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O pecado da corrupção

Uma das maiores causas da grave situação que vivemos...

Por Dom Pedro Carlos Cipollini
02/05/2016 | 07:00
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Uma das maiores causas da grave situação que vivemos está na relação estabelecida com o dinheiro em nossa sociedade. Aceitamos pacificamente seu domínio sobre tudo. “A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano”, escreve o papa Francisco (cf. EG n. 55). A síndrome da adoração do bezerro de ouro promove a especulação financeira e a autonomia absoluta do mercado. Em meio a tudo isso a corrupção corre solta como se fosse regra do jogo. A lei da selva, que impõe o consumo como bem supremo, impõe também a ganância e a corrupção como parte do modo de vida regido pela mesma lei da selva na qual os mais espertos e mais fortes levam vantagem em tudo.

Ao contrário do que poderíamos pensar, a corrupção não é um fenômeno de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Está espalhada pelo mundo todo. A corrupção é considerada pela ONU (Organização das Nações Unidas) o crime mais dispendioso de todos, causa de muitos outros. Ela tornou-se um dos traços característicos da sociedade pós-industrial. É um dos emblemas de nosso tempo: é a única ‘religião’ que tem hoje uma vocação universal, sentencia Jean-Marie Guéhemo. A corrupção moral, referente aos costumes, grassa em todos os setores da vida social, mas a corrupção administrativa e financeira é geral. Hoje estamos em uma situação na qual desaparecem os referenciais éticos quando se trata de lidar com o dinheiro.

Ninguém nasce corrupto, corruptor ou ladrão. Antes de chegar a sê-lo, é certo que houve uma lenta preparação interior, formada de insensibilidade pelos direitos dos outros, sedução pelas presumidas vantagens do crime e enfim, as condições favoráveis que induzem à prática do crime já consentido no coração e na mente: a ocasião faz o ladrão! Os furtos diários, principalmente os praticados por pessoas ou gangues, são chocantes, sobretudo quando se configuram como latrocínio. Porém, não deveriam ser menos chocantes os crimes de corrupção, em especial os de ‘colarinho branco’, que finalmente começam a ser investigados e punidos. O fato é que a corrupção também gera morte.

A burocratização da administração e da sociedade toda favorece a corrupção porque muitas pessoas e organismos acabam tomando decisão sobre vários assuntos e, em meio a tantas pessoas e organismos que decidem, a corrupção é facilmente camuflada. No fim, ninguém sabia de nada ou ninguém tem culpa de nada.

Uma pergunta se impõe: é possível controlar a corrupção? Somente a reeducação para a justiça e o direito, no sentido de sobrepor o bem comum ao bem pessoal, e a valorização dos princípios éticos no relacionamento social poderiam coibir a corrupção. Torna-se necessária uma profilaxia moral, uma limpeza nas consciências e isto é em grande parte papel da Educação. Aos que tem religião, se apela para que sejam praticantes, porque a prática da própria fé sempre indica o caminho da caridade, do altruísmo para com o próximo, o que exclui a exploração e a corrupção.

Na Bíblia podemos ler: “Não roubarás” (Dt 5,19), e ainda: “Nem ladrões nem os avarentos nem os injuriosos herdarão o Reino de Deus” (1Cor 6,10). Este é o sétimo mandamento da Lei de Deus, dada a nós por Moisés, que prescreve a prática da justiça e da caridade na administração. Este mandamento é aceito pelas três grandes religiões monoteístas que perfazem dois terços da humanidade: judaísmo, cristianismo e islamismo. É um mandamento contra os corruptos e corruptores.

Antigamente se dizia: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou ela acaba com o Brasil.” Hoje se pode dizer: “Ou o Brasil acaba com a corrupção ou ela acaba com o Brasil.” A corrupção é pecado porque destrói os relacionamentos na sociedade, é uma injustiça e passa a ideia de que não existe Deus além do dinheiro. É preciso combater a corrupção para sobrevivermos.

*Dom Pedro Carlos Cipollini é bispo diocesano de Santo André. 




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