Dez cantores nordestinos trazem para Diadema, amanhã, a arte do repente. O lugar escolhido para o 2º Encontro de Repentistas do Nordeste, com entrada franca, é novamente o Teatro Clara Nunes. Além de promover a cultura popular, o evento comemora o Dia do Poeta Cordelista e do Repentista (15 de agosto), instituído na cidade no ano passado.

Divididos em duplas, Evanildo Pereira, Orlando Dias, Sebastião da Silva, Moacir Lorentino, Valdir Teles, João Paraibano, Manoel Ferreira, Pedro de Alcântara, Manoel Sola e Alceu José sobem ao palco para apresentar, ao som do violão, suas competências em sextilhas, mote em sete e em dez sílabas.

Diferente da maioria dos festivais do gênero, o encontro não contará com comissão julgadora. "Queremos dar um ar de espetáculo, por isso optamos por eliminar qualquer tipo de competição. Só teremos ganhadores", explica Moreira de Acopiara, cordelista organizador do evento.

De Dia dos Pais a eleições, vale tudo para desafiar o artista, que recebe o tema do repente segundos antes da apresentação. "O locutor entrega um papel na hora que subimos ao palco e a gente tem que improvisar", conta o pernambucano Valdir Teles.

Com 30 anos de estrada, o poeta popular presenciou o crescimento da cantoria no Sudeste. "Era uma manifestação rural que hoje se elitizou, passando para os grandes centros", diz. Tamanho é o sucesso do repente por aqui que ele garante não dar conta dos convites que recebe de universidades, teatros e escolas. "Minha agenda já está lotada até novembro".

Para Acopiara, a ascensão desse tipo de manifestação cultural se deve à fidelidade do público, constituído sobretudo por nordestinos. "Acredito que 90% do público que sempre nos acompanha nasceu ou tem pais nascidos no Nordeste", ilustra.

Não à toa, a dureza da vida no sertão é tema recorrente nas cantorias. Foi em meio às dificuldades da pacata São José do Egito (PE), conhecida como terra dos faraós do repente, que Teles ensaiou seus primeiros versos. "O ser humano é produto do meio. Cresci ouvindo grandes nomes como Lourival Batista e João Patriota, além de um tio que também é repentista, até que também me descobri poeta", revela. Para provar que a tradição é passada de geração para geração, dois de seus quatro filhos também escolheram viver da arte.

2º Encontro de Repentistas do Nordeste - Festival. Amanhã, às 17h. No Teatro Clara Nunes - Rua Graciosa, 300, Diadema. Tel: 4056-3366. Entrada franca.