Os restos das bombas de gás lacrimogêneo largadas pelo chão reavivam na memória dos moradores do Parque São Bernardo as imagens da batalha campal da véspera, quando policiais militares, guardas-civis municipais e manifestantes se enfrentaram após sucessão de erros ocorrida em ação para desapropriar área ocupada por cerca de 70 famílias.
Se na véspera o cenário era de guerra, ontem descortinou-se a imagem real de um ponto esquecido pela administração pública e no qual famílias inteiras tentam sobreviver, mesmo que tenham de superar falta de condições mínimas de habitação, como saneamento básico e coleta de lixo inexistentes ou esgoto que serpenteia a céu aberto pelas ruas e invade os barracos.
O Parque São Bernardo, como disse um morador à equipe de reportagem deste Diário, é lembrado pela classe política somente no período de campanha eleitoral e, posteriormente ao pleito, rapidamente condenado ao esquecimento.
Um dia após o conflito, lamentações e vontade de recomeçar a vida dominavam as conversas. Barracos que, segundo a administração municipal, estavam desocupados, viraram montes de entulho. Pessoas, que desmentem a versão oficial, se aninhavam em espaços cedidos por vizinhos e, da forma que era possível, tentavam encontrar forças para superar mais um infortúnio.
Este jornal tem consciência de que invadir é ato ilegal e passa longe de ser solução para o problema da habitação. Tema que foi escancarado em primorosa reportagem no domingo e que revela a existência de 100.062 famílias em situação precária de moradia nas cidades do Grande ABC.
Entretanto, também não é conivente com ações pautadas pela truculência ou violação de direitos. Antes de derrubar o que foi erguido com toda a sorte de sacrifícios, o Poder Executivo deveria ter notificado aqueles que ali estavam. Documento de reintegração de posse não pode, jamais, ser substituído por disparos.
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