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Ação dá óculos a alunos da EJA
Por Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
29/09/2016 | 07:07
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Denis Maciel/DGABC


Enxergar as palavras de um texto ou os números de operações matemáticas é necessário para todos os estudantes. Para 51 alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos), o que deveria ser uma rotina, começa de fato agora. Por meio do Programa Visão Para Todos, parceria entre a Prefeitura de Santo André, Lions Clube e Óticas Bifocal, foram entregues ontem óculos aos estudantes.

Na primeira etapa da ação foi detectado que entre 3.500 alunos, 240 tinham problemas de visão. Todos foram encaminhados à rede de Saúde e, deste total, 130 precisam de óculos de grau. A outra parte vai ser contemplada em segunda entrega.

O secretário de Educação Gilmar Silvério elogiou a parceria. “Isso é uma mostra que a união dos setores público, privado e social dá certo. Muitas vezes, o aluno tem dificuldades nos estudos e os professores perceberam que era um problema na visão. Com os óculos, eles vão conseguir se dedicar ainda mais.”

A Bifocal foi responsável pela doação das armações. O pagamento das lentes e instalação foi feito pelo Lions. “A gente sempre se coloca à disposição de doações para projetos que tenham cunho social. Esse nos chamou a atenção por mudar a vida dessas pessoas”, disse o sócio-proprietário Júlio Mesquita.

Conforme o coordenador do projeto e vice-presidente do Lions Clube, Adherbal Marconato, o intuito é que o projeto seja anual. “Queremos erradicar a cegueira, tanto na parte preventiva como na corretiva. Nossa ideia é que os docentes façam o teste com todos os alunos de novas turmas.”

A operadora de máquina Quitéria Ferreira dos Santos, 47 anos, não enxerga de perto há cinco anos. Porém, nunca comprou um óculos. O motivo são os altos preços, que estão fora de seu orçamento. Ela mora com um filho de 20 anos que está desempregado e é responsável pelo sustento da casa com um salário de R$ 1.300.

“Eu estava precisando muito (do óculos). Mas nunca pensei em comprar por causa do preço e fui me adaptando. Eu trabalho lixando peças que viram cabides e então tenho que passar a mão para saber se estavam terminadas, porque não enxergo”, contou.

Natural da cidade de Arapiraca, em Alagoas, ela se considera andreense de coração, já que está na cidade há 20 anos.

A rotina de Quitéria não é fácil. Ela acorda por volta das 5h, pega ônibus e um trem até a fábrica onde trabalha no Tamaduateí, em São Paulo. Ela trabalha das 7h às 17h e depois corre para as aulas, onde até chega atrasada.

“Tenho muita dificuldade em todas as matérias. Lá (Alagoas), eu só estudei até o 1º ano (do Ensino Fundamental) e nunca mais fui atrás. Mas hoje, até por conta do serviço, eu preciso. A gente pode decorar todo o processo, mas precisa ler também”, disse a estudante da Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Dom Jorge Oliveira, no Condomínio Maracanã, bairro onde mora. Ela está matriculada nas aulas há um ano.

A estimativa é a de que Santo André tenha 15 mil analfabetos. “Queremos zerar este número e temos a estrutura para isso. A principal dificuldade é que as pessoas procurem o serviço”, disse o secretário.

“A gente precisa saber ler, né? Eu já comprei tanto produto vencido e estragado no mercado porque não sabia ver a data de validade”, disse, bem-humorada, a aposentada Maria de Fátima do Nascimento, 62.

Ela estudou até o 4º ano do Ensino Fundamental e há dois frequenta a EJA na Associação União da Juta, divisa entre Santo André e São Paulo. “Trabalhei a minha vida inteira como maquinista de fiação. Só criei coragem para me matricular depois que me aposentei. Agora vou ter tempo para ler livros e revistas”, disse.

Natural de Recife, ela veio morar em Santo André com seus 12 irmãos. Hoje são nove e, segundo ela, todos a elogiam pela coragem. “É ótimo estudar porque abre a mente. Adorei os óculos. Tudo o que é dado de coração é lindo.” 




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