Cena Política Titulo
Regionalidade abandonada

Ao longo dos últimos anos, os homens públicos, as entidades de classe e o empresariado deste nosso Grande ABC

Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
28/10/2016 | 07:00
Compartilhar notícia


o longo dos últimos anos, os homens públicos, as entidades de classe e o empresariado deste nosso Grande ABC sugeriram projetos exacerbados, para dizer o mínimo. Dentre as propostas estão aeroporto em Mauá ao lado da Petroquímica, terminal para aeronaves em São Bernardo, onde também foi proposto um autódromo, hidroporto em Ribeirão Pires, transporte por catamarãs na Represa Billings e por teleféricos em regiões montanhosas, além de muitas outras engenhocas. A discussão de projetos regionais, que de fato mudariam a vida dos cidadãos das sete cidades, ficou escanteada.

O debate de ações conjuntas não é prioridade. Cada município tenta resolver isoladamente seus problemas. Óbvio que cada qual tem sua peculiaridade e isso deve ser respeitado. Mas os grandes temas são solenemente ignorados. O Consórcio Intermunicipal virou um estorvo para os prefeitos. As reuniões ordinárias, todas as primeiras segundas-feiras de cada mês, incomodam a agenda dos chefes de Executivo. Poucas vezes as pautas são sincronizadas com as demandas regionais. Os integrantes do clubinho fogem da imprensa para evitar dar as necessárias explicações do que ali fazem para a sociedade.

O Consórcio é uma Torre de Babel. Pior do que isso: além de cada um falar uma língua, não há interesse em saber o que o vizinho está falando. E o motivo é simples: discutir regionalidade e tirar do papel soluções que atendam às demais cidades não rendem votos. É mais fácil asfaltar uma rua no município que governa, que vai saltar aos olhos do munícipe na porta de sua casa, do que planejar obras de drenagem em conjuntos, que vão minimizar as enchentes em larga escala, reduzir prejuízos materiais com a preservação de imóveis e carros, por exemplo, e, o mais importante, salvar vidas. Mas quem vai ganhar com uma grande obra, que requer trabalho, tempo e dinheiro? Se, na avaliação política do caso, a possibilidade de o prefeito do território ao lado ser minimamente beneficiado, a probabilidade de a discussão estagnar é de 99%.

Qual o caminho, então, para o debate regional sério e eficaz? Aqui vai uma provocação, tão vituperiosa quanto as destacadas no início desta coluna: por que não tornar o Grande ABC circunscrição única? Com um prefeito e um vice (são 14 hoje), 20 secretarias (são 139), 43 vereadores (com base na Constituição Federal, diante dos 2,7 milhões de habitantes da região, ante os atuais 142 parlamentares), além de dezenas de outros dados que nos levam a enxugar a máquina administrativa. Muitos que agora não fazem nada nomeados em cargos importantes continuariam a fazer nada, mas sem cargo.

Seriam tratadas de maneira abrangente e eficaz questões de Segurança – alguém viu o Consórcio se mexer para dialogar com o governo do Estado sobre a recente onda de assaltos, com arrastão e tiro, nas proximidades da Estação Utinga da CPTM? –, lixo, macrodrenagem, transporte, desenvolvimento econômico – alguém viu um esforço coletivo para manter indústrias e empregos por essas bandas? –, infraestrutura urbana, dentre outras. O Grande ABC seria a segunda maior cidade paulista, com 825 km² (metade da Capital) e os já apontados 2,7 milhões de cidadãos (24% dos 11,3 milhões de moradores do município paulistano). Estaríamos à frente de Guarulhos (318 km² e 1,33 milhão de pessoas) e Campinas (794 km² e 1,17 milhão de habitantes). Com Orçamento de R$ 12,6 bilhões (base 2016), teríamos cerca de R$ 4.600 de investimento público por pessoa. Guarulhos dispõe de R$ 3.200 e Campinas, R$ 4.300.

Não se trata aqui de desmerecer os movimentos autonomistas, que renderam frutos para as cidades que conquistaram sua independência. Atualmente, porém, a discussão de regionalidade se faz extremamente necessária. E, como vemos e sentimos, não há resultados práticos. Também não se trata de defesa da junção das cidades. Há muitos pró, como inúmeros contra. Trata-se de estímulo ao debate. Como está, não pode ficar.

A discussão tem de ser feita para que o Grande ABC, de suas sete histórias, ande para frente. Hoje, estamos indo para o lado ou para trás. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;