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Operação salva-vidas
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
19/06/2011 | 07:01
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Denis de Marchi

Não vê a hora de concluir o colégio, passar na faculdade, votar, fazer intercâmbio? Há mais para fazer do que se imagina a partir de 16 anos. É hora de arregaçar as mangas de verdade e doar. Não é necessário quebrar o cofrinho e dar as economias.

Tem gente que precisa de algo que nenhum dinheiro pode comprar: a vida. E isso só é possível se alguém se dispõe a ajudar. "O jovem precisa entender que doação é atitude de cidadania. Ele pertence à sociedade e deve contribuir. Por que não ajudar outras pessoas?", questiona a hematologista Carmen Vergueiro, presidente da Associação de Medula Óssea. Desde o último dia 14 nem é preciso mais esperar os 18 anos para doar sangue. Agora, de acordo com o Ministério da Saúde, quem tem a partir de 16 anos já pode participar. Para doação de medula óssea a faixa etária continua 18.

Excelente notícia para Izabela Costa, 15 anos, de São Bernardo, e batalhão de outras pessoas que necessita de sangue por algum motivo. A garota foi diagnosticada com anemia falciforme aos 6 meses e, desde então, tem de fazer transfusão de vez em quando. "O sangue é simplesmente tudo. Agora há mais possibilidades para preencher as bolsas dos hospitais", diz.

Certa vez, Izabela pegou forte infecção e precisou de grande quantidade de sangue. A família fez campanha e conseguiu muitos voluntários, apesar de o sangue da menina ser um dos tipos mais raros: O negativo. "Achei legal as pessoas ajudarem. Minhas amigas não podiam doar, mas sempre deram força. Todos devem ter consciência que muita gente precisa."

TODO TIPO DE AJUDA - Rosiane Guizzardi, 15 anos, de Ribeirão Pires, levou um susto há cinco anos, quando o irmão Lucas, 10, recebeu o diagnóstico de câncer no sangue. Desde então, começou a procurar um doador de medula compatível. A primeira a fazer o teste foi Rosiane, porém, o resultado não foi o que esperava. "Deu 85% de compatibilidade, precisa ser 100%. Pôxa, sou irmã e não posso salvá-lo?", pensou. A garota levantou a cabeça e encontrou outras formas de ajudar. "Organizamos campanhas e agitamos a internet. Quando completar 18 anos, a primeira coisa que vou fazer é me cadastrar no Banco de Medula Óssea." O esforço valeu a pena. Foi encontrado um doador compatível para o garoto, que só espera pelo procedimento.

 

Não espere alguém da família adoecer - "Nasci saudável. Ninguém sabe quem e quando vai ficar doente. Tem de começar a ajudar logo", afirma Lucas Guizzardi, 10 anos, que vai receber transplante de medula e lembra que ninguém deve esperar algum conhecido precisar. "Não é porque meu irmão conseguiu que vou deixar de colaborar; pelo contrário", garante Rosiane.

Quer ajudar e ainda não pode doar? Que tal ficar de olho nas campanhas que sempre rolam?Não está acontecendo nenhuma? Comece a sua! Converse com o pessoal da escola, do inglês e do clube e peça para ajudarem a organizar. Convença a galera que um pouco de sangue doado (para medula também funciona assim) não vai fazer falta a ninguém. "É um procedimento praticamente indolor e pode presentear alguém com a vida. O organismo consegue se recompor rapidamente, e o risco para o doador é praticamente zero", explica Jairo Cartum, oncologista da Faculdade de Medicina do ABC.

A internet é um meio útil para fazer com que a corrente do bem dê certo. A norte-america Kirti Dwivedi, 33, salvou a vida da mãe Anu, 61, ao achar uma doadora de rim em apenas três meses após fazer um apelo pelo Facebook. Se não desse certo, pelo menos educaríamos as pessoas sobre doação", explicou Kirti. Resultado? Uma desconhecida era compatível e doou o rim. Kirti decidiu manter a história no Face e criou o www.tinyfabkidney.com para fornecer informações e servir como banco de dados de possíveis doadores.

Mesmo após a morte, é possível ajudar. Um doador pode salvar ou melhorar a vida de 25 pessoas. Córneas, pulmões, coração, ossos, rins, pâncreas, fígado, intestino, pele, entre outras partes, podem ser implantadas em outro organismo. Ao ser constatada morte cerebral - após vários exames -, a família é consultada e, se for autorizado, o processo começa. Quer ser doador? O único jeito é avisar sua família.

 

A lista de Alice - Imagine ter 15 anos e saber que não vai viver mais por muito tempo. O que você faria? Semana passada, a britânica Alice Pyne, com linfoma há quatro anos, resolveu criar o blog http://alicepyne.blogspot.com e uma lista do que gostaria de realizar antes de morrer. "O câncer está me vencendo e não parece que eu vou ganhar esta. É uma pena, porque há tanta coisa que eu ainda queria fazer", escreveu.

A lista tem 17 itens - entre nadar com tubarões, ter festa no cinema com as amigas, receber massagem nas costas - e, segundo ela, o mais importante: conseguir doadores voluntários de medula óssea. Após ouvir a história, até David Cameron, primeiro-ministro britânico, prometeu se tornar doador. Ela também já conseguiu milhares de libras para ajudar uma ONG que faz pesquisas sobre câncer.

Alice recebe milhares de comentários todos os dias e pessoas que oferecem ajuda para que a garota realize os desejos. Ela já conseguiu um deles: conhecer a banda Take That. "Foi o dia mais feliz da minha vida. Sinto-me uma garota de muita sorte", diz a menina, que completa: "Você só tem uma vida ... viva a vida".

 

O que é preciso para doar

SANGUE

Quem pode? É preciso ter de 16 (menor de 18 com autorização dos pais) a 67 anos, pesar no mínimo 50 kg e boa saúde.

Restrições - Não pode estar grávida, usar drogas nem ter feito piercing na boca e/ou região genital e tatuagem nos últimos 12 meses. Também não pode ter qualquer doença transmissível pelo sangue, como hepatite, aids, sífilis, entre outras. Não pode ser epilético, diabético, ter anemia ou contraído malária.

Na doação - Não pode ter tomado bebida alcoólica nas 24 horas anteriores e precisa ter dormido pelo menos seis horas. Deve levar o RG.

Como é? Após cadastro, passa por rápido exame de sangue e o voluntário é levado a uma sala para responder a um questionário. O sangue é coletado. São cerca de 450 ml. Demora poucos minutos.

Onde fazer? Hospitais que fazem coleta e hemocentros. Em Santo André, no Centro Hospitalar (4433-3718) e Hospital Mário Covas (2829-5000); em São Bernardo, no Hemocentro Regional (4332-3900); em São Caetano, no Centro Dr. Agnaldo Quaresma (4227-1083).

 

MEDULA

Quem pode? Quem tem de 18 a 54 anos e boa saúde.

Como é feito? Basta realizar o cadastro e coletar pequena quantidade de sangue. Os dados e a tipagem sanguínea ficam no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea, o Redome.

E se for compatível? O doador é chamado e tem a opção de querer doar ou não. Se aceitar, novos testes sanguíneos são realizados para a confirmar a compatibilidade. Se der certo, o resultado é encaminhado ao centro transplantador e é lançada a possível data do procedimento. Ao ser confirmada, são realizados mais exames clínicos, laboratoriais e de imagens do doador. Há duas formas de doar as células: coleta diretamente na região do osso da bacia ou como se fosse doação de sangue, que passa por uma máquina de aférese.

Onde fazer? Casa de Misericórdia de São Paulo (Rua Marquês de Itu, 579, em São Paulo), de segunda a sexta, das 7h às 18h, sábados das 7h às 15h. Informações: 2176-7000 ramal 7249.

 

TEM MAIS

1 em cada 100 mil, em média, é a chance de encontrar um doador compatível de medula óssea no Brasil

A cada dois segundos, um paciente precisa de transfusão de sangue no Brasil. Três é o número de vida salvas em cada doação

2% dos brasileiros são doadores de sangue. O volume coletado chega a 3,5 milhões de bolsas. A meta para 2012 é 4 milhões

1.200 brasileiros aguardam receber medula óssea. Com 2,2 milhões de inscritos como doadores, o Brasil ocupa o terceiro lugar, atrás dos EUA e Alemanha

TIRE SUAS DÚVIDAS:

Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) e Doação de Sangue:  www.inca.gov.br

Ameo (Associação da Medula Óssea): www.ameo.org.br

SBTMO (Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea): www.sbtmo.org.br

Fundação Pró-Sangue: www.prosangue.sp.gov.br

Veia Social (Rede de doadores e receptores de sangue): www.veiasocial.com.br




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