Automóveis Titulo
Coincidências
Marcelo Monegato
Do Diário do Grande ABC
18/08/2010 | 07:02
Compartilhar notícia


Foto: Divulgação

Fantástico como as histórias de carros antigos e pessoas comuns se encontram pelas esquinas. Não raramente ouvimos em rodas de admiradores dessas máquinas fabulosas fatos inusitados - engraçados, tristes ou apenas curiosos - que mais parecem fábulas. José Antonio Finco, 57 anos, e o Packard 1937 que o digam...

Nascido em Guapiaçú (SP), mas morador de Santo André desde 1962, Finco, mais conhecido como Zelão, sempre foi admirador das raridades sobre rodas. Proprietário de uma oficina de funilaria e pintura no Jardim Bom Pastor, sempre teve ao menos um antigo para rodar por ai. Mas hoje, um em especial tem espaço garantido na garagem: O Packard 120 (One-Twenty) Club Sedan quatro portas verde de 1937 - único no País, ate onde sabemos.

"Minha história com ele é bastante inusitada. A primeira vez que o vi foi em 1984, dentro de um galpão em um sítio em Ilha Bela, Litoral de São Paulo. Estava completamente abandonado, empoeirado e sem funcionar", lembra o simpático , que foi até o local passar o fim de semana no sítio dos avós de um coleguinha de seu filho. "Claro que fiquei imediatamente interessado."

Durante todo o fim de semana, em longas e agradáveis conversas com Ubirajara, proprietário do Packard, Zelão descobriu que o modelo veio importado dos Estados Unidos em 1939. Entre 1942 e 1945, por medo da Segunda Guerra Mundial e de ter o veículo tomado, o clássico ficou sobre um cavalete. A dianteira foi toda desmontada e a suspensão enterrada.

Passado o período turbulento, ele foi remontado e voltou às ruas. Guerreiro, fazia de Moema (Zona Norte de São Paulo) a Ilha Bela em oito horas. "Chegaram a fazer em 12 horas. Grandes aventuras."

O fim de semana passou, e mais de 20 anos se seguiram sem que Zelão e o Packard se reencontrassem. Até que em 2005, seu filho, já casado, encontrou no antigo Mappin - hoje Shopping ABC - o amiguinho do sítio de Ilha Bela. Papo vai, papo vem, até que ele descobre que Ubirajara estava vendendo o clássico e que ele estava encostado em um galpão no bairro de Santa Terezinha, Santo André. "Meu filho me ligou passando o telefone do proprietário. Entrei em contato logo em seguida", conta.

"E olha como são as coisas. Por telefone, perguntei se poderia ir conversar pessoalmente. Quando Ubirajara falou o bairro, percebi que era o mesmo que o meu. Quando disse a rua, estranhei, pois era a mesma que a minha. Ao revelar o número, a coincidência: o senhor Ubirajara morava na outra esquina, menos de 50 m da minha casa!"

Mesmo sem saber o estado do Packard e quanto iria desembolsar para tê-lo, Zelão mesmo bateu o martelo e fechou negócio. "Eu disse: ‘O carro é meu. Não sei quanto o senhor vai cobrar, mas vou ficar com ele. Se quiser um sinal, dou agora'. E assim, finalmente, o comprei", detalha orgulhoso e com brilho nos olhos.

RESTAURAÇÃO
Zelão levou o mais novo xodó para a garagem de sua casa na plataforma. "Desmontei ele completamente. Refiz toda a parte de funilaria e pintura - pendurei as peças na parede para secar a tinta - , retrabalhei toda a parte do chassis e carroceria (estrutura toda de madeira, assim como o painel central e pequenos detalhes nas janelas das portas)", explica. "O motor de oito cilindros em linha de 120 HP também remontei ele inteirinho e coloquei para funcionar. Em 2008, quando começou a rodar, já tinha placa preta", completa Zelão, ressaltando que parte das peças foram importadas dos Estados Unidos, já que não eram encontradas por aqui.

"Atualmente vou nos encontros dirigindo ele. Minha esposa e eu já viajamos a várias cidades do interior de São Paulo. Tomo alguns cuidados, claro. Não passo dos 80 km/h e sempre fico a uma distância segura do carro da frente, já que o sistema de freio é duro e o carro pesado. Na garagem, fica sempre coberto. Inclusive os pneus. E apenas eu dirijo, pois ele tem algumas particularidades. A primeira marcha - transmissão só tem três, mais a ré - é canela seca. Se tentar engatar com ele em movimento, pode arranhar."

Causos com o Packard, Zelão tem vários. Mas ficam para uma próxima. Talvez em um encontro, por coincidência, em uma esquina qualquer.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;