas municipais) já estavam causando desde quando o encontro começou a reunir mais pessoas, só que nunca impediram nada. Acho que semana que vem já estará tranquilo”, acredita o jovem Matheus Espinoza, 23 anos.

Especialista critica falta de opção de lazer e cobra providências
A omissão da administração municipal perante a falta de opção de lazer em seu território está diretamente relacionada à participação de criminosos em encontros de jovens promovidos em áreas centrais, como é o caso de Mauá. Essa é a análise do integrante do Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana), coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos de São Paulo e fundador da Comissão Especial da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ariel de Castro Alves.

“O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto da Juventude garantem o direito ao lazer e à participação em atividades culturais, porém os poderes públicos não costumam oferecer espaços e programações adequadas e atrativas. Paralelamente à omissão das Prefeituras e do governo do Estado, os jovens se organizam de forma independente, e alguns criminosos e comerciantes oportunistas se aproveitam desses eventos clandestinos e sem planejamento para venderem drogas e bebidas alcoólicas para as crianças e adolescentes”, ressalta Alves.

Para o especialista, ao invés da repressão adotada em alguns casos, a saída para controlar a situação está na ação conjunta entre os agentes públicos. “Deveriam, os representantes das promotorias da infância e juventude, conselheiros tutelares, gestores públicos municipais, dirigentes de ensino e representantes das policias, se reunirem para discutir estratégias visando, minimamente, garantir fiscalizações e o policiamento para se evitar o trafico de drogas e o comércio de bebidas”.

Forças policiais destacam dificuldades para conter ação

Ciente da aglomeração de jovens na área central de Mauá, o comando das polícias Civil e Militar afirmou realizar constantes operações para conter o consumo de álcool e drogas por adolescentes, mas ressaltou dificuldades para conter os eventos.

“Nos últimos meses, tomamos série de procedências para coibir essas ações, inclusive instaurando inquérito e dando suporte para o policiamento da área, no entanto, esses encontros nos impõem certas dificuldades. Algumas semanas atrás, um dos nossos agentes foi ferido ao chegar no local”, destacou o delegado titular do 1º DP (Centro), José Carlos de Melo.

Segundo o delegado, a fiscalização no Paço é feita a partir de solicitação por parte da administração municipal. “Lá podemos agir caso a GCM (Guarda Civil Municipal) solicite nosso apoio”, ressaltou.

Comandante da PM (Polícia Militar) no Grande ABC, coronel Marcelo Cortez Ramos de Paula destacou as ações da corporação diante dessas situações, mas detalhou a delicadeza dos casos. “São eventos que demandam efetivo alto, muito em virtude da participação em massa de jovens. Não podemos disponibilizar poucas viaturas. Precisa ser atuação pensada por todos, incluindo a Prefeitura”.

Procurada pelo Diário, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que o 30º Batalhão de Policiamento Militar, responsável pela área mencionada, realizou, neste ano, a prisão em flagrante de 185 pessoas. Conforme o órgão, houve aumento de 16% nos registros de flagrante de tráfico de entorpecentes nos nove primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2015. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;